ainda no verão, depois do ensino médio.
foi quando a conheci...
ela era linda.
seu cabelo era ruivo, seus olhos castanhos e seus lábios sempre com um batom vermelho.
ela sempre usava as suas roupas curtas e bonitas.
sempre tinha que ser o vermelho.
ela era conhecida por:
Cheryl Blossom, a rainha do vermelho.
ela era como uma chama de fogo e eu era como um balde d'água.
ela, sempre era o centro das atenções, sempre estava radiante e quente.
eu, estava sempre sozinha, quieta e fria.
ela podia ser rígida, rancorosa e as vezes, até má.
mas com muito esforço e força de querer, conseguimos nos encaixar no mundo uma da outra.
foi difícil, não nos gostávamos.
uma vez, ela me perguntou:
"oh, Antoniette. por que tão fria e sozinha?"
e eu a respondi:
"ou você é ruim demais, e machuca os sentimentos das pessoas, ou você é boa demais, e deixa que machuquem os seus sentimentos".
foi aí, que ela tentou entender mais sobre mim.
uma vez, eu a perguntei:
"oh, Cheryl. por que você quer sempre ser a abelha rainha?"
e ela respondeu-me:
"quanto mais você demonstra estar triste, mais as pessoas demonstram dó por você. eu não quero a pena das pessoas, eu quero o respeito delas".
foi aí, que eu tentei entender mais sobre ela.
aos poucos, aquela grande Marjorie, rancorosa, quente e radiante. foi se tornando uma Marjorie calma, sentimental e sozinha.
e aos poucos, aquela pequena Topázio, sozinha, quieta e fria. foi se tornando mais fria, sozinha e quieta.
nós duas nos entendíamos.
nós duas nos queríamos.
nós duas nos amávamos.
no seu aniversário de dezoito anos, nós fizemos uma tatuagem juntas.
a minha dizia:
"você pode ser uma pessoa aberta, mas..."
e a dela dizia:
"...você sempre vai ter uma parte fria".
ao lado da minha frase, havia uma gota d'água.
ao lado da dela, havia uma pequena chama de fogo.
assim, nunca iríamos nos esquecer.
dito certo.
nós sempre pegávamos bebidas dos meus pais e íamos para o meu quarto.
ficávamos trancadas, bebendo, conversando e rindo.
ela era a minha garota.
eu era a sua garota.
éramos uma da outra.
de mais ninguém.
até que,
uma vez, ela resolveu tomar uma briga que não era dela.
para salvar a minha vida.
"boo", ela havia o matado.
tínhamos que esconder o corpo, não tinha jeito.
mas não ficou escondido para sempre.
tentei levar a culpa,
mas ela não deixou.
ela foi levada.
arrancada de mim...
dez anos.
foi o tempo que ela ficou.
eu ia vê-la todos os dias.
mas, um dia.
eu tive que parar de ir.
oito anos.
foi o tempo que eu fiquei vendo-a.
em um ano.
eu já estava me esgotando.
em menos de dois anos.
a ruiva saiu de lá.
nos tornamos as mesmas de antes, mas em opostos corpos.
eu, Antoniette Topaz, era o centro das atenções, radiante e quente.
ela, Cheryl Marjorie Blossom, sozinha, quieta e fria.
sete anos.
foi o tempo que levou para nos reencontrarmos.
ela, uma pintora.
eu, uma fotógrafa.
não trocamos palavras.
não trocamos olhares.
hoje, não nos conhecemos.
somos diferentes.
mas nos amamos eternamente.
ela, para sempre, a minha pequena chama de fogo.
eu, para sempre, a sua pequena gota d'água.
ainda no inverno, depois da faculdade.