Harry estava cansado.
Manipulado a vida inteira? É.
Voltar no tempo e reviver tudo o que passou? Também.
Se apaixonar pelo seu suposto inimigo mortal? Adicione isso ao carrinho.
Mas ninguém nunca pensou, nem por um segundo, que isso era demais para alguém suportar? Ele não queria ser bonito, ele não queria vingança, ele não queria o amor. Quando teve aquele teste em mãos, tudo que queria era se esconder de volta no seu armário debaixo da escada.
Entretanto, mesmo supostamente livre, as coisas nunca seriam da forma que gostaria.
Não podia respirar, foi pressionado a entrar numa jornada de vingança e jogos políticos que nunca quis em sua vida, encarar as pessoas que amava e ainda sim ter que desprezá-las. Ninguém deu tempo para seu luto.
Sim, luto.
As pessoas que amou estavam mortas para ele no momento que viu as palavras naquele papel estúpido. Ou melhor, elas deveriam estar, mas o assombravam como zumbis e, por deus, como poderia olhar em seus rostos e não se lembrar de tudo que passaram juntos? Os bons e maus momentos, como poderia varrer todas as risadas e noites passadas até tarde conversando sobre qualquer besteira para debaixo do tapete?
Mas, não importa o que fosse, ele tinha que permanecer forte, ser o herói, não importava o lado que estivesse.
Estava livre, sim, mas porque se sentia muito mais como uma peça de xadrez do que antes?
Estava no controle, sim, mas realmente queria aquele peso em suas costas?
Queria apenas voltar a ser criança, nos seus onze anos, visitando o beco diagonal pela primeira vez. Queria aquele sentimento de verdadeira liberdade de volta, a sensação de poder fazer tudo e mais um pouco.
Queria poder abraçar o menininho que ficava no armário debaixo da escada e dizer que tudo ficaria bem, que não haveria sofrimento, que iria cuidar de tudo. Queria dar uma vida boa, um mundo bom, para aquele Harry.
Queria que ele tivesse uma família, mas a única que encontrou aparentemente foi a maior mentira de sua vida.
Era tão ruim assim desejar que nunca tivesse feito aquele teste e descoberto tudo isso? Era tão ruim querer viver naquela mentira para sempre? Mesmo que levasse a sua morte, mesmo que eles apenas estivessem se aproveitando de si, mesmo que nada fosse real, realmente importava?
Ele era apenas um garoto.
Um garotinho, órfão, que morava no armário debaixo da escada, brincava com soldadinhos quebrados e às vezes fazia algumas coisas inexplicáveis que deixavam seu tio bravo.
Ele era o Harry, apenas o Harry.
Não era um gênio, não era brilhante, não era um Lord, não era vingativo, não almejava dinheiro, não almejava poder, não queria ser famoso, não queria ter que lutar.
Ele só queria um pouco de... amor.
Não o amor luxurioso e quente que Tom tinha para oferecer, não queria esse amor que o deixava com borboletas no estômago e de bochechas quentinhas. Nunca quis esse amor. Queria o amor que dava paz, o que cuidaria do pequeno Harry com zelo, o que seria casa.
Mas, mesmo livre, ele nunca veio.
Mas, mesmo livre, nunca teve tempo.
Para encontrar esse amor, para o luto, para cuidar do Harry, apenas Harry.
Não queria salvar o mundo, derrotar o grande homem malvado e viver o romance do século. Queria apenas poder salvar a si mesmo, derrotar os seus demônios e aprender a amar antes de tentar amar os outros.
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healing
Fanfiction• Cura substantivo 3. figurado (sentido) melhora, remédio, solução. Harry descobre que foi traído e enganado durante sua vida toda, mas e agora? Nem tudo é resolvido com uma volta ao passado e uma rodada de vingança. As vezes, é preciso de um po...