Assim que contemplou o seu trabalho com nostalgia, ela deixou que um suspiro baixinho escapasse de seus lábios.
Estava de volta à casa da cidade, e encarava o jardim que ela tanto se dedicou… Que, de certa forma, foi sua válvula de escape num momento crítico.
Elain levou uma mão até o peito e apertou os lábios. Às vezes as lembranças daquele luto em vida, a corroía quase que fisicamente. Entretanto, não tinha sido apenas aquele pequeno jardim que a manteve um tanto afastada da sua dor. E reconhecer isso… Sentir aquilo agora, não era reconfortante. Não depois do que viu mais cedo, na casa do vento, quando decidiu deixar alguns pães para a irmã enquanto a mesma treinava com as valquírias.
Elain sequer foi notada. Já fazia um bom tempo que conseguia sair e chegar, sem que sua presença ou ausência fosse notada. O tempo que passava com as gêmeas, de fato, estava sendo proveitoso e ela se sentia grata por isso.
Tinha orgulho de quem Nestha havia se tornado. Estava imensamente feliz por ter encontrado o seu lugar, assim como Feyre. Muito embora fosse solitário na maior parte dos dias. Elain não queria se sentir assim ao ver que suas irmãs tinham, finalmente, achado um lugar nesse mundo. Não quando elas mereciam tanto aquela felicidade.
Mas não era por se sentir sozinha que estava ali.
Queria mesmo estar sozinha naquele momento. Ou então enlouqueceria com a mente barulhenta.
Desde que saiu da casa do vento não parou de pensar no que viu. Quando reconheceu o colar no pescoço daquela sacerdotisa, Elain sentiu o estômago afundar. As mãos começaram a suar, e apenas largou os pães em qualquer lugar e correu. Mesmo sabendo que só conseguiria sair daquela casa voando com alguém. Mesmo sabendo que Cassian não estava ali. E mesmo sabendo que a única pessoa disponível para levá-la de volta, era quem ela menos queria ver naquele momento.
— Elain. — Chamou baixinho.
No mesmo instante ela cogitou se jogar ali de cima. Por que diabos a voz dele tinha que soar como uma carícia?
Ela fechu os olhos e mordeu o lábio inferior antes de virar. Não queria encará-lo. E por isso manteve os olhos nos próprios pés. Não queria que ele soubesse que ela tinha se incomodado com o fato dele ter dado o colar para outra, e não jogado fora como ela imaginou. Só queria fugir dali. Da sua presença imponente. Da sua calma tentadora. Do seu olhar que parecia despi-la sempre que percorria seu corpo.
E, céus, como ela queria que ele fizesse isso. Como ela fantasiava com isso, na calada da noite, sentindo seu núcleo apertar dolorosamente sempre que lembrava daquele olhar. Dor essa, que só conseguia amenizar se tocando, imaginando que eram as mãos dele.
Exalou baixinho e tentou afastar aqueles pensamentos.
Azriel a deixava fraca. A deixava tonta. Mas a sua rejeição havia deixado uma mágoa quase insuportável em seu peito. Odiava admitir.
— Elain, olhe para mim. — Sussurrou, aproximando-se cada vez mais dela. Trazendo consigo o seu cheiro. E ela de repente quis ficar na ponta dos pés e puxá-lo pelo pescoço. Enterrar o rosto bem ali, na curva, e inalar tudinho, até sentir que aquela maldita dor, que ele mesmo causou, pudesse se dissipar do seu corpo.
Era ridículo como a dor que ela sentia só podia ser tirada pela pessoa que havia causado. Por aquele homem. E isso a assustava.
Azriel estava muito perto. 30 centímetros os separavam agora, e ela respirava com muita dificuldade. O peito subia e descia, e não conseguia controlar os batimentos do próprio coração.
O que diria? Que estava morrendo de ciúmes por ver o presente que, antes era seu, no pescoço de outra? Isso soaria, no mínimo, muito patético. Mesmo sabendo que não tinha motivos para se sentir assim, já que foi ele quem a rejeitou.
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Against all odds
FanfictionQuando todos pensavam que o caldeirão havia tomado sua sanidade, e pisavam em ovos para falar com ela, Azriel a enxergava. Ele a compreendia. Fazia diminuir aquela sensação de que não pertencia a lugar nenhum. Quase como se... Ele pudesse ser o seu...