único.

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Oi. Feliz aniversário, chaengirlx. Cada palavra disso foi escrita pensando em você, em mim e em nós. Obrigada por ser para mim o mesmo que o Naruto sempre foi para o Sasuke, pelos anos sendo a pessoa mais especial do mundo, por ser a luz da minha vida, por me amar e por me apoiar em tudo (mesmo nas besteiras). Eu te amo, alma gêmea. Até o infinito ser finito, até as estrelas perderem o brilho, até a inexistência. Boa leitura <3

☁️

O mundo é uma roda que gira conforme os sentimentos de seus residentes.

Quando as pessoas no mundo estão tristes, parte do brilho dele começa a se apagar, obscurecido pelas sombras de tantos sentimentos negativos unidos em um único plano terrestre. O mundo é uma roda de sentimentos que se move às sensações, e o coração de Sasuke também.

Haviam dias em que Sasuke ficava daquela forma: em silêncio, os olhos vazios enquanto observava as coisas, com muitas palavras entaladas na garganta, mas sem um único resquício de coragem para dizê-las e sem saber como dizê-las. Eram os dias em que saía do quarto muito cedo e se sentava entre as flores do pequeno jardim que cercava a casinha onde morava, deixando-se inebriar pelo aroma doce e pela brisa fresca.

Sasuke nunca soube explicar os motivos que o levavam a ficar daquela forma. Não era uma tristeza depressiva ou um vazio feroz o que lhe acometia nestes dias, era simples e puramente um sentimento de inexistência. Era se levantar e repentinamente perceber que o mundo era um ciclo interminável e chato de coisas intermináveis e chatas; um ciclo do qual, se pudesse, escolheria não fazer parte.

Era feliz. Realmente era feliz. Não havia nada em sua vida que fosse particularmente triste ao ponto de deixá-lo em estado de angústia. Em contrapartida, havia muitas coisas em sua vida que o deixavam imensamente alegre. Ainda assim, sempre havia este pequeno pensamento em sua cabeça: você realmente é feliz?

O que traz felicidade, afinal de contas? Paz interior? Satisfação pessoal? Estabilidade financeira? Amor? Talvez todas essas coisas tragam a legítima felicidade, ainda mais se estiverem juntas. Em seu caso, estavam. Tinha todas elas — sentia que possuía tudo e nada ao mesmo tempo.

Quando dias assim chegavam, era como se o mundo se tornasse um completo quadro em branco, nada como as lindas pinceladas feitas ao estilo abstrato, excêntrico e peculiarmente encantador de Vincent van Gogh. Talvez nem as pinturas de van Gogh pudessem fazer jus ao mundo quando ele se tornava tão vazio para Sasuke, pois havia beleza na melancolia das obras do holandês, e agora... agora não havia nada no mundo. Nem beleza, nem melancolia. Nada. Nenhum sentimento. Era apenas inexistente.

O vazio e a dor, Sasuke pensava, eram melhores que a inexistência. Uma pessoa pode andar com a alma vazia, mesmo que se perca no meio do caminho. Uma pessoa pode viver com a dor, mesmo que queira se libertar dela em algum momento. Mas uma pessoa não pode conviver com a inexistência, porque se ela existe, nada existe.

O nada, Sasuke sabe, é o que mais dói. O nada fazia com que olhasse para o céu e não visse beleza nele, mesmo sendo a maior obra de arte que o mundo criara. O nada fazia com que o cheiro das flores não lhe despertasse sensação alguma, mesmo estando com os pulmões cheios de fragrâncias florais. O nada fazia com que olhasse para si mesmo e não visse nada. O nada, em toda a sua plenitude, transformava o mundo em algo meramente ilusório, um projeto quimérico que em alguns bilhões de anos desapareceria sem deixar legado algum para trás.

Tudo parecia efêmero, mas tudo parecia duradouro. A bagunça do mundo o exauria; às vezes, Sasuke desejava se entregar à inexistência iminente que o aguardava e se deixar levar por ela. Talvez seja apenas pulando no buraco negro que se possa encontrar a verdadeira luz — talvez seja necessário se reduzir ao branco do vazio para poder explodir em cores.

Ou talvez seu quadro em branco só precise de um pouco de amarelo para que tudo fique bem.

— Acordou cedo — uma voz angelical soou à sua direta, mas isso não o fez mover um único músculo. Continuou ali: sentado, observando, pensando.

Sentiu quando a pessoa delicadamente se sentou ao lado dele, quando ela o puxou para que deitasse a cabeça em um colo cálido, quando dedos carinhosos se enredaram em seus cabelos para acariciá-los; sabia que a pessoa estava sorrindo com ternura, por mais que seus olhos agora fechados o impedissem de ver. Sabia quem era, pois conhecia o cheiro, o toque e todas as cores que compunham a pessoa brilhante agora ao seu lado.

Então, pela primeira vez no dia, relaxou. Permitiu que todos os pensamentos fizessem uma pausa e cessassem, permitiu que o vazio parasse de gritar tão alto dentro de sua cabeça. Permitiu-se apenas relaxar.

Por um momento, tudo ficou em silêncio. Não um silêncio tenso que precede dias de tempestade, tampouco um silêncio ensurdecedor, apenas silêncio. Era um silêncio de paz que em sua totalidade se assemelhava ao nirvana: sereno, onde a roda do mundo começou a girar novamente, sentimentos começaram a vagar por seu corpo outra vez e o branco do mundo finalmente começou a se encher de novas cores.

Foi um silêncio para tornar o inexistente algo existente, para seu coração se afastar da beira do abismo infinito em que tentara se jogar e recuar direto para os braços do homem que amava, onde estaria seguro e nunca mais vazio.

Sasuke abriu os olhos. Naruto ainda sorria com amor para ele, o brilho do próprio sol tornando-se opaco diante daquele sorriso, daquela aura e daquela pessoa. Tudo em Naruto tinha cor, cada tom mais vibrante que o outro; era um ser tão cheio de luz que, em meio à beleza de seus traços, nem mesmo Edvard Munch conseguiria encontrar angústia a ser expressa.

Naruto era a junção de todas as coisas boas daquele mundo, a única coisa que não girava segundo a roda dos sentimentos, a única coisa que fugia do ciclo. Naruto era livre; era bagunçado e selvagem, e sua ferocidade não perdia para o vazio. Naruto não se rendia ao buraco negro, ele o coloria como uma criança que acabara de ganhar dezenas de lápis de cor.

Naruto era como as latas de tinta que se jogavam por conta própria em seu quadro em branco, um carrasco gentil e travesso que não permitia que apenas uma cor tivesse destaque quando existiam tantas outras para serem usadas.

Naruto era...

— Bom dia, querido. Eu te amo.

Sasuke sorriu. Fechou os olhos novamente, segurando a mão da pessoa que mais amava no mundo e levando-a aos lábios para beijá-la com doçura.

— Bom dia, minha luz — respondeu ele, mais um beijo sendo tecido na linda mão de seu esposo, ato que arrancara do belo e cintilante homem uma risada encantada. — Eu te amo.

Sasuke o amava. Naruto era seu sol, Naruto era seu universo, Naruto era todas as suas estrelas e galáxias. Era por Naruto que Sasuke sustentaria o céu nos ombros se necessário fosse, apenas porque queria ter o prazer de vê-lo voar. Era por Naruto que Sasuke amava e era por Naruto que Sasuke persistia em cada respiração. Naruto era a brisa fresca de um dia ensolarado, era as ondas agitadas de um oceano pacífico, era a beleza da natureza e a bondade da Terra. Naruto era vida, paz, alegria, felicidade e cor.

Naruto era amor.

Naruto era a existência que preenchia a sua inexistência. 

(in)existência | sasunaruOnde histórias criam vida. Descubra agora