Tudo por poder

Capítulo 3

Chiara Branchessi

📍 Londres, Inglaterra.

Há 3 dias cheguei em Londres, minha cidade do coração, onde nasci e cresci. Não está sendo fácil encarar vovô dizendo a todo o momento que meu casamento está chegando, não foi fácil voltar pra realidade, não está sendo fácil assimilar que esse momento havia chegado, não quero acreditar que terei que me casar com aquele indecente e absurdamente arrogante.
Estou sentada na sacada do meu quarto, olhando o grande jardim da casa dos meus avós, e me lembrando de como corria atrás do papai por ele. Lembranças de uma época feliz. Quando papai morreu, eu e mamãe viemos morar aqui com eles, foi um momento de dificuldades para mim, ter que lidar com o luto pela perde do meu pai, e ao mesmo tempo com minha mãe me ignorando por completo.

Mamãe e vovô me cobravam muito, para eles eu tinha que ser a mais magra, linda e esbelta não só do colégio, como também das meninas da máfia, por isso convivi com a anorexia dos meus 11 até meus 18 anos, tudo isso era para o meu bem (segundo eles), para que eu pudesse me casar bem. Mamãe me colocou em aulas de balé, academia, pilates, natação, dança e até de esgrima. E por intromissão dela, hoje sou fluente em 5 línguas (mandarim, espanhol, alemão, russo e italiano). Também passei por uma plástica no nariz aos 17 anos, pois Lyanna o achava feio, ela fazia questão de controlar tudo isso, fazia questão de fuder com o meu psicológico.
Já o meu avô, após a morte de papai, viu em mim uma esperança para ele e para nossa família ou melhor para a máfia dele, ele me controlava e me apresentava a quem, segundo ele, tinha o perfil para entrar pra família e ser digno de casar com uma Branchessi. E foi assim, que fui obrigada a me casar com Filippo Luccato, ou melhor o abominável, no momento que soube eu queria fugir, e eu tentei, mas não fui muito longe. Em minhas lembranças só o tinha visto uma vez na vida, mas escutava comentários nas reuniões do círculo das mulheres do clã, todas diziam que ele era terrível, o demônio encarnado na terra, fazia crueldades com seus inimigos, não demonstrava compaixão e nem um sinal de amor por ninguém, somente por sua máfia, mas que era um Deus grego na terra, mas o que adianta ser lindo por fora e ser podre por dentro?

O homem era totalmente o oposto de Matteo, o meu namorado na época, o garoto que eu amava com todas as minhas forças, o meu primeiro em tudo, estávamos prontos para assumir para minha família, estava tudo dando certo, mas assim que meu vô disse que estava noiva de Fillipo, eu fui covarde e o deixei, na intenção de que estaria fazendo o bem para ele,  parti o seu coração, eu sofri muito e tenho certeza que ele sofreu mais ainda. Mas não podia carregar a culpa se caso algo ocorresse com ele.
Eu tentei me livrar de Filippo, achei que indo para os Estados Unidos e aprontando todas lá ele desistiria de mim, mas pelo contrário, ele não desistiu.

Me levanto e caminho em direção ao grande espelho do closet, observo a minha feição, meu corpo, estou aqui há 3 dias só, e meus gatilhos já começaram a aparecer, me sinto gorda e inchada, fazia anos que não me sentia assim, vou ter que voltar a uma rotina pesada de treinos e regimes, para entrar no vestido de noiva.
Sou dispersa dos meus pensamentos por vovó que entra no quarto e já vai adentrando o closet, não me dando tempo de disfarçar o que estava fazendo.
"Meu amor o que foi?" Ela me encara preocupada
"Nada vovó." A olho, abaixando depressa a minha blusa.
"Querida, eu sei o que está passando nessa cabecinha linda. Você está perfeita meu amor, lindíssima como sempre foi. Não deixe esse ambiente ti sugar, por favor."
Abraço minha avó, ela era a única nessa casa que me entendia, me consolava e me apoiava, não sei o que farei sem ela quando me mudar pra Palermo.
"Agora vamos comer aquele bolo de chocolate que você ama, a vovó fez pra você, vamos fazer a tarde das meninas, se lembra?" Diz ela me puxando.
"Sim vovó, então vamos meu amor." Digo a abraçando e caminhando rumo a cozinha.