Começo?

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Peter tentava seguir em frente, mas isso ainda era complicado. Primeiro, ele estava sozinho, sem família, amigos, sem MJ, sem Ned, sem sua melhor amiga Kate Bishop e, sem... Tony ou May.
Segundo, ir para um lugar novo, onde não tinha ninguém que conhecesse ou que se lembrasse dele, era difícil. Não tinha um emprego que pudesse sustentá-lo, nem um lugar para morar. Contudo, o que foi mais difícil para ele foi seu primeiro dia na faculdade. Ele estava sentado no fundo da sala, olhando para a porta, quando, por ela, Kate Bishop passou com uma mochila roxa nas costas e um sorriso gentil nos lábios. Mas o brilho que antes tinha em seus olhos castanhos claros, quase verdes, desaparecera, deixando-os escuros e tristes. Isso fez o ar faltar nos pulmões de Peter, e uma angústia surgiu em seu peito. Ele pensou que deveria estar ao lado de Kate naquele momento difícil da vida dela, já que agora ela também não tinha mais ninguém. Porém, não podia estar, já que, para Kate, Peter nunca existiu. Para ela, ele era apenas um desconhecido.
Peter abaixou a cabeça e olhou para o braço esquerdo, onde havia uma pulseira de prata com um pingente em formato de uma pequena aranha, que Kate lhe dera em seu último aniversário.

— Bom dia, classe! Eu vou ser o professor de Economia de vocês, então abram na página...

Com um suspiro longo, Peter pegou seu livro e abriu na página indicada. Tentou ao máximo prestar atenção na aula, mas isso foi impossível. Sua mente sempre voltava ao fatídico dia em que sua vida virou de cabeça para baixo: o feitiço do Dr. Estranho, a morte da tia May, o encontro com os outros Peters Parkers... e quando todos o esqueceram. Seu olhar se voltou para Kate, que anotava algo no caderno. O sinal indicando o final da aula tocou, e todos se levantaram, arrumaram suas coisas e foram embora para suas próximas aulas. E assim as semanas se passaram, monótonas, sem nenhuma agitação.
Ao anoitecer, Peter se sentava no prédio mais alto de Nova York e observava a cidade que nunca dormia brilhar em cores vibrantes, vigiando para ajudar quem quer que precisasse do Homem-Aranha. Ele fazia isso todas as noites e, de madrugada, voltava para seu pequeno apartamento para começar um novo dia de aula.

Peter estava com pressa, tinha dormido demais novamente e estava atrasado para sua primeira aula do dia. Estava com tanta pressa que não percebeu que, na direção oposta, uma garota de cabelos negros como a noite tentava ler alguns papéis enquanto andava. Ambos acabaram colidindo, o que causou uma chuva de papéis e livros ao redor deles, os deixando sentados no chão.

— Ahh, m-me desculpa, eu não estava prestando atenção — disse Kate, olhando para Peter. Quando percebeu que ele também a encarava, suas bochechas ficaram avermelhadas. Ela começou a recolher os papéis e livros espalhados pelo chão.
Como se saísse de um transe, Peter sacudiu a cabeça e começou a ajudar Kate, entregando-lhe alguns papéis.

— Tudo bem, Kate, você é sempre tão desligada do mundo — afirmou Peter com um sorriso no rosto. Ao perceber o que havia dito, ele arregalou os olhos, entrou em desespero e saiu correndo, deixando uma Kate confusa para trás.
Peter correu até o banheiro masculino, se trancou em uma das cabines e bateu a cabeça contra a porta de compensado.

— Seu idiota, por que você falou com ela como se ainda te conhecesse? Como se ela se lembrasse de você, seu idiota.

Peter sentou na tampa do vaso sanitário, colocando a cabeça entre as mãos. Lágrimas começaram a molhar suas bochechas. Ele já havia chorado tanto ao longo dos meses que tinha adquirido uma queimadura do sal das lágrimas. Além da dor das queimaduras, havia a dor psicológica, que parecia como se estivesse se afogando, sem possibilidade de voltar à superfície. A cada vez que tentava respirar, em vez de ar, era como se água enchesse seus pulmões. A única coisa que lhe dava um pouco de oxigênio era o último resquício de sua antiga vida: a pulseira que Kate lhe dera. Esse pequeno objeto era o que o fazia levantar todas as manhãs e tentar seguir em frente, por mais que doesse. Peter sabia que o que estava tendo era um ataque de pânico e sabia que a única coisa a fazer era tentar acalmar a própria respiração, contar até onde conseguisse e brincar com o pequeno pingente de aranha em sua pulseira. Isso era o que o havia acalmado ao longo desses meses, que pareciam tão longos.

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Publicado pela primeira vez: Terça-feira dia 15 de fevereiro de 2022

Publicado pela segunda vez: Quarta-feira dia 2 de outubro de 2024

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⏰ Última atualização: Oct 02 ⏰

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