Depois do verão

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    Antes que a luz do sol invadisse cada canto do meu quarto e alcançasse meu rosto na cama eu já estava de pé, o que não significava que eu estava disposto. O fato é que eu não havia conseguido dormir na noite anterior, para falar a verdade eu não imaginei que fosse voltar tão cedo naquele lugar, tudo o que me fizesse lembrar do que aconteceu fazia meu estômago embrulhar e um amontado de lembranças surgirem na minha mente, mas não é o que eu quero falar agora.

-- Rafael?? Já de pé, que milagre é esse? -- Com espanto minha mãe Ana entra no quarto já pronta para me jogar da cama.

-- Eu dormi me deitei cedo ontem -- Sim eu estava mentindo, eu provavelmente me deitei 1h30 da madrugada e depois disso foi só ladeira à baixo...

Antes que ela pudesse continuar com o assunto eu apresso meus passos ao banheiro carregando minha toalha junto pronto para um banho de água gelada.

   Já na mesa de refeições vejo meu pai falando ao celular e minha mãe servindo café nas três xícaras, para nós dois e ela também. Como eu detesto tomar café de manhã, não tem coisa pior pro meu estômago.

-- Philip não vai comer com a gente? -- Disse me referindo ao meu irmão, ele é mais velho que eu e se separou da minha cunhada nessas férias, filho somente do meu pai ele passou por um verão conturbado assim como eu.

-- Não, ele... Bom acho que hoje ele vai chegar atrasado no trabalho. Não o respondeu quando chamei ele -- Respondeu minha mãe.

O meu irmão é um típico hetero top, curte sertanejo e não vivia uma vida de solteiro há dez anos, começou a trabalhar na minha idade e hoje tem uma carreira bem sucedida em gestão hospitalar em um hospital da cidade, provavelmente saiu pra uma festa e voltou tarde.

Terminei meu pão com café já sentindo meu estômago embrulhar, comecei a pensar se era nervosismo pelo dia de hoje ou realmente já era o efeito do café. Enfim, terminei minha higiene,  peguei meu material e fui para o ponto de ônibus, meu colégio ficava há 2km de casa. Estava um clima úmido e eu amava essa sensação, no fone escutava uma música da Lana, ao contrário do comum as canções dela me acalmam.

{...}

Assim que eu chego no colégio posso sentir olhares sobre mim, acho que as pessoas ainda comentavam sobre o que aconteceu, mas claro não seria diferente... Ela era minha amiga.

-- Bom dia minha linda! -- Com humor Henrick me recepciona na porta da sala. Ele é meu amigo desde o fundamental, um moreno de 1,72 de altura medindo o mesmo que eu, cabelos negros ondulados, olhos castanhos, 18 anos e um humor ácido não nos desgrudamos desde que nos conhecemos.

Essa vadia consegue ter bom humor até de manhã cedo? De manhã só consigo pensar em como eu gostaria de estar deitado na minha cama. -- Pensei

O encarei alí mesmo na porta ficando em silêncio, eu estava completamente perdido nos meus pensamentos e de fato, queria estar dormindo.

-- Falei contigo! -- Disse me dando um soco leve no ombro

-- D-desculpa eu...

-- Ainda tá dormindo né? -- Riu antes que eu pudesse completar

-- Acho que sim, eu não dormi direito -- Disse esfregando o rosto

-- Lógico, quer ficar vendo série de madrugada né minha velha? Bora senta aqui perto de mim --   Me puxou pra dentro da sala.

Assim que adentrei senti como se um flash de realidade me atingisse, a sala já estava metade cheia, pude ver alguns rostos familares e outros completamente desconhecidos, na realidade muito mais rostos desconhecidos, quem é essa gente? Sinceramente eu queria ir embora desse lugar, era estranho estar de volta. Henrick continuava falando algumas coisas que eu não prestei atenção enquanto me puxava pelo braço até a carteira próxima dele onde eu me sentara.

-- Garoto?? -- O repreendi assim que me sentei, parecia até um papagaio.

-- O que foi? -- Me olhou atônito.

-- Tu que não para de falar desde que me viu, ainda nem cheguei.

Sim meu humor é péssimo de manhã como adivinhou?

-- Nossa, que bicho te mordeu hein? Nem parece que não me vê há semanas... -- Me respondeu com semblante debochado tal como patricinhas de série adolescente.

Para falar a verdade eu tinha sorte de tê-lo como amigo, mas as vezes ele me tirava do sério.

-- Olha, a gente não se vê há semanas por um motivo bem específico, ou você já esqueceu do que...

-- Oi amigues -- Cássio interrompeu se aproximando de nós. Também meu amigo desde o fundamental, branco de cabelos cacheados e olhos verdes claros que quase não se enxerga por trás de seus óculos, medindo 1,69 de altura, 17 anos e o mais tímido de nós dois, conheci alguns meses depois do Henrick.

Parou na nossa frente percebendo o clima tenso ali.

-- O que rolou? -- Disse nos encarando com a sobrancelha esquerda arqueada.

-- Nada amigo -- Respondeu Henrick o abraçando.

-- Nada mesmo Rafa? -- Me questionou.

-- Tá tudo bem. -- Sorri me levantando para o abraçar.

-- Olha quem chegou! O nosso macho -- Eu disse vendo Victoria chegar.

Essa eu conheço há mais tempo que Henrick no colégio, fizemos a prova de admissão juntos um ano antes de eu conhecer os dois, medindo o mesmo que o Cássio ou até menos. De pele branca e cabelos pretos de porte médio, olhos castanhos escuros que quase não se enxerga por conta dos óculos, de um humor bem peculiar e piadas ácidas é o tipo de pessoa que sempre tem a resposta na ponta da língua e facilidade pra se meter em confusão. Ali estava a panelinha completa, nosso trio.

Antes que eu (não) vá Onde histórias criam vida. Descubra agora