𝐴 𝑙𝑖𝑏𝑒𝑟𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑑𝑒 𝑢𝑚 𝑞𝑢𝑎𝑟𝑡𝑜 𝑓𝑒𝑐ℎ𝑎𝑑𝑜

O avesso é o lado certo

       Eu costumo dizer que a vida é como o mar. Você se anima apenas por vê-lo,  assistir a forma como se move, sentir o cheiro de algo que parece ser alucinógeno, tocar e sentir como te faz bem... Algumas pessoas se arriscam a dizer que leva embora as más energias, eu nem de tudo discordo quanto a isso. Mas é irrefutável pensar que ela também é tão traiçoeira quanto as ondas. Indiscutível.

       O momento mais sedativo e proveitoso é quando você boia, relaxa o corpo sobre o sal e se deixa levar, perde o controle. É o lado mais belo e puro de toda vida, quando você não pensa, quando não há consciência, há somente vontade de viver, de estar naquele momento sem pensar no futuro, no passado, no que há depois e houve antes, apenas o agora importa. E é nesse momento que a água balança, você escuta por debaixo do oceano, sente a areia roçando sua coxa, o sol queimando sua pele e cegando seus olhos mesmo fechados. Sem perceber, quando a onda vem, sorrateira, silenciosa, calma e intensa, ela te leva para o mais fundo oceano e te afoga.

       Quem fora que disse que a água é vida e a vida é água estava certo, a vida é mar. Mas não aquele belo, das águas claras e morno, mas aquele frio, do fundo onde se vê os peixes, onde se descobre de repente não poder respirar, não poder enxergar, onde a areia te irrita os olhos e o sal te encharca os órgãos, te mata lentamente. Vida é o contrário da vista bonita da praia, é o lado de dentro da água, é o fundo do mar.

       E ah quem dera ser salvo dali. Só esses descobrirão o verdadeiro valor dessa chamada bela vida que dizem, só esses saberão que aquele lado qual estavam, o contrário de tudo aquilo que pensavam ser um dia encantador, era o lado certo. Porque só quando você permite perder o controle é verdadeiramente capaz de ser feliz, e só quando o faz deixa aquilo te afogar. Mas também, somente quando você se afoga e enxerga o que há por dentro, você pode se libertar e finalmente aprender a nadar.