O que você faria se achasse que está às portas da morte?
a)Gritaria e avisaria a todas as pessoas próximas?
b)Não contaria a ninguém e se desesperaria sozinha?
c)Fingiria que nada estava acontecendo.
Eu ergui minha calcinha e me acabei de chorar.
Já fazia uma semana que minha saúde me deixava preocupada. Sentia me exausta, meus tornozelos estavam inchados e meu xixi espumava como um cappuccino amarelado. De acordo com o impresso em minhas mãos, isso só podia significar uma coisa: eu tinha uma doença incurável, provavelmente fatal.
Meu casamento seria em menos de 48 horas e dar a má notícia a meu noivo era praticamente a única coisa que não constava na minha lista de "coisas a fazer". Mas eu precisava contar ao Dan. Segundo a internet,meu problema exigiria duas visitas semanais ao hospital, aparelhos de diálise e talvez até mesmo um transplante. Muita coisa para digerir,para qualquer homem.
Seja forte, Lucy, eu disse a mim mesma ao abrir a porta que dava para a sala. Você consegue. Apenas seja forte.Dan estava esparramado no sofá assistindo a um documentário sobre os hábitos reprodutivos de uma aranha amarela e magra. Ele estava com os braços cruzados atrás da cabeça, o cabelo despenteado e a barba por fazer. Usava um jeans de cintura baixa e sua camiseta favorita -a preta desbotada do Jimi Hendrix que realçava os ombros largos e os braços fortes.Dan era assim, podia colocar qualquer trapo velho e ainda parecer deslumbrante. Não que se importasse com isso, pois eras um dos caras menos convencidos que eu já conhecera- o que me fazia amá-lo ainda mais
Assim que entrei na sala, ele encolheu as pernas longas a fim de abrir espaço para mim no sofá, mas eu optei por me encarapitar no braço. Quando a aranha fêmea arrancou a cabeça do macho e o comeu, Dan sorriu para mim, com um brilho divertido nos olhos castanhos.
-Entre isso e três horas de conversa depois do sexo -disse ele- , eu com certeza escolheria ter a cabeça arrancada, sempre.
Dan me olhou intrigado ao notar que eu não tinha rido; em vez disso, baixei os olhos para minhas mãos e brinquei com meu anel de noivado. Ó céus,como ele ia reagir à notícia? Ia chorar? Gritar? Desmaiar? Ou pior?
-Dan -comecei.- Tenho algo realmente importante para te contar.
-Que foi? -perguntou ele,os olhos ainda fixos na tela.
-Más notícias.
-É sobre o casamento? -Ele baixou o volume da televisão, se virou de lado e me encarou.- O que aconteceu agora? O confeiteiro pôs um lírio em vez de uma rosa no topo do bolo?
Respirei fundo.
-Acho que estou com uma doença renal em estágio terminal.
O controle remoto caiu no chão quando Dan se sentou e pegou minha mão, amassando o papel que eu estava segurando.
-Você o quê ? -perguntou ele, seus olhos perscrutando meu rosto.- Não me contou que tinha ido ao médico.
-E não fui.
-Então como sabe que tem uma doença renal?
Apertei as mãos dele, e passei o polegar sobre seus dedos. Sem dúvida ele se recusava a aceitar. A internet me avisara sobre esse tipo de reação.
-Porque eu li sobre os sintomas na internet.
Ele franziu o cenho e coçou o queixo.
-Que tipo de sintomas?
Olhei para a Tv . Era estranho falar sobre o estado da minha urina com meu namorado. Não é um assunto agradável, mesmo que vocês já estejam juntos há sete anos.
-Meu xixi está espumando -respondi- Ele está cheio de bolhas e, segundo a internet, urina espumosa é sintoma de falência renal.
Dan riu tanto que escorregou do sofá e caiu no chão. Olhei para ele de boca aberta, em seguida estiquei a mão e o cutuquei no braço -com força.
-Tá rindo de quê Dan? Para com isso você está me assustando.
Ele se apoiou num cotovelo e pegou minha mão.
-Desculpe, Lucy. Eu não devia ter rido, não quando você está às portas da morte. Há quanto tempo você está com esses supostos sintomas?
Fiz a conta mentalmente.
-Cerca de uma semana. Não exatamente uma semana. Começou na última sexta-feira.
-E o que a gente comprou na sexta que, segundo você, era indispensável?
Puxei a mão que Dan segurava e o fitei. Ali estava eu, abrindo meu coração, e ele falando de compra de supermercado. Que diabos havia de errado com ele?
-Não sei, Dan. O que nós compramos?
-Um desodorizador de vaso sanitário que supostamente elimina os depósitos calcários com um aperto da dercarga.
-E daí?
Ele ergueu as sobrancelhas.
-Você não é a única que tem visto borbulhas na urina na última semana.
-Como assim?
-Lucy, sua bobinha -falou Dan, me cutucando- você tem feito xixi em cima do perfumador. Você o colocou na frente do vaso e ele fica um pouco para fora. É isso que tem feito o xixi da gente espumar.
Olhei espantada para ele.
-Ai, meu Deus -falei sem ar- Sou tão idiota!
Dan sentou-se de novo no sofá e me puxou do braço, fazendo com que eu caísse sobre ele. Abriu um sorriso e afastou o cabelo do meu rosto.
-O que eu faria sem você, Lucy Brown? -perguntou, beijando-me com ternura.
Envolvi o rosto dele em minhas mãos e o beijei de volta. Achei que a vida não podia ficar mais perfeita. Tinha razão, não podia...
No fim do dia seguinte, eu estaria morta, mas não devido a uma doença renal.