Hoje eu andei de ônibus, na chuva, e o ônibus estava lotado. Eu vi diversas pessoas nos pontos de ônibus em minha volta pra casa, e percebi que cada um deles carregava um olhar diferente, e cada olhar carregava dentro de si uma história, que eu nunca vou conhecer, e isso me deixou tão pensativo quanto melancólico. Me pergunto se os outros gostariam de saber as diversas histórias que eu também carrego dentro de mim silenciosamente, porque eu mesmo gostaria muito de saber a história de cada um que eu encontro na rua, no ônibus ou no mercado. Eu gostaria de conhecer a história por trás de cada ser humano, assim como seus gostos, medos, desejos e tristezas. Eu nunca senti que eu realmente consegui expressar tudo o que eu quero dizer, idependentemente do tempo que eu tivesse pra me desenvolver como pessoa e aprimorar minhas habilidades de socialização, eu sempre senti que ninguém verdadeiramente entenderia o que se passa pela minha cabeça, até porque nem mesmo eu sou capaz de decifrar o enigma de quem eu sou, ou qual é o meu papel no mundo.
Acho que escrevendo é o mais perto que eu já cheguei de conseguir expressar meus sentimentos e pensamentos mais profundos e abstratos, e é por isso que estou escrevendo agora, por mais que pareça uma ideia boba, se ao menos uma pessoa conseguir se identificar e achar algum conforto nisso, de uma forma que se sinta menos sozinha, eu acho que vale a pena tentar, até porque a escrita é um tipo de arte, e arte em si é uma coisa que eu admiro muito, assim como os artistas, de todo tipo, sejam desenhistas, cineastas, roteiristas ou dançarinos, eu tenho uma profunda admiração pela pessoa que não tem medo de se expressar, de ser vulnerável, de botar seus sentimentos mais íntimos em uma obra e jogá-la no mundo, como uma espécie de pássaro que você guarda numa gaiola, sem nunca descobrir quão alto ele pode voar. Pensando nessa metáfora até bem datada, já que pássaros e liberdade são um tema que se relaciona com frequência, eu acredito que todos temos um pássaro dentro de nós, que anseia por levantar voo, e alguns voam bastante, enquanto outros morrem dentro da gaiola. Eu tenho muito medo do meu pássaro morrer na gaiola dele, por mais segura que ela seja.
Enfim, eu não sei o que era pra ser isso. Só alguns pensamentos soltos e eu já me sinto sem rumo nessa história que eu mesmo criei, mas isso não importa, porque mesmo que seja sem rumo, essa é a minha história, e de mais ninguém, e saber que eu tenho uma, me faz muito feliz, e me dá esperança pro futuro, que muitas vezes parece um monstro batendo na minha porta, e outras vezes parece uma estrada sem fim, repleta de infinitas possibilidades, mas infinitas possibilidades são uma ilusão, pois somos seres finitos, e essa pressão de saber que nossas escolhas de hoje podem já ter determinado um certo caminho nessa estrada, muitas vezes percebido por certos padrões que reconhecemos a medida que crescemos, é um pouco assustador.