Nosso idiota

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Era véspera de Natal, Oikawa e Iwaizumi ainda não haviam decidido o que iriam fazer. É uma tradição fazerem algo especial, uma coisa diferente todo ano, já que essa é a data preferida do casal. Tooru sugeriu patinarem no gelo, seria uma ótima experiência e com certeza uma forma romântica de passarem o feriado mais esperado do ano. Hajime pensava de forma diferente, já imaginava a multidão que teria, os desastres que aconteceriam, não queria passar essa data caindo no gelo e passando vergonha na frente do seu amado, então fez uma contraproposta, com certeza uma sala de cinema só para eles seria muito melhor, poderem escolher o filme que quisessem e aproveitarem da forma que lhes dissesse respeito, essa seria uma forma romântica e íntima de passar a data mais importante do ano, mas Oikawa se recusava a ficar longe do ar livre, não queria ficar rodeado de paredes.

A discussão não se transformou em uma briga, mas parecia não ter um fim visível, o que instigou a ansiedade de ambos, principalmente a de Oikawa, que se preocupava em ter estragado o dia, esse que passou em um piscar de olhos e não deixou nenhuma lembrança memorável além das horas de discussão e dor de cabeça. Sem uma solução e com Tooru perto de um surto, Iwaizumi aceitou a opção de ficar ao ar livre, argumentando que seria bom para ambos acalmarem e talvez até mesmo encontrar algo para fazer. O clima estava perfeito, alguns flocos de neve ainda caiam, mas pela ausência de vento a sensação não era tão fria quanto deveria ser, porém ainda era uma boa desculpa para o casal andar perto procurando calor humano. Oikawa estava distraído, observando os arredores, escutando as cigarras, mas estava ciente quando entrelaçou seus dedos aos de Iwaizumi e levou suas mãos para o bolso do seu casaco. Um grande sorriso surgiu em seu rosto ao olhar para seu amado, esse que lhe olhava com brilho nos olhos e um tímido sorriso escapando dos lábios. 

Talvez a discussão tenha tido um propósito, uma caminhada tranquila estava muito mais agradável do que imaginaram. Os dois não trocaram muitas palavras, eles não precisavam disso, apenas aproveitaram a presença um do outro, se esbanjando de carícias e sorrisos bobos. O casal andava sem rumo, deixando que seus pés os guiassem, sem prestar atenção em nada além de sua pequena bolha, vivendo em seu próprio mundo, os impedindo de reparar quando chegaram em frente a uma construção que nunca tinham visto antes, em uma rua que nunca tinham entrado. Um tempo passou até perceberem onde estavam, um grande letreiro lhes dizia que era um bar e que estariam servindo jantar e petiscos ao som de música ao vivo. Os dois se entreolharam, não sabem como chegaram ali, mas acreditam que tudo deve ter uma razão e não precisaram de uma discussão quando decidiram entrar e conhecer o novo e intrigante estabelecimento.

Ao entrarem ficaram impressionados, não só com a arquitetura, mas com a quantidade de pessoas, tinha mais do que esperavam, e para um bar que nunca tinham ouvido falar ele certamente possuía um bom atendimento e uma comida com uma apresentação de dar água na boca. Enquanto tentavam absorver os detalhes e se adaptar ao ambiente, Tooru guiou Hajime a uma mesa disposta no jardim, os dois ainda olhavam ao redor e o último percebeu um movimento no palco, cutucando Oikawa e o mostrando onde a música seria tocada. Ao sons dos primeiros acordes os dois decidiram deixar a mesa e irem se divertir próximos a música, o que lhes deu a oportunidade de ver quem era o dono da voz que estava fazendo seus corações acelerarem. 

Quando estavam próximos o suficiente para ver o rosto do cantor, Oikawa teve seus olhos preenchidos com lágrimas e Iwaizumi deu um passo involuntário para trás, com uma de suas mãos na boca, preocupado com a parada repentina do seu coração. Eles definitivamente não o conheciam, nunca o tinham visto, seus amigos nunca haviam o apresentado, mas o que era esse aperto no coração? É possível sentir saudades de uma pessoa que não conhecem? O casal se entreolhou, percebendo que os dois estavam se sentindo da mesma forma e com uma pequena conversa por olhares decidiram dançar, aproveitar a música calma e romântica e entenderem o que acabou de acontecer.

– Você conhece ele?— Iwaizumi decidiu quebrar o silêncio, jogando a pergunta bem nos ouvidos de Oikawa, em um tom tão baixo que apenas eles poderiam escutar.

– Difícil dizer, eu tenho certeza que nunca vi ele, mas eu sinto que o conheço, faz sentido? — Oikawa torceu para que sua voz não entregasse o quão confuso e apavorado estava com a situação, apenas Iwaizumi sabe disso, mas qualquer detalhe que não condiza com a realidade o assusta, é algo que ele não tem capacidade de resolver ou lidar sozinho, e isso o apavora.

– Não faz sentido, — Iwaizumi soltou uma leve risada, o que deixou Oikawa levemente envergonhado e com as orelhas queimando — mas eu entendo o que quer dizer, tô me sentindo da mesma forma.

Oikawa afastou gentilmente o namorado, apenas o suficiente para que os dois se encarassem.

– Você se sente atraído por ele? – perguntou enquanto apreciava a beleza das feições de Hajime, realmente tinha muita sorte por ter ele na sua vida, não pela beleza, mas pelos princípios que os dois compartilhavam, pelo respeito que cultivavam um pelo outro, por mais que vivessem rindo um do outro, e o mais importante, adorava as conversas que tinham, sem medo de expor ideias e pensamentos, prontos para entenderem um ao outro e fazer de tudo para que se sintam confortáveis. 

As mãos de Iwaizumi pousaram no quadril do namorado, fazendo pequenas carícias na região.

– Sim, assim como você, não faz essa cara, é óbvio que você se atraiu por ele. Sabe Tooru, às vezes você consegue ser transparente como um vidro — Hajime deixou uma risada contagiante escapar, que levou o mais belo dos sorrisos aos lábios de Oikawa — o que realmente me impressionou foi termos nos atraído pela mesma pessoa. Você quer tentar algo com ele? Podemos fazer isso juntos.

Desta vez foram as mãos de Oikawa que pousaram na cintura do namorado, o trazendo mais pra perto, a apenas alguns milímetros de distância. Perto o suficiente para sussurrar contra o sorriso do mais baixo.

– Eu adoraria — disse firme de sua decisão, mas logo abrindo o seu sorriso marca, o sorriso de quem iria fazer uma piada idiota —  Se ele for tão difícil quanto você estamos ferrados

– Idiota — disse Iwaizumi com um sorriso bobo e selando seus lábios.

Os dois dançaram mais duas músicas, depois decidindo apenas apreciar a música e tudo que ela envolvia. Estavam surpresos com o talento de alguém que aparentava ter aproximadamente a idade deles, podiam perceber que não possuía nenhum erro ao decorrer da apresentação. O rosto do cantor também os deixavam sem palavras, pelas suas expressões era possível ver que estava vivendo cada música, como se tivesse tido exatamente a mesma experiência. Mas os traços tristes e angustiantes foram subitamente transformados para um sorriso confiante e arrogante e uma postura relaxada, essa deveria ser a música que o cantor mais gostava, só que os dois não esperavam que soubessem ela da ponta da língua, uma música que nunca tinham escutado antes. Um sentimento nostálgico tomou conta dos dois, saudade de coisas que não lembravam terem vivido, saudade de um passado que não lembravam tomou conta de seus corpos e os levaram para um universo só deles, onde só enxergavam os três e nada mais, deixando que as palavras saíssem de suas bocas sem controlá-las. 

Algumas outras músicas foram tocadas e Oikawa e Iwaizumi estavam com um sentimento misto em aproveitar cada segundo que pudessem e quererem que acabasse logo para que pudessem tentar puxar assunto com o ser tão intrigante em sua frente. Talvez o universo tenha entendido o recado, pois não muito depois a quantidade de flocos de neve caindo sobre eles aumentou e uma pausa para se proteger da nevasca foi necessária, o que lhes deu uma grande oportunidade. Para o Azar de Kageyama que só pensava em alguma forma de evitá-los o destino não estava ao seu favor e o xingou de todas as formas possíveis quando viu duas pessoas se aproximando.

– Oi, boa noite. Você é o cantor né? Adoramos suas músicas 

Depois de 10 mil anosOnde histórias criam vida. Descubra agora