− Senhorita Reynolds, a senhorita terminou? – ouço a voz delicada de Anne ao fundo e balanço minha cabeça para conseguir retrair os pensamentos que teimam em voltar para a minha mente. – O príncipe Jorge pediu para avisar que teremos visitas essa noite para o jantar. Respiro fundo e consigo sentir o cheiro de lavanda do sabonete, o mesmo que exalava naquele dia.− Não faça isso Meredith! . – grita ele com um grande sorriso no rosto ao me vê jogando água em seu rosto. – Eu vou te pegar! .Sinto suas mãos quentes envolverem minha cintura e me puxar para um abraço. – Me solta! . – solto no meio de uma grande risada. E o mesmo me vira para si deixando o mesmo rosto próximo do seu.– Eu te amo na...– Senhorita Reynolds, consegue me escutar? Esta tudo bem? – Ouço novamente a voz de Anne, mas dessa vez com tom preocupado.Balanço novamente minha cabeça e respiro fundo para afastar os pensamentos sobre ele. Levanto-me e saio da banheira, me enrolo na toalha e caminho até a porta abrindo-a.– Estava escutando Anne, me perdoe. – digo ao vê a mesma parada em frente à porta com uma expressão preocupada no rosto. – É que estava pensando em umas coisas particulares...– Não deveria perguntar sobre isso, mas a senhorita quer conversar?– Agradeço Anne, mas não. – Sorrio e vou até em frente ao grande espelho que fica ao lado do meu armário e suspiro. ¬¬– O que temos pra hoje? – Fui informado que terá um jantar importante hoje à noite, e a senhora deve se aprontar da melhor forma possível. Vou te ajudar com isso. ¬¬– Olho pelo espelho e vejo Anne sorrindo. Estou aqui a três dias e nunca a vi triste, sempre pronta e alegre pra ligar minha banheira ou escolher minhas roupas, ela deve gostar de realizar essas tarefas. – A senhorita quer usar que cor hoje?– Preto! . – respondo de imediato.– De novo? – diz Anne que esta tentando me vestir de rosa desde que cheguei.– Sim, e tenho certeza, não me pergunte sobre isso. ¬Anne sorri e abre meu armário pegando um cabide com um longo vestido preto, ela caminha com o mesmo até minha cama e o estende. Observo tudo pelo reflexo do espelho e solto um sorriso involuntariamente.– Nunca a vi sorrindo desta maneira. – fecho o meu rosto rapidamente ao perceber o que tinha acontecido e ele me olha preocupada. – Desculpe...– Tudo bem Anne, é que aqui eu não tenho motivo com frequência para isso.Sinto uma lagrima escorregar e a prendo. Não chore. Sento-me e Anne começa a arrumar meu cabelo em um penteado simples, apenas com as mechas da frente presas atrás com um pequeno grampo de brilhante. Após o cabelo, ela me faz uma maquiagem simples com olhos marrom e batom vermelho. Adoro batom vermelho. Visto o vestido, calço o sapato da mesma cor e caminho até o espelho.– A senhorita esta linda! . – Sorrio de canto. Ele me adoraria assim.– Sim, estou por sua causa.– A senhorita é linda. Não é por causa da roupa ou da maquiagem.– Não me visto assim há muito tempo, não consegui me acostumar ainda. – caminho até minha cama e me sento.– A senhorita morava no Canadá né? – olho para as minhas mãos para não mostrar a minha expressão.– Sim, em Toronto. ¬– Eu nunca saí daqui de Waterfall... – Você tem vontade? – a encaro.– Sim... Mas nunca vou conseguir.– Por quê? . – digo vendo-a com olhar triste.– Esse é o meu trabalho senhorita, minha mãe trabalha aqui, meu pai e meu irmão também. – ela sorri tristemente. – Não posso ser nada além do que sou. Mas eu gosto, sonho em ser dama de companhia da rainha um dia.Rio alto.– Você está no lugar errado então. Nunca serei a rainha.– Você não quer ser rainha? Toda princesa sonha em ser rainha...– Eu não sou princesa – interrompo-a – Eu sou uma pessoa normal, presa nessa vida medíocre e solitária. – Ser rainha é medíocre? – É claro, não são só roupas e jantares importantes. As pessoas se esquecem disso e não se preparam. Tem-se que tomar decisões que afetam milhares de pessoas, saber de tudo, estudar e ainda parecer burra na frente de homens machistas. – digo com raiva – Eu não quero viver isso, eu quero ser livre, quero poder trabalhar na área que eu gosto, quero poder me casar com alguém que eu realmente amo e apenas viver! . – A senhorita fala com determinação. – Anne olha para mim atentamente.– Sim, eu passei a minha vida toda estudando pra sair das paredes gélidas dessa casa e ser livre. Agora estou presa aqui... – sinto as lagrimas começarem a correr pelo meu rosto. – Eu só quero poder ser eu mesma sem ser guiada o tempo inteiro por alguém. – enxugo as lagrimas – Me desculpe, falei de mais.– Tudo bem senhorita, estou aqui pra tudo que precisar...– Esse é seu trabalho. – digo triste e me levanto da cama.– Não é isso, senhori...– Tudo bem Anne. – a interrompo – Você não precisa fazer isso. Sorrio de canto, ajeito o meu cabelo pra ter certeza que não tinha nada fora do lugar e caminho até a porta, abro-a e começo a andar e observar os quadros na parede. Paro em frente a um quadro familiar e respiro fundo ao vê os olhos gentis da minha avó. – A senhora devia estar aqui. – digo em tom triste e balanço a cabeça para não chorar.Fecho os olhos com força e começo a caminhar novamente, desço as escadas e ouço vozes ao longe. Para uma casa cheia de gente eu nuca vejo ninguém. Solto um risinho com o meu pensamento e logo vejo a porta do escritório do meu tio ser aberta. Ele sai com seu celular na mão e vem em minha direção.– Minha querida você está linda! – diz ele sorrindo já ao meu lado. Reviro meus olhos.– Não precisa disso. Não precisa fingir que se importa.– Mas eu me importo. – ele coça a cabeça com a mão enquanto me olha fixamente. – Você é minha sobrinha, e mesmo que esteja com raiva de mim por um motivo incoerente eu me importo com você, todos importam.– Se importassem comigo não teriam me trazido pra esse lugar...– Esse lugar é sua casa, sempre foi. – ele me interrompe. – Todos estavam tristes com a sua partida há cinco anos e agora estamos felizes com a sua chegada.Sorrio em desdenho.– Claro que estavam, nem me deram atenção até agora e estou aqui há três dias. – respiro fundo – Você não sai daquele escritório, a minha avó não veio pra cá e a Briana... – rio – Ninguém aqui queria que eu estivesse aqui de verdade.– Não mesmo. – ouço uma voz fina ao longe. Viramos para o rumo da onde a mesmo vinha e encontramos Briana ao pé da escada em um longo e armado vestido rosa com decote princesa e mangas em tule. – Não acho que deverias estar aqui, deveria ter ficado onde estava. Não serás rainha mesmo, não tens motivos para ficar. – terminou a mesma já no fim da escada.– Briana... – começou meu tio, mas foi interrompido pela mesma.– Não, é verdade. O que ela esta fazendo aqui? Ela não é ninguém, e ela quer continuar assim. Não podem prendê-la aqui, não é justo.– Nunca pensei que diria isso, mas concordo com ela.– Você é da família deve ficar aqui. ¬– diz meu tio intercalando o olhar entre mim e Briana, – Você foi pra estudar, estudou e agora deve voltar pra casa. Simples.– Ela seria uma nerd estranha melhor lá. – olho para Briana com cara de desdém. – O que é? É a pura verdade, você sempre foi nerd e estranha. Ninguém decora o autor e quem esta pintada em todos os quadros de um lugar deste tamanho. – ela abre os braços para exemplificar o tamanho – E você faz isso desde que somos pequenas.¬¬– Eu não sou estranha, só que o vovô me falou que...– Vossa alteza real, desculpa incomodar, mas os Birdwhiste's chegaram. – diz o mesmo homem de olhos gentis que me cumprimentou no dia que cheguei. Ele deve ser uns dos grandes. – devo pedir quem entrem? – Birdwhiste? Os de Goldenfall? – digo antes de Jorge responder.– Sim priminha, eles mesmos...¬– São amigos da família, devemos ser educados e hospitaleiros. Ficaram aqui por uns dias para uma reunião com a rainha. ¬– diz meu tio cortando Briana. – Sim Smith, pode pedir que eles entrem. Preparem-se meninas.Olho incrédula e curiosa para meu tio, pois me lembro que era amiga de um dos Birdwhiste. Me posiciono ao lado de Briana, como pede as regras reais e respiro fundo para começar encenar uma princesa feliz. Briana estava como eu deveria estar: feliz e sorridente. Ela sabe como lidar nesses momentos, ela sempre gostou disso, sempre sonhou em ser rainha, e um dia será, pois é a segunda na linha do trono. Ouço a porta abrir e todos os funcionários ali presentes formam em reverenciam ao vê o homem alto de cabelos começando a ficar grisalhos entrar tendo ao seu lado uma linda mulher loira de pele clara e olhos bondosos, atrás vinha alguém, que não pude alcançar com minha visão. Senti um perfume familiar, refrescante parecia o perfume dele, mas não podia ser, deve ser o ar quente bagunçando meus pensamentos. Todos levantaram após verem o rei Birdwhiste fazer sinal para a ação e meu tio foi sorridente ao seu encontro.– Alfred, grande amigo! Bem vindo. – diz meu tio abraçando o rei comigo e Briana atrás dele. – Você demorou para vim até nós. E você Amelia, como está? – diz ele beijando a mão da senhora ali, a rainha. – Vocês devem lembra-se da Lua, ela voltou para casa.Ele aponta para mim e sorrio cumprimentando com uma meia reverencia. O rei e a rainha me cumprimentaram de volta, com o mesmo gesto. Coisa de realeza. – Claro que lembramos. ¬– diz o rei animado. – O nosso filho Henry também esta em casa. Você lembra-se dele Lua? Vocês eram muito íntimos quando crianças. – Balanço a cabeça em negação e nesse momento as minhas vistas se focaram no menino alto, de pele parda parada ao pé da porta com uns olhos lindo, os cabelos pretos cortados em um corte mullet e uma boca que se forma em um maravilhoso sorriso. Como eu sei disso? . Ele fixou os seus olhos no meu e pude vê sua cara de espanto, uma cara que era familiar. Por que é familiar? . Espera, não pode ser. Senti meu coração pulsar mais rápido, ele estava querendo voar do meu peito. É ele. Mas como? . Respirei fundo e abri a boca pra falar, mas nada saia. Meu Deus é ele.– Você?! – Dissemos em uníssono.
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Sonho de Princesa
Romance− Eu não posso ficar aqui, não sou uma princesa. − Você é uma princesa! Não importa onde você prefira ficar, você é uma princesa e deve agir como uma. Lua é uma princesa, a terceira na linha de sucessão, mas prefere viver uma vida norma, concluir...