Consequências da impulsividade

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Minho saiu aos tropeços, desesperado para alcançar a pessoa por trás das cartas, não sabia como ia abordá-la nem como ela reagiria, mas precisava saber quem era. Em seu desespero, ele tropeçou na porta de entrada e caiu com tudo no topo da escadaria. O barulho chamou atenção da pessoa desconhecida que paralisou a poucos metros da casa de Minho. Com o capuz, Minho não conseguia distinguir nenhum traço, mas sabia que a pessoa o encarava. Contudo, antes que Minho pudesse dizer alguma coisa, a pessoa se virou e correu como se a vida dela dependesse daquilo. No chão, Minho mal teve tempo de se recompor e a pessoa já desaparecera na esquina.

Por um momento o moreno considerou ir correndo atrás, mas seria inútil. Censurou-se por ser um imbecil impulsivo, aquela estratégia de abordagem tinha sido péssima, tudo que conseguira era fazer a pessoa fugir sem deixar a carta e ainda ganhar alguns arranhões. Levantou-se sentindo o joelho arder e foi fazer alguns curativos.

**

Minho se reuniu com os amigos após o trabalho e todos pareciam bem empolgados para ouvir sua história sobre a noite anterior. Jong parecia uma criança animada querendo emoção, Key estava indignado pela forma como ele agiu e o chamou de imprudente e Onew que parecia perdido no próprio mundo, disse que concordava com Key, se fosse um bandido Minho poderia estar morto.

Sendo sincero com ele mesmo, Minho nem mesmo considerara essa possibilidade, ao ver o envelope vermelho na mão do vulto desconhecido tudo que ele pensou foi na sua chance de descobrir quem era, mas concordava com os amigos, ele tinha sido imprudente. O sermão de Key foi longo e Minho o aceitou em silêncio, Jong por outro lado estava empolgado com a possibilidade do que viria a seguir.

— E você conseguiu ver se era homem ou mulher? —perguntou Jong pela segunda vez.

Minho deu de ombros.

— Como eu disse, com o capuz não deu pra ver nada.

— Mas e pela forma como correu, daria pra distinguir, não?

— Sei lá, só era muito rápido. Quem sabe é um atleta. A gente conhece algum?

Os outros balançaram a cabeça em negação.

— Bom — disse Key. — De qualquer forma, depois desse susto que você deu duvido que a pessoa volte a te escrever.

— Eu te disse. —comentou Onew balançando seu copo de bebida para misturar.

Minho já tinha pensado nessa possibilidade é claro, mas ouvir de Key o deixou com uma estranha sensação de perda.

— Eu nem pensei muito na hora, só agi. É uma pena, eu gostaria de ter conhecido melhor a pessoa...

— É claro! — respondeu Jong. —Faz quanto tempo que você está na seca? 1 ano? Desde que você terminou, você não se envolveu com mais ninguém, deve ser por isso que está tão carente!

Minho fuzilou Jong com o olhar, mas o outro só lhe deu um sorriso zombeteiro.

— Pra sua informação são 10 meses e eu não conheci ninguém que valesse a pena investir — rebateu o moreno.

— E do nada uma pessoa desconhecida chama sua atenção por meio de cartas?

Minho deu de ombros terminando em um gole sua bebida. Não valeria a pena tentar explicar seu ponto de vista, ainda mais quando ele mesmo não sabia o que estava acontecendo.

**

Nos três dias seguintes, Minho não recebeu nenhuma carta e começou a perder as esperanças de receber uma nova. Key estava certo, seu modo imprudente de agir havia estragado suas chances de conseguir mais informações sobre a pessoa desconhecida.

Minho sentia-se idiota por ter criado tantas expectativas e censurava a si mesmo dizendo que havia sido apenas duas cartas. Contudo, todos os dias ele reparava nas pessoas a sua volta buscando algum sinal que pudesse lhe dizer quem era a tal pessoa. Sua busca obviamente não havia dado em nada, as pessoas estavam todas ocupadas em seus próprios mundos, viciadas em eletrônicos ou com excesso de trabalho.

— Devo te alertar que o excesso de cafeína faz mal, Sr. Choi.

Minho levantou a cabeça e se deparou com Taemin que sorria para ele. Estava tão absorto em seus pensamentos que nem notou que alguém se aproximava. O moreno nunca havia cruzado com o garoto fora do ambiente de trabalho e ficou realmente surpreso por vê-lo ali no parque. Era um dia chuvoso, o ar estava úmido e frio, poucas pessoas ficavam ao ar livre em tempos assim. O escritório havia liberado os funcionários mais cedo, por conta de um alerta de risco tempestade e queda de energia, mas Minho aproveitara para tomar um ar fresco.

—Posso me sentar? — perguntou Taemin olhando Minho o encarava sem dizer nada.

— Ah, sim. Pode sim. —Minho se deslocou para o lado para abrir espaço.

O garoto se sentou em silêncio observando a paisagem do parque. Minho o estudou disfarçadamente, o cabelo castanho estava úmido e a as maçãs do rosto coradas provavelmente pela friagem que tomara no caminho. Os nós dos dedos estavam vermelhos pelas sacolas que carregava, mas por algum motivo ele parecia contente.

— Não é café, é chá. —disse Minho de repente, cortando o silêncio que havia se estendido, apesar de não ter se sentido desconfortável por estar ali em silêncio com Taemin, pelo contrário, ficou feliz pela companhia.

O garoto sorriu, um gesto que ele provavelmente fazia inconscientemente.

— Isso é bom, eu gosto de chá.

— Achei que você era mais chegado em café, sabe? Afinal, você trabalha numa cafeteria...

— Eu confesso que não curto muito café. — respondeu Taemin. — Mas não diga isso ao me chefe. — acrescentou depressa.

—Haha, claro que não... Eu acho que nunca tinha te visto fora do trabalho. comentou Minho. —Fico feliz que você tenha um tempinho para viver como uma pessoa normal.

— É —respondeu o garoto já com um olhar distante. — Eu ando trabalhando demais, deveria maneirar um pouco. De qualquer forma, o garçom que eu estava substituindo já vai voltar ao trabalho, então eu ficarei livre por um tempo. Mas me diga, Sr. Choi, o que faz fora de casa com um alerta de tempestade?

Para ilustrar a fala de Taemin um relâmpago cortou o céu não muito longe dali e logo foi seguido pelo estrondo de m trovão que parece ecoar pelo parque inteiro. O garoto assustou-se e deu um mini pulo na cadeira. Quando Minho riu, ele abaixou a cabeça constrangido.

— Eu estava precisando relaxar um pouco. — disse Minho parecendo ignorar a reação do outro.

— Problemas no trabalho?

— Não.

— Relacionamento?

Minho fez uma careta refletindo.

— Não exatamente, mas algo do gênero talvez.

Taemin o olhou curioso, na esperança que ele continuasse, mas novamente um trovão ecoou, fazendo-o tremer.

— E-eu não gosto de trovões. —confessou. — É um lado infantil que ainda existe em mim. É mais fácil quando estou em casa, mas em áreas abertas...

— Está tudo bem, eu entendo. —Minho resistiu ao forte ímpeto de abraça-lo, naquele momento o jovem garçom lhe pareceu tão frágil que Minho queria protege-lo dos trovões e mesmo do mundo. O momento passou e o moreno ficou encarando o garoto que nem notara por estar concentrado nos próprios pensamentos.

— S-se você quiser desabafar, eu sou um bom ouvinte... posso preparar um chocolate quente e...

— Acho que seria bom. — respondeu Minho sorrindo afeituosamente. Lembrou-se da breve conversa sobre o garoto não ter muitos amigos, mas não estava se forçando a ir por pena, ele gostava de Taemin e gostaria da oportunidade de conhece-lo melhor.

Começou a garoar e os dois se apressaram em partir, Taemin não morava tão longe dali, mas não tiveram sorte no caminho e a chuva engrossou logo que saíram do parque. Em vez de procurar abrigo, Taemin saiu em disparada rindo e Minho foi em seu encalço. 

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⏰ Última atualização: Mar 03, 2022 ⏰

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