Único

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Erwin sempre se sentiu um homem completo, a necessidade de encontrar um par para sua vida nunca se fez presente uma vez que entrou na tropa de exploração.

Marie foi um amor correspondido no qual não pôde viver. Erwin se sentia tão completo que chegava a transbordar, o orgulho e decisão o preenchia, a dita cuja de descobrir o mundo, e atinar a veracidade das teorias de seu pai.

Em uma das missões tidas como mais significativas para a tropa de exploração, onde desmascararam três inimigos da humanidade nas muralhas, Erwin perdeu uma parte de si, parte que nunca voltaria.

Dúvidas foram respondidas e novas preencheram ele, como ar em embalagem de salgadinhos, o vazio ainda estava ali.

Era a primeira vez em que voltava ao QG depois do hospital, e por mais que tivesse uma amputação recente o dia seguinte procederia uma viagem até a Capital, onde Erwin enfrentaria problemas.

No banheiro de seu quarto, o comandante passava a pequena lâmina em seu rosto, aparando a barba e bigode crescidos. Ele ainda não havia se adaptado à nova rotina sem um dos braços, então levou a mão imaginária à torneira em vão. Um homem que sempre fez inúmeras coisas ao mesmo tempo, estava tendo que fazer uma por vez.

Passou sabonete no rosto; aparou a bigode; ligou a torneira para a limpeza da lâmina; cessou a água; aparou a barba, ligou a torneira para a limpeza da lâmina; fechou a torneira; enxugou o rosto. Em todos os atos o membro invisível buscava auxiliar.

O banho foi a parte mais difícil, no entanto, os desafios eram rotineiros na vida de um comandante da tropa de exploração.

Descalço e em seus pijamas, constituídos por uma simples calça preta de linho, bem como uma camisa branca, Erwin lia mais uma página de seu livro, tentando ocupar a mente antes de deitar sua cabeça na cama.

Apenas algumas batidas foram o suficiente para tirar sua atenção da leitura. Erwin deixou o livro sobre a cama após marcar a página em que lera, se levantando, ele caminha até a porta, descobrindo Levi, o que não foi surpresa. A visita foi acompanhada por informações acerca da situação dos membros da tropa, e, principalmente, da situação de Eren e História. A conversa guiada pelo âmbito profissional, teve teorias acrescidas, a respeito da atividade de endurecimento de Eren que seria capaz de contribuir com a retomada da muralha Maria.

— Mas o verdadeiro mistério é... Por que um simples nobre regional saberia dos segredos da muralha? — Erwin sempre fazia monólogos interpretados como perguntas difíceis pelos ouvintes. Sempre que abria a boca para um questionamento assim, Levi sentia sua mente se abrir ainda mais, compartilhando as mesmas dúvidas com seu superior. Isso o tornou um dos soldados mais empáticos com Erwin, sendo considerado a sombra que acompanha a luz.

— Quem sabe...

Erwin se afastou da janela guardando o relatório que tinha em mãos, dentro da pasta acima de sua cama, aquela mãozinha inexistente continuava insistente em ajudar até nas tarefas mais triviais, como abrir uma pasta e inserir um papel em seu interior. Era nestes momentos que o comandante refletia sobre o quão as duas mãos trabalhavam, sem que sequer percebesse.

— Hange irá se encontrar com Nick amanhã cedo. — informou Levi.

— Isso é bom, ele faz um ótimo trabalho em conseguir respostas. — Erwin retirava os livros sobre a cama, empilhando-os, nos montes do assoalho.

— Tch. Tenho que concordar. Eu teria pena do paspalho se não houvesse necessidade dele ser questionado por aquele quatro-olhos.

Erwin sorriu, enquanto sentava na borda da cama, abrindo o livro que manteve ali, folheando as páginas, a ventilação das folhas conduziu um odor bolor às narinas do homem.

Dor fantasma - EruriOnde histórias criam vida. Descubra agora