Pele fervente, músculos doloridos, a luz da lua lutando contra olhos sensíveis e cansados. Foi difícil pensar, mas pareceu certo, como uma fome finalmente satisfeita, o nome dela ainda nos lábios secos. Memórias febris piscaram por pálpebras que se recusavam a abrir, com medo de libertá-las. A cabine de madeira retia calor o bastante para manter os dedos no lugar, mas não o bastante para afogar a doença. O ar estava parado e as pernas estavam fracas demais para levantar a miséria de carne. Em meio aos sussurros da escuridão e pensamentos terríveis, um grito foi ouvido na floresta do lado de fora. Um guincho familiar a ouvidos feridos incentivara o coração a bater mais rápido. Neve rasa foi jogada por pés descalços ligeiros quando o grito da mulher se misturou com a música do vento. Nenhuma palavra ainda, apenas mais desespero dessa vez.
Árvores nuas eram um mero borrão sob a luz difusa até que ela foi encontrada. Ela estava deitada, agora paralisada, tremendo e assustada, olhos procurando, esperando, suplicando e orando. Para um salvador ou um carrasco, uma diferença não mais necessária. Mente finalmente aquiescida, nenhuma palavra foi dita, nenhum som foi produzido. Pobre raposinha com um osso exposto, corpo sem resposta enquanto o sangue escuro e espesso cobre a neve. Mãos vazias não eram mais um problema quando uma pedra foi encontrada e erguida para acabar com sua dor. Batimentos silenciosos, lábios presos para sempre em súplica, assombrosos olhos azuis focados no vazio. Uma visão linda, um déjà-vu. O que causou as feridas? Quão grandes os dentes? Novos olhos então pararam para assistir o retrato carmesim.
As pernas pareceram acordar para escapar do olhar fixo ardente e voltar para a caixa de madeira, neve derretendo com cada passo aquecido, o cervo e a raposa agora a mesma bagunça borrada. Porta fechada, respiração recuperada, orações para um deus surdo. O espelho modesto na parede chamou por um nome acolhedor e seguro. Os mesmos cabelos vermelhos e olhos azuis como o oceano se encararam enquanto todos os sentidos se perderam, e tudo pareceu desimportante. A perseguição terminou, meu caro amor. Eu me encontrei, e você também.
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Era uma raposa
Mystery / ThrillerEsse é um pequeno exercício de escrita inspirado na música "In The Woods Somewhere", do Hozier, a qual eu recomento ouvir antes de ler se você não a conhecer. Eu sempre achei essa música assustadora e misteriosa, se tornou uma das minhas favoritas e...