CAPÍTULO EXTRA FEYRE ACOSF

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– Ora, até que foi melhor do que eu esperava — admitiu Rhys depois que todos tinham ido embora, encostando a cabeça no braço do grande sofá no escritório. Nestha e Cassian haviam voltado para a Casa do Vento, onde minha irmã prometera encontrar um jeito de começar a procurar pelos Tesouros Nefastos. Meu parceiro acrescentou, sarcasticamente: — Apesar do desastre com Elain e Nestha.
Eu tinha acabado de voltar da conversa com minha irmã sobre o bebê — o menino — e encontrei Rhys jogado no sofá, um braço sobre os olhos, aparentemente precisando de um momento de paz depois de aguentar a euforia exuberante de Cassian e Azriel.
Eu me joguei no sofá ao lado de Rhys, levantando as suas pernas musculosas para me acomodar debaixo delas.
— Elain mostrou as presas — observei. — Eu não esperava por isso. — Ou pelo que ela disse sobre os vestígios do trauma. Fui sincera em minha discussão com Nestha. Quantas vezes eu tinha me concentrado apenas no meu terror enquanto Elain sofria?
Rhys me observou com os olhos semicerrados, o retrato da graciosidade ociosa. Mas ele disse, com cautela:
— Como você se sente a respeito disso?
Eu dei de ombros, encostando a cabeça nas almofadas.
— Culpada. Ela direcionou tudo para Nestha, mas eu também mereço.
Elain e eu tínhamos ficado mais próximas desde o fim da guerra contra Hybern. Verdade seja dita, eu talvez jamais saísse para beber com ela como fiz com Mor, e às vezes com Amren, mas... bem, com um bebê a caminho, eu não poderia mesmo fazer isso. E embora eu jamais corresse primeiro até Elain com meus problemas ou para pedir conselhos, tínhamos um entendimento pacífico, amigável. Eu a considerava uma companhia agradável.
Eu me perguntei se ela se ressentiria desse julgamento. Eu certamente sim.
Rhys perguntou:
— Você já viu Elain agir daquela forma antes?
— Não. — Mordi o lábio inferior. O olhar de Rhys acompanhou o movimento. — Quero dizer, ela foi corajosa quando precisou ser, mas nunca gostou de confrontos.
— Talvez ela nunca tenha tido a chance de ser assim.
Eu virei a cabeça na direção dele.
— Acha que eu a reprimo?
Rhys ergueu as mãos.
— Não só você. — Ele olhou ao redor do escritório enquanto pensava. — Mas me pergunto se todo mundo passou tanto tempo presumindo que Elain é doce e inocente a ponto de ela sentir que precisava ser dessa forma ou desapontaria todos vocês. — Ele suspirou, encarando o teto. — Com o tempo e com segurança, talvez vejamos um lado diferente dela surgir.
— Isso parece perigosamente próximo do que Nestha falou sobre Elain finalmente se tornar interessante.
— Às vezes, Nestha não está errada.
Eu olhei com raiva para Rhys.
— Você acha que Elain é entediante?
— Acho que ela é gentil, e eu prefiro gentileza a crueldade. Mas também acho que não vimos tudo o que ela tem a oferecer. — Um canto da boca de Rhys se repuxou para cima. — Não se esqueça de que jardinagem costuma resultar em algo belo, mas envolve sujar as mãos pelo caminho.
— E se espetar em espinhos — observei, lembrando de uma manhã no último verão quando Elain entrou em casa, a palma direita sangrando com vários cortes graças a uma roseira teimosa que tinha furado as luvas dela. Espinhos arranharam a pele dela, deixando farpas afiadas que eu precisei tirar.
Não ousei mencionar que se ela estivesse usando as luvas encantadas que Lucien dera a ela no último Solstício, nada as teria furado.
Eu suspirei, acariciando distraidamente minha barriga ainda reta.
— Vamos nos concentrar em ajudar uma irmã antes de focar em outra.
— De acordo — disse Rhys, arrastando a voz.
Eu fixei o olhar nele.
— Você precisava mesmo dar a Nestha aquele olhar letal mais cedo?
Ele se sentou, o retrato da inocência.
— Não sei do que você está falando, Feyre querida. — Rhys inclinou-se, e o ar brilhou brevemente quando o escudo ao meu redor baixou. Os lábios dele roçaram em minha bochecha. — Eu jamais faria tal coisa. Você deve estar pensando em seu outro parceiro.
— Sim, aquele cruel, superprotetor e semilunático. — Eu sorri quando ele beijou meu queixo, então meu pescoço. Meus dedos se enroscaram.
— Cruel? — Rhys ronronou a palavra contra minha pele. — Você me magoa.
Eu deixei que ele me deitasse nas almofadas, apreciando o peso dele quando Rhys se apoiou nos cotovelos.
— Você parece feliz — disse ele, com um sorriso suave e carinhoso de um jeito que tão poucos no mundo, além de Velaris, viam.
— Eu estou feliz — respondi. — Estou feliz porque nossa família pode compartilhar nossa alegria. — Independentemente do quanto meu relacionamento com Nestha se tornou difícil, um peso saiu de meu peito quando ela nos parabenizou.
— Se você acha que eu sou superprotetor — falou Rhys, com o cabelo preto esvoaçando sobre o rosto —, espere só até Mor voltar de Vallahan. Você jamais vai deixar a casa sem um acompanhante.
— Achei que Azriel e Cassian seriam a maior preocupação.
— Ah, eles serão péssimos. Mas Mor provavelmente acrescentará um segundo escudo em você e verificará seis vezes por dia para se certificar de que você esteja comendo e dormindo o suficiente.
Eu resmunguei.
— Que a Mãe me poupe.
— Hmmm — falou Rhys, os olhos quase deslumbrantes quando ele brincou com a ponta da minha trança.
Por um longo minuto, sorrimos um para o outro. Eu sorvi cada parte elegante do rosto dele, cada brasa de calor e felicidade que irradiava de sua presença.
— Cassian disse que você anda mal-humorado. Por quê?
Eu acreditei em Cassian, mas Rhys não ficava mal-humorado perto de mim. Sempre que meu parceiro me olhava ultimamente, apenas o amor mais puro brilhava em seu olhar.
Eu jamais me esqueceria do momento em que descobrimos que eu estava grávida, carregando o lindo menino que o Entalhador de Ossos me mostrou. Eu estava sentada diante de um cavalete na galeria, tarde da noite, pintando um pesadelo que tivera na noite anterior.
As crianças haviam voltado para casa, e eu era a única ali — o que era incomum nesses dias — e me restava um raro excesso de energia depois das aulas. As coisas que as crianças pintavam costumavam me deixar em lágrimas, embora eu sempre tomasse o cuidado de esconder. Mas apesar da descarga de emoções complicadas que aquele trabalho diário havia despertado em mim, ele se provara gratificante de uma forma que eu jamais havia imaginado. De uma forma que minha magia considerável jamais fizera com que eu me sentisse.
E a única coisa a fazer com aquele sentimento era pintá-lo.
O pesadelo me deixara zonza o dia todo, permanecendo em minha mente como um machucado. Eu estava de volta Sob a Montanha, mais uma vez diante da minha segunda prova, aquelas lanças pontiagudas descendo para me empalar se eu não escolhesse a alavanca certa a tempo. Eu ficava sem conseguir ler de novo, não conseguia decifrar as marcas na parede, era forçada a escolher minha salvação ou minha ruína aleatoriamente. Rhys tinha me salvado na época — mas no sonho, ele não estava lá.
Apenas Amarantha estava lá, o rei de Hybern era uma sombra atrás dela, e por algum motivo ninguém sabia onde eu estava, que eu tinha sido arrastada de volta para lá porque ela descobrira que eu de alguma forma havia trapaceado para passar da primeira vez, e eu nunca escaparia, nunca escaparia, nunca escaparia...
Esse foi o último pensamento que tive antes de me forçar a acordar — encharcada de suor, com o coração martelando no peito. Rhys havia se agitado, me aconchegando ao lado dele, as asas nos cobrindo, e embora eu tivesse me aninhado no calor e na sua força, o sono de verdade não me encontrara de novo.
Então esperei até as crianças irem embora do estúdio antes de puxar uma tela vazia e minha paleta de tintas. Fiz uma xícara fumegante de chá de raiz de alcaçuz com menta e escolhi o pincel.
Estava pintando aquele pesadelo durante quase duas horas, de costas para a porta, quando Rhys entrou. Ele permaneceu completamente calado. Não era o silêncio tranquilo em que ele às vezes caía ao me observar pintando. Era silêncio puro, chocado.
Eu me virei para olhar em sua direção a tempo de vê-lo cair de joelhos.
E então ele chorou, e gargalhou, e tudo o que consegui entender no êxtase balbuciante foi uma palavra: bebê. Eu desci do banquinho. Eu também estava chorando quando me lancei em seus braços, o que nos derrubou no chão, e ele levou a mão à minha barriga, maravilhado.
Alguma coisa tinha mudado em meu cheiro desde que eu havia me despedido dele naquela manhã, talvez desde que eu havia me despedido das crianças. A vida tinha se enraizado dentro de mim, finalmente.
Ficamos deitados juntos no chão, nossas risadas e nossas lágrimas se misturando, e somente quando nos acalmamos eu o beijei. Nossas roupas sumiram depois disso, e eu cavalguei Rhys no piso do estúdio, deixando a luz dentro de mim brilhar tanto que projetou sombras pela sala. Ele começou a chorar de novo quando viu que eu me mexia, lágrimas silenciosas escorrendo pela noite beijada pelas estrelas que se derramavam dele, e quando me abaixei para beijar aquelas lágrimas, ele atingiu o clímax tão intensamente que me lançou em direção ao meu próprio ápice.
E agora, como ele tinha feito repetidas vezes naquela ocasião dentro do estúdio, seus dedos começaram a tracejar círculos gentis em minha barriga até meus seios, já pesados e doloridos de uma forma que não tinha nada a ver com o desejo que se acumulava entre as minhas pernas. Fora um dos primeiros sinais, além dos enjoos que ultimamente tinham se tornado constantes: meus seios inchados e doloridos.
Rhys traçou círculos em um de meus mamilos, que ficou rígido ao toque. Rhys observou a pele se encher de bolinhas através de minha camisa, como um gato vigiando um rato.
— Rhys — eu disse, quando minha pergunta continuou sem resposta. — Por que Cassian disse que você anda mal-humorado?
Ele fechou a boca em torno de meu seio, os dentes roçando em mim sobre a camisa.
— Por motivo nenhum.
— Mentiroso. — Eu puxei o cabelo dele, virando a cabeça de Rhys para cima. — Fale.
Ele se desvencilhou da minha mão e esfregou o rosto no meu pescoço, abaixando o corpo o suficiente para me mostrar exatamente como aquilo terminaria. Eu não consegui impedir meu quadril de se elevar para encontrar o dele. Outra indicação inicial: eu estava com uma fome voraz. E não só de comida.
Houve noites em que eu mal conseguia esperar Rhys entrar no quarto para arrancar as roupas dele, para cair de joelhos e enfiar o pau dele até o fundo da boca, ou pedir que ele transasse comigo apoiado na parede. Houve dias inteiros em que eu senti tanta necessidade dele dentro de mim que usei meus dons de daemati para pedir que ele me encontrasse na casa da cidade durante o almoço, pois ficava mais perto do estúdio do que o nosso novo lar.
Essa casa linda e perfeita que construímos — com um quarto de bebê que, pela vontade do Caldeirão, será ocupado no final da primavera.
Rhys recebera minha voracidade insaciável com a dele. Às vezes íamos devagar, admirando cada centímetro um do outro, a materialização do fazer amor. Outras vezes — normalmente — era uma foda pura, pesada. Naquela manhã mesmo, eu estava tão cheia de desejo que mal conseguimos terminar o café da manhã no quarto antes de eu sentar em Rhys até que nós dois perdêssemos os sentidos de tanto prazer.
Eu perguntei a Madja sobre isso ontem — se era... normal querer Rhys tanto assim.
Sim, foi a resposta dela, com os olhos brilhando. Muitas grávidas não falam sobre isso, mas tem a ver com a essência do corpo se alterando. Não sei lhe dizer o motivo, mas é normal. Aproveite cada momento.
Rhys falou, contra meu pescoço:
— Eu ando mal-humorado porque não estou conseguindo dormir. — Ele lambeu a lateral do meu pescoço, e a mão dele foi até minha calça. Eu não impedi, não quando seus dedos encontraram a umidade que o esperava. Rhys soltou um grunhido de satisfação. — Está vendo?
Eu sabia que ele estava se esquivando da pergunta, mas deixei passar. Aprendi que Rhys me contaria o que o estava incomodando quando estivesse pronto. Talvez Cassian estivesse interpretando errado — talvez aquilo estivesse direcionado para minha irmã.
Eu sabia que era improvável.
Mas quando Rhys deslizou os dedos para dentro de mim, impondo um ritmo maliciosamente preguiçoso, eu deixei passar. Aquilo sempre fora parte da nossa amizade: dar espaço um ao outro para decidir quando estivéssemos prontos para conversar.
E havia nossa barganha final, tatuada em nós desde que derrotáramos Hybern... Eu o beijei intensamente, minha língua se enroscando com a dele. Não passaríamos um momento nesse mundo sem um ao outro. Eu só podia rogar para que nosso filho encontrasse um amor assim algum dia.
Rhys me levou ao limite do clímax, então a mão dele e minhas roupas sumiram. Ele abriu a calça com uma lentidão provocante, observando meu rosto enquanto libertava seu membro de tamanho considerável. Rhys observou meu rosto durante todo o tempo em que deslizou para dentro de mim com um único e poderoso impulso, parecendo saborear cada um dos meus gemidos e das súplicas conforme ele penetrava profundamente em mim.
Como se estivesse memorizando — tudo aquilo.
Quando estávamos os dois ofegantes, o rosto de Rhys ainda enterrado em meu pescoço, meus dedos puxaram distraidamente a camisa dele, encharcada de suor, e eu falei:
— Parece real agora que os outros sabem.
Rhys sabia do que eu estava falando.
— Tem mais uma pessoa para contar.
Eu sorri, puxando o cabelo dele para fazer com que ele olhasse para mim. Ele obedeceu, me encarando.
— Quer contar a Mor ou posso contar?
Ele a conhecia há mais tempo, mas eu a considerava minha amiga mais querida. Uma irmã, talvez mais do que as minhas irmãs de sangue.
— Acho que deveríamos deixar que ele contasse a ela — falou Rhys, olhando para a minha barriga.
Eu arqueei uma sobrancelha.
— Como?
Ele sorriu sarcasticamente.
— Da próxima vez que Mor estiver em casa, vamos descer o escudo em volta de você. E ver quanto tempo leva para que ela sinta seu cheiro. E o dele.
Eu sorri de volta.
— Gosto dessa ideia. — Eu queria que houvesse um modo de capturar o rosto de Mor no momento em que ela descobrisse. Passei a mão pelo cabelo sedoso de Rhys. — Você tem algum nome em mente?
Rhys sorriu.
— Ah, sim.
— Não confio nesse sorriso nem por um momento.
— Por quê? — Ele se afastou de mim, e com uma nova onda de sua magia, nós dois estávamos limpos. Eu contive a fome crescente em mim quando o vi se guardando de volta na calça. — Eu jamais daria algum nome ridículo.
— Não acredito em você. — Eu dei uma batidinha no nariz dele. — Seu nome de família...
— Não vamos falar do meu nome de família — disse ele, mordiscando a ponta de meus dedos.
Eu gargalhei.
— Tudo bem.
Mas seu olhar ficou sombrio.
— E se dermos um nome em homenagem a seu pai?
Meu coração se apertou.
— Não seria um problema para você?
— É claro que não.
Eu precisei engolir o nó em minha garganta quando me sentei, encarando Rhys por completo.
— Talvez um nome composto, um segundo nome... não. Eu quero que nosso filho tenha um nome só dele.
Nosso filho. As palavras soaram estranhas, mas lindas em minha língua.
Rhys assentiu para mim, sua expressão se suavizando como se as palavras também o tivessem comovido.
Eu já conseguia ver o pai que ele se tornaria — eu o via rindo enquanto ele brincava de jogar nosso filho para o alto, eu o via caindo no sono com o menino naquele mesmo sofá, livros abertos no colo deles. Nosso filho jamais, nem por um momento, duvidaria que era amado e adorado. E Rhys iria até o fim do mundo para protegê-lo.
Eu sorri pelos devaneios, as mãos já latejando para pintá-los.
Rhys soltou um murmúrio de contemplação.
— Que tal Nyx?
Eu pisquei.
— Nyx?
Rhys apontou para uma das paredes de livros do escritório. Um livro com encadernação de couro flutuou até os dedos abertos dele. Calado, Rhys folheou até uma página, então o passou para mim.
Eu corri os olhos pelo texto.
— Uma antiga deusa da noite?
— Da época dos Tesouros, na verdade — falou Rhys. — Ela foi praticamente esquecida, mas eu gosto de como o nome dela soa. Por que não usar para um menino?
— Nyx — eu refleti de novo, o nome ecoando no escritório silencioso. Passei os dedos tatuados pela barriga. A mão de Rhys repousou sobre a minha e nós dois sorrimos para a pequena vida que se formava dentro de mim.
— Nyx — eu repeti, uma última vez, e podia ter jurado que um tremor de poder beijado pela noite se elevou em resposta.
Rhys inspirou profundamente, como se ele também tivesse sentido aquela semente de poder.
Juntos, nós olhamos para nossas mãos unidas, minha barriga sob elas.
Juntos, olhamos para nosso filho, e ofereci meu agradecimento silencioso à Mãe pelo lindo futuro que florescia diante de nós.

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⏰ Última atualização: Mar 08, 2022 ⏰

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