Ela acordou naquele dia sem saber que seria um dia que ela se arrependeria de ter vivido. A decisão que ela tomou foi pensada com cautela, sem querer ferir e ele era muito intuitivo para não perceber o distanciamento. Logo notou a diferença e a intenção dela. É importante dizer que foi bem tranquilo. Ele veio até ela com um algumas compras de mercado. Deixou sobre a mesa e procurou um beijo em sua testa.
Ela ainda usava o moletom que havia dormido, ele estava suado da academia. Ele acordava cedo, era mais assíduo do que ela aos exercícios. Ele também tinha um semblante abatido no rosto. Evitava olhá-la nos olhos, mesmo que ela desejasse que se olhassem.
— Eu vou para Dublin.
— Eu sei. Vi as suas malas na sala. Que horas é o voo? Quer que eu te leve?
— Não precisa, eu vou com o motorista. – Ela respondeu tranquila. Ele parou de passar o creme de amendoim no pão integral.
— Eu posso te perguntar uma coisa? – Ele a mirou da bancada. Eles estavam de frente um para o outro.
— Diga.
— Por que?
— Você entendeu. – Ele fez um sinal com a cabeça.
— E poderia ficar muito chateado se achasse que você ia terminar comigo depois de tudo que vivemos ontem a noite, mas eu te conheço tão bem, que não posso achar que esse foi o seu jeito de dizer adeus.
Realmente não tinha sido, é porque ela não sabia como terminar. Como fechar essa página e quando ele apareceu para dormir na casa dela como sempre fazia, dia sim e dia não. Ela se questionou...e se estivesse se precipitando? Todos os relacionamentos tem altos e baixos, foi o que disse sua amiga e irmã. Casada a sete anos com um cara incrível. Ela tinha vasta experiencia para dizer, que a irmã caçula tinha que esperar.
Ela não o fez.
Só que a dúvida pesava mais que a certeza e ela odiava se sentir em cima do muro. Ela não costumava postergar as coisas, cozinhar em banho maria nenhuma das decisões em sua vida. Ela preferia mover as velas do que esperar os ventos soprarem em seu favor. É bem verdade, que se deu muito mal fazendo isso algumas vezes, mas ela aprendeu a ter bem menos medo de errar.
E não é como se as coisas estivessem funcionando bem para eles nos últimos meses.
— Foi uma despedida. – Ela confessou. Ele abaixou a cabeça. Estava decepcionado, mas não furioso com ela. Ele simplesmente não conseguia perder a cabeça com essa mulher. Ele sentiu que era mesma um desfecho, talvez por isso a amou com mais carinho do que todas as outras vezes. Ele sentiu que era a ultima.
— Eu acho que o fato de eu ter recebido uma proposta de morar em Dubai e trabalhar lá para a empresa, deva ter influenciado nisso. Você acha que a gente não vai poder dividir uma vida juntos, com você aqui em Londres e eu lá. Se for esse o caso... – Ele não tinha um argumento muito bom, mas ele encontraria um assim que ficasse mais calmo. Suas mãos tremiam.
— Não é só isso.
— Foi o pedido de casamento, então? – Ele perguntou tentando entender.
Ele era um cara muito diferente de todos que ela teve ao seu lado. Ele não gostava de pompas, de luxos, nem vida dentro do holofote. Embora, namorar uma pessoa famosa de alguma forma tenha colocado ele em evidência. Nunca reclamou disso e sempre manteve sua relação bem longe da mídia.
Por isso, talvez, ele tenha preparado aquele jantar na casa dela para pedi-la em casamento. Ela voltou de uma viagem a trabalho e encontrou a casa com as luzes ligadas e cheirando a tempero. Era possível ouvir o chiado das panelas e um rock baixinho tocando na Alexa.