Reflexões

Vícios

Quarenta e três dias, doze horas e três minutos sem fumar. Quarenta e três dias e doze horas sem beber. Quarenta e três dias sem você.

Minha psicóloga - sim, eu tenho uma psicóloga - achou uma boa ideia eu controlar os meus vícios em uma tabela. O cigarro veio primeiro, após o doutor dizer que meus pulmões já estavam bem ruins. Sabendo quem eu sou, decidi parar de beber também. Sabia que eu iria beber para não fumar e que provavelmente acabaria apenas trocando uma morte pela outra. Por isso fui ao bar, acendi meu último cigarro e pedi duas doses, uma para comemorar meu último cigarro e outra para aguentar ficar sem fumar.

Cheguei em casa e tentei ler um livro, sem sucesso. Peguei papel e caneta, e rabisquei sentimentos que nunca iria compreender. Aquilo não estava funcionando, acabaria morrendo de tédio. Liguei para ela, disse que tava sofrendo e que não conseguiria passar por aquilo. Ela veio, me fez um cafuné, um café e me levou para a cama, abriu meu zíper e mostrou tudo que ela sabe. Não lembro de já ter me divertido tanto.

Pela manhã, vendo ela dormir, soube o que tinha que ser feito. Aqueles tinham sidos os três melhores anos de relacionamento da minha vida, mas o caso com o cigarro e a bebida já duravam vinte anos. Não queria ser o babaca que termina um relacionamento depois de uma transa tão boa, mas não queria ser o babaca por quem ela choraria numa cova. Me conhecia bem o suficiente para saber que eu precisava depender de algo, que eu queria depender de algo.

Passei quarenta e três dias trancado em casa, escrevendo textos, tomando cafés e olhando sites pornôs a noite toda. Tentava provar para mim mesmo que poderia viver sem aquilo, que poderia ter uma vida saudável e merecer ela. Quarenta e três dias, doze horas e alguns minutos, foi o tempo que demorei para abrir aquela garrafa de whisky no armário e comprar dez maços de cigarro. Eu estou morrendo, mas os meus vícios eu levo comigo.