— A jovem já foi embora, milorde. Talvez queira dar uma volta no jardim esta tarde...
Hunter olhou o valete por cima do ombro, o que tinha a ver a jovem ir embora, com uma volta no jardim, ou melhor, o que ele sabia sobre a jovem que nem era tão jovem assim?
— Estou tentando entender o que está insinuando com isso, Oswald. Mas posso apostar minha perna ruim que irá me explicar — disse com enfado óbvio.
Há dois dias, ao deixá-la sozinha no jardim, de uma forma nada cavalheiresca, o duque não mais a vira, também não se esforçou para sair de casa, caminhar ou nada parecido, como o doutor Armstrong indicou. Chegou a sentir uma pequena coceira em sair para o jardim ao ouvir a voz dela chamando o cão naquela manhã, contudo não se dignou a sequer olhar em sua direção.
Naquele momento, seu olhar estava preso no valete, esperando uma resposta. O duque permaneceu sentado na poltrona, a coluna ereta, as mãos juntas sobre o brasão da bengala, vestido impecavelmente.
Ao ver o valete procurar palavras, voltou sua atenção para os papéis ao lado, que o administrador lhe tinha trazido mais cedo.
— Peço desculpas, milorde, mas acabei por vê-los anteontem no jardim. Não que eu estivesse bisbilhotando, apenas procurei pelo senhor. Quando os vi, pela janela, tive a impressão de que pareciam bastante próximos.
— Oh, isso? — desdenhou, como se pouco importasse o que ouvia. — Eu a conheci na tarde em que saí a cavalo, Oswald.
— Então, era ela que o acompanhou naquele dia. Por isso, perguntou-me pelo sobrenome da jovem — Oswald especulou.
— Sim, de fato. Uma senhorita energética — concluiu Hunter, por fim, achou que aquilo bastaria, mas o valete voltou a falar:
— Devo concordar, senhor. Um tanto diferente, não é?
Hunter sabia, o valete sempre queria chegar a algum lugar e poderia apostar, novamente, sua perna ruim, que Oswald o contratou apenas por reconhecer o sobrenome. Parou o que estava fazendo, deixando outra vez os papéis de lado.
— Quer dizer realmente algo com isso, Oswald? Se quer, aconselho que seja direto e pare de rodeios, homem! — Observou o valete, que sorriu.
O fato de ter os serviços do valete por tanto tempo, talvez tivesse trazido a intimidade incomum entre patrão e um empregado. Contudo, Hunter gostava de olhá-lo como um amigo, não o reprimia ou exigia mais respeito dele, não como deveria.
— Não, milorde, não ousaria. Mas gostaria de ressaltar; há muito tempo o senhor não conhece uma dama, tampouco troca palavras com uma.
O duque levantou as sobrancelhas, não queria admitir, mas as palavras que a senhorita Craw lhe dissera, mexeram com ele e ainda não tinha decidido se fora de forma boa ou ruim. Mas ao falar de sua masculinidade... nesse momento, sim, Hunter a sentiu acertá-lo no peito.
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Um Casamento por Conveniência
RomanceROMANCE DE ÉPOCA HOT Enquanto a temporada de bailes de 1817 fervilha na alta sociedade londrina, Hunter, o Duque de Austen, prefere se manter afastado de todas essas frivolidades, limitando-se à sua propriedade no campo, onde pode se esconder dos o...