As Três Terças-feiras importantes à Yoobin

1 0 0
                                    

Seunghee, Yoobin e Mihyun combinam uma reunião na biblioteca da escola para estudar, já que as provas estão próximas. Nesta pacata terça-feira, o local está praticamente vazio. A Bae diz que levará um tempo a mais, já que ainda tem os afazeres do Conselho Estudantil. Assim, Hyun começa a reler a teoria e a refazer alguns exercícios, enquanto a Kim brinca com os chaveiros na mochila da namorada — que a tinha deixado ali. Ela diz que começará a estudar quando a outra retornar.
 Enquanto isso, Yoobin espera pacientemente para entrar na sala, já que ali estão, conversando com Hyojung, Shiah e Jiho. Não sabe ao certo o porquê de não gostar delas, além de desconfiar que têm a ver com a confusão em relação ao seu namoro com Mihyun. No fundo, ela é assim com qualquer um exceto suas amigas. Sempre recuando, sempre passando por trás para não ser vista... mesmo que perca um pouco de tempo, ela não consegue lidar com o excesso de informações. É melhor, então, não ser vista.
 — Cara, eu sou péssima nisso. Vou ter que esperar a Binnie voltar. — Mas Mihyun não presta atenção. — Mimi?
— Ah... desculpa. Eu ‘tô meio perdida.
— Deu ‘pra perceber. — Ri.
— O que você tinha dito?
— Que eu não consigo resolver estes exercícios de história, e sabendo que a Yoobin consegue, eu vou esperar ela voltar ‘pra ela ajudar.
— É melhor... eu não consigo estudar se ela não estiver por perto. Se não estiver resmungando e toda rabugenta. — A Kim fala em um tom apaixonado, apoiando-se à mesa e segurando o rosto com as mãos. — É estranho eu gostar tanto desse jeito dela?
— Eu não sei direito o que vocês têm... mas a Yoobin também fica assim quando fala de você.
— Sério? — Os olhos de Mihyun brilham.
— Claro que sim... vocês duas são meio bobas, né? Cara, como era tenso há o quê...?
— Um ano, três meses e 18 dias. — Ela sabe certinho.
— É, é... então, até há um ano e pouco, era tão... estranho... estar com vocês. Dava para perceber o quão nervosas vocês estavam, mesmo que nós três fôssemos amigas de infância. — E vocês duas sempre me puxam cada uma para um lado. Quando vocês discutem ou quando vocês têm coisas melosas para falar... eu sempre sei de tudo. — Finge estar orgulhosa.
— Você pode contar o que a Binnie fala?
— Não! Ela me faz jurar que não vou contar ‘pra você. Mas nunca é nada demais, sabe? Ela que não gosta de admitir que é tão “fofa” quanto você. — Porque Mihyun é do tipo que grita “EU AMO VOCÊ” aleatoriamente e Yoobin é do tipo que diz: “Cala a boca idiota, tem gente aqui!” e, depois, um “Eu também amo você.”, bem baixinho.
 Mihyun resmunga como resposta. Logo, elas ouvem os passos fortes e apressados de Yoobin.
— Oi. — Ela diz ao se sentar do lado da namorada e as outras a cumprimentam. Elas ficam alguns segundos sem saber se falam alguma coisa a mais, até que Yoobin fala. — Gente, não dá. Eu ‘tô exausta. — Mihyun prontamente a abraça e faz cafuné. — Quando eu cheguei em casa, precisei ficar organizando um monte de coisa... tive que chegar mais cedo hoje... e o professor brigou comigo porque eu esqueci o livro de física.
— Yoob, se o Conselho Estudantil estiver deixando você mal, então... — Seunghee começa a sugerir algo.
— Não, não! Eu não posso desistir disso, sabe?
— Mas se isso cansa você... — Mihyun comenta e, nisso, Yoobin sai do seu abraço.
— Não! Eu gosto do que eu faço! E não quero simplesmente desistir. Só fico cansada, mas é normal. — Ela se acalma do nervosismo momentâneo. — B-bom... vamos estudar então?
— Tem certeza que você consegue?
— Claro! — As duas não se convencem, mas a Bae até consegue ter um pouco de produtividade. De fato, ela está exausta, além de todas as obrigações, também têm algumas outra dificuldades emocionais que a abalam.
 Depois de mais ou menos uma hora, elas decidem fazer uma pausa e vão ao banheiro. Yoobin diz que esqueceu algo na sala de aula e pede para Mihyun acompanhá-la.
— A gente... não precisava... — Diz ofegante. — subir as escadas... correndo...
— Desculpa, você sabe que a minha ansiedade tá a mil. — Yoobin responde.
— Tudo bem... beba um pouco de água. — E Yoobin sempre tem uma garrafinha em mãos. — E tente se acalmar um pouco. — Nisso, elas entram na sala. — O que a gente veio buscar? — Yoobin fecha a porta e se aproxima de Mihyun.
— Eu só queria abraçar você um pouco. — E o faz. — A gente pode ficar assim um pouco?
— Claro que sim. Eu gosto tanto quando você resolve me abraçar.
— É geralmente você, né? Desculpa... — Elas não conseguem se ver, mas é como se soubessem exatamente qual cara a outra está fazendo. — Mimi...
— O que foi?
— Às vezes,,, eu sinto um pouco de medo. Você sabe que, no geral, eu já sinto bastante medo, de coisas normais e de coisas muito específicas, que provavelmente nunca vão acontecer. — Ela para um pouco. — Mas, do nada, tenho medo de você não gostar mais de mim. — Aperta mais o abraço.
— Binnie... já faz muito tempo que eu não gosto de você. Porque eu amo você. Sabe que eu sou desajeitada e que são poucas as coisas que eu faço bem... mas eu sou sincera quanto aos meus sentimentos. Não há nada nesse mundo, que você faça ou que outros façam, que vai tirar isso de mim. Eu amo você mais do que você pensa. E, por favor... — Alivia um pouco o abraço para poder olhar diretamente à Yoobin. — Saiba que você não é a única que tem dificuldades ou inseguranças. Eu também tenho... e eu confio em você para contar isso, então quero que você faça o mesmo. Tudo bem, sabe? Nós ainda temos muito tempo para trabalhar no nosso relacionamento e, com nós mesmas. Não fique tão aflita... eu sou a última pessoa no mundo a julgar ou a desmerecer você.
— Obrigada, Mimi... eu também amo você.
— Posso ser sincera? Quando nós elevamos o nosso status de amizade para um namoro... — Ela cora um pouco. — Eu pensei que fosse ficar mais tranquila. — E ri. — Mas quanto mais confortável eu me sinto, mais nervosa eu me sinto. Quero que nós duas possamos nos sentir bem na companhia uma da outra; mais do que nos sentimos com qualquer outra pessoa.
— Eu não sabia que você se sentia assim...
— Ei, eu sou menina também, viu? Meu coração também dói quando eu penso em você. Eu também fico vermelha e eu também fico boba pensando em você. Tudo que você sente, Yoobin... é recíproco.
 Quieta e concentrada, Seunghee grifa e faz anotações no livro enquanto ouve uma playlist de músicas calmas, que sempre a ajudava. Não percebe, então, que não está mais sozinha e sim, em companhia.
— Oi! Oiii! Seunghee?
— Ah! Oi, desculpa! Eu ‘tô de fone, aí não ouvi.
— Tudo bem. — Sorri. — Posso sentar aqui?
— Desculpa, a Yoobin e a Mihyun já estão nessas cadeiras...
— Posso sentar do seu lado, então?
— Po-pode. — Caramba Seunghee, não vai gaguejar agora, né? Ela dá espaço para sentar ao seu lado, enquanto Shiah pega outra cadeira.
— O que você ‘tá estudando?
— Literatura.
— Que legal. — Yoo pega seu livro também. — Você pode me ajudar a estudar?
— Claro, no que você tem dificuldade?
— Eu nem sei o que cai na prova. — Seunghee trava por um momento, até voltar à Terra.
— ‘Tá... vai ser difícil, mas eu ajudo. — Elas começam a estudar, mas Shiah logo muda de assunto:
— Eu gostei do livro que você me indicou... mas tem algumas partes estranhas. Acho que eu não fui feita para entender dessas coisas.
— Não vou mentir, há partes que eu não entendo também. A mente dela é muito complexa, mas, mesmo não entendendo, eu gosto bastante.
— Hehe. — Shiah fica olhando à Seunghee, sorrindo e provavelmente um pouco nervosa, mas a Hyun não sabe decifrar o significado disso. — Viiiu... você quer sair fazer alguma coisa?
— Ah, oi. — Yoobin diz, entrando na biblioteca junto de Mihyun, antes que Seunghee pudesse responder.
— Oii! Então, a gente ‘tava pensando — ‘A gente? Calma, eu nem falei nada.’ — em dar uma passeadinha no shopping. Vocês vêm? — Shiah as convida. Mesmo que Seunghee ainda não tivesse concordado.
— ‘Tá, pode ser. — Mihyun responde e Shiah sorri. Claro, ela aceitou para poder se livrar dos estudos, mas Yoobin não parece feliz.
 Elas vão à mesa pegar suas coisas e, quando as outras não estão olhando, Binnie sussurra à Seunghee “Você não acha estranho?” e dá “aquele” olhar que é típico dela: seus olhos não tinham brilho e, no geral, parecia estática. É um “provavelmente nós vamos nos fuder ou chorar muito daqui a pouco”. E, muitas vezes, é isso mesmo que acontece. Seunghee responde apenas com um movimento dos ombros, como se dissesse “sei lá”. A diferença entre as três é que Mihyun aceita praticamente tudo, Yoobin quase não aceita nada e Seunghee, bem... aceita, mas na maioria das vezes só fisicamente, porque sua mente sempre vai para outro lugar.
 Decidem ir para um dos Shoppings mais próximos da escola. A Kim acaba sendo levada pela conversa de Yoo, então acaba indo na frente com ela. Enquanto isso, Yoobin continua com cara de poucos amigos, atrás. E Seunghee não sabe o que fazer. Logo, elas precisam parar a fim de atravessar pela faixa. Nisso, Mihyun se vira e olha para a Bae com carinho e a estende a mão para que pudessem atravessar a rua juntas.
 Mesmo depois de chegarem ao outro lado, ela não quer soltar. Mas Yoobin tem outras preocupações.
— Mimi... eles vão ver. — “Eles”. Isso sempre é um problema. Os olhares a sua volta... desde pequena, isso já a incomodava. Mas depois de ter sido basicamente ‘exposta’ sobre seu relacionamento, seu nervosismo piorou.
— E daí? — Ela sorri.
— Você sabe que isso pode ser um grande problema. — Mas Mihyun segura a namorada mais firmemente (sem doer).
— Yoobin... ninguém vai perceber. E, se algo acontecer... eu protejo você.
 Enquanto conversam, Seunghee e Shiah tentam iniciar uma conversa também. Mas tudo é estranhamente vergonhoso e tímido. Então, perdidas nisso, elas não percebem que as outras duas também estão ‘no meio de algo’.
— Não é sobre isso! — Yoobin eleva um pouco sua voz, fazendo as outras se virarem. Mihyun olha preocupada. Isso desestabiliza-a muito, que fica sem reação por um tempo. — Eu não... eu não me importo comigo, Mimi. Eu não quero que você se machuque. Por favor, não se iluda pensando que esse mundo vai nos aceitar tanto quanto nós aceitamos uma a outra. — Diz com a voz falha e quase chorando. — Eu não consigo fazer mais nada sem me sentir culpada, como se estivessem me perseguindo o tempo todo. Eu tenho 17 anos e estou muito mais estressada do que eu deveria. — As outras continuam paradas e sem saber o que fazer. — Você, Shiah. Você sabe muito bem do que eu estou falando. Eu não vou dizer que a culpa é sua, mas... você não fez nada para impedir que isso acontecesse.
 Seunghee e Yoobin viraram amigas por um motivo: não gostavam de ser o centro das atenções. As duas eram muito pacatas e sempre acabavam despercebidas pelos seus colegas de classe — a não ser quando eles estavam buscando vítimas para fazer bullying.
 Mihyun veio depois, de uma outra cidade. De início, conseguiu ser amiga de Seunghee bem fácil, mas demorou para conseguir a amizade de Yoobin. Logo, as duas não se desgrudavam e Yoobin não conseguia fazer nada sem Mihyun por perto. Pedia ajuda até para o que não precisava, ficava na casa dela até os pais ligarem brigando e usava qualquer momento como oportunidade para ficar mais próxima da loira. Contudo, assim que o fez, as coisas mudaram um pouco.
 Após uns três anos de amizade, parecia que tinha voltado à estaca zero. Yoobin ficava extremamente nervosa e se irritava com Mihyun facilmente. Mas, nunca queria deixar de ficar ao seu lado. Por vezes, a mais velha tentou contornar a situação e tirar uma explicação de Yoobin, mas nunca conseguiu.
 Até que, em um dia que parecia normal demais para ser verdade, Yoobin estava extremamente feliz e animada. As três estavam em um café novo, pequeno, mas muito aconchegante, que tinha acabado de abrir. Naquela ocasião, Seunghee precisava sair mais cedo, então as outras duas acabaram passando o resto da tarde juntas. A Bae se sentiu tão bem, que tudo que a deixava inquieta, tinha sumido dali (não que o problema fosse Seunghee). Elas resolveram estender o passeio daquela tarde com uma caminhada, em um parque não muito movimentado, já que era uma terça-feira bem chata.
 Elas aproveitaram seu tempo juntas, conversando sinceramente sobre várias coisas. E também tiraram fotos para enviar à Seunghee, que no momento estava sofrendo com a sua boca anestesiada depois de ir ao dentista. Foi, então, ao tirar uma foto de Yoobin segurando uma flor, que Mihyun disse algo como "Você é tão linda." Seus "instintos" diziam para ela agir com indiferença ou até indignação. Mas, não conseguia mais fingir. Aqueles sentimentos guardados e amassados queriam sair. Todas as cartas que escreveu à Mihyun queriam ser lidas.
 Achava bobo, mas começou a chorar. Nesse dia, aprendeu muito sobre a pessoa que ela amava. Diferente dela, Mihyun não achava bobo chorar, tanto de tristeza, quanto de alegria. Para ela, era normal e bonito. Naquele dia, ela conseguiu contar à Mihyun sobre seus sentimentos. Mesmo com todos os "e se" e "talvez" pairando sobre si. Com todo o carinho e com o sorriso mais lindo e sincero que ela já tinha visto, Mihyun deu à Yoobin certeza de que sentia o mesmo. Depois de alguns dias, elas começaram a namorar. E, logo depois, tomaram coragem e contaram à Seunghee, que achou a notícia ótima e as deu todo o apoio possível. Porém, nem todos reagiram assim.
Elas eram discretas, mas também não tinham percebido que alguém poderia fazer algo ruim. Yoobin tinha finalmente conseguido seu lugar no Conselho Estudantil, o qual concorreu contra o melhor amigo namorado de Jiho. Foi difícil, mas ela venceu. Tudo parecia estar indo bem. Mesmo com os afazeres complicados e seus estudos, sua agenda estava equilibrada. Ela tinha tempo para estudar e se divertir (que, no mundo de Yoobin, era sinônimo de estar perto de Mihyun e Seunghee, ouvir um pouco de música e procurar um hobby novo a cada quatro meses). Então, já que o resto corria bem, algo ruim deveria acontecer. Certo? Claro que sim!
Chegando na escola, em uma terça-feira mais distante da última, (junto de Seunghee e Mihyun), é recebida por vários olhares diferentes. Alguns que pareciam rir, outros que pareciam estar enojados e outros que pareciam ter pena. Não demorou muito para perceberem que todos tinham “descoberto” sobre o seu namoro. Além de terem criado uma conta no Twitter APENAS para expor o caso, fizeram questão de deixar todos da escola cientes disso. Todos estavam cochichando sobre isso e fizeram questão de colocar a “fofoca” impressa nos murais da escola.
 Yoobin não perdeu seu cargo no Conselho Estudantil, mas além de precisar fazer terapia semanal (antes era uma vez por mês) mesmo assim se sentir mal constantemente, e o que piorava a situação era que, diferente da sua, a família dela não aceitava o relacionamento delas. Depois de um tempo, as pessoas começaram a achar outros infortunados para fazer bullying, mas vira e mexe, elas sofriam alguns ataques e piadinhas. Aos poucos, conseguiu retomar um certo “respeito” como representante de classe, mas só por mostrar uma Yoobin fria e ríspida, apesar de ter decidido entrar para o Conselho Estudantil porque queria ser mais proativa, próxima das pessoas, poder ajudá-las e fazer novos amigos. Contudo, a Yoobin que se mantinha cautelosa e quieta, era a mesma que chorava e frequentemente lidava com suas crises depressivas e de ansiedade.
— Binnie... — Mihyun tenta chamar por ela, mas a garota se vira para ir embora. As outras ainda estão muito travadas para conseguir falar algo. Mas uma mão segura seu braço firmemente.

NE♡NOnde histórias criam vida. Descubra agora