Capítulo 1: Vante

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Não sei explicar o que me levou a andar por aqueles corredores vazios e silenciosos, talvez  o fato de que a luz do sol entrava pelas janelas altas e pequenas, deixando uma luz natural e amistosa colorir as paredes claras.

Também não sei explicar se o que eu sentia era algo singular entre as pessoas, algo que apáticos não poderiam entender se eu tentasse explicar com as mais explicativas e óbvias palavras, como explicar que tu que vejo se transformar em arte?

Naquele momento, a luz que coloria o ambiente (que tenho certeza que sem ela, tudo estaria sem graça) desenhava uma imagem na minha mente. Uma lembrança de um momento dos últimos 20 anos da minha vida, que eu não lembrava que momento era esse, mas me dava uma sensação de segurança e afeto, como quando nossa mãe nos pega no colo após chorarmos alto por alguma fatalidade dos nossos primeiros anos de vida. Uma sensação de que eu estava fazendo a coisa certa andando por aquela forma de arte.

Talvez seja por isso que eu continuei andando por aquele corredor.

Mas por qual motivo eu parei antes de chegar ao fim do corredor , em frente a uma das inúmeras portas que, até cinco segundos atrás parecia igual a todas as outras daquele universidade, exceto por ele.

Ele. Talvez seja por isso que eu parei naquela porta.

Porque diabos aquele garoto estava sozinho naquela sala de universidade durante um domingo de sol? Não tinha amigos, por acaso?  Ele tinha uma faixa cinza segurando os fios um pouco crescidos e muito pretos. Por Deus, ele realmente estava pintando um quadro branco sem pincéis, usando os próprios dedos?

E então foi como se uma lâmpada se ascendesse na minha cabeça. Eu estava lá parada, encarando esse desconhecido por pelo menos uns sete minutos, por que ele era como arte.

E então ele me viu.


- Quem é você? - A voz grossa não combinavam com o biquinho que se formou enquanto ele falava, ou como suas bochechas pareciam maiores quando mantinha uma expressão de curiosidade e atrevimento.

- Por que está aqui sozinho? - De repente aquilo virou um jogo de quem quebraria o contato visual primeiro.

- Quem é você?

- Por que está aqui?

- Vamos fazer isso o dia todo? - Ele apoiou as mãos nas coxas descobertas pelo short preto, sem se preocupar se iria manchá-lo.

-Posso fazer isso o dia todo. - Cruzei os braços e me apoiei no canto da porta.

- Qual o seu nome? - ele se levantou, sem se preocupar com a tinta nos dedos novamente, mas formando um caminho colorido pelas coxas. Arte.

- Reformular a pergunta não vai me enganar.

- Você estava me vigiando aqui como uma espécie de encosto, e eu não posso nem saber seu nome para pedir um boletim de ocorrência?

- Não estava vigiando você! Estava vendo aquilo. - Em um momento de desespero a primeira coisa que passou na minha cabeça foi o quadro que estava pintando.

- Minha pintura? Você pinta? - Ele pega um pano manchado que estava na mesa dos pincéis e começa a limpar os dedos.

- Não.

Com amor, Vante.Onde histórias criam vida. Descubra agora