1. pressentimento

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— park jimin, coloca o lixo pra fora. hoje é sua vez! — jin, seu irmão mais velho, ordena enquanto se deitava esparramado no sofá descascando uma banana.

— wah, hyung. eu tô ocupado agora. — jimin suspirava, tentando resolver um problema enigmático: seu dever de literatura. batia o lápis em sua testa levemente, tentando fazer circular mais sangue na região, como se fizesse efeito, ainda assim, acreditava nessa teoria que ele mesmo criara.

jimin sentia suas costas queimarem, como se o ferroar dos dentes de uma serpente estivesse o espetando pouco a pouco. poderia até doer, se ele não soubesse que do sofá da sala de estar, estava lá a causa dessa pequena coceira em seu tronco. ele se vira de súbito e encontra as orbes raivosas de seu irmão o fitando fixamente, como se disessem “isso é uma ordem!”.

querendo evitar atritos num dia tão bonito, o park suspira, batendo seus pés até a cozinha, pegando o saco de lixo e amarrando sua boca. ao caminhar para fora de sua residência, sentia o vento balançar sua camiseta e bagunçar seus fios iluminados. de fato, estava um dia lindo em daegu.

atravessando a pequena varanda, saía para fora de casa, se encontrando entre a calçada e a rua onde morava. seus pés descalços sentiam as vilosidades ásperas da calçada, porém, seus olhos captavam outra coisa: a loja de plantas que ficava no começo da rua.

jimin sempre se atraiu pelo verde das plantas, até cogitou em pintar seu cabelo de verde para combinar com seu pequeno cacto em sua janela – que para ele era sem graça – ou com o cabelo mentolado de kylie jenner, que havia visto numa revista de moda curiosamente encontrada na biblioteca municipal. em meio a tudo isso, cuidava bem do pequeno amigo espinhoso.

sua vitrine era de vidro, podendo-se observar claramente a diversidade de plantas dentro do local. o park se impressionava com tamanha beleza e exuberância que cada folha tinha, com seu formato e tamanhos diferentes. se encantava com a cor das flores exóticas e com seu cheiro.

a loja era ministrada por um senhor gentil do pequeno bairro, carinhosamente chamado por todos de senhor han.

o park nunca tinha adentrado o recinto, mas morria de vontade de entrar e fazer amizade com aquele senhor gentil e por consequência, passar as tardes ali em meio ao ar puro e climatizado. por incrível e fácil que parecesse, eram poucos metros para ele realizar seu desejo, mas uma coisa o impedia de completar esse desejo: o garoto de avental.

o garoto de avental era kim taehyung: que tirou o ar de jimin desde a primeira vez que ele passou na frente da fachada para observar as plantas de relance e se deparar pela estonteante beleza e milimétrico cuidado de taehyung com tudo ao seu redor.

para park, aqueles poucos segundos observando taehyung, fez sentir seu mundo congelar e sua mente repetir sua imagem incessantes vezes. era confuso entender o porquê de seu coração acelerar, sua respiração descompassar e sua barriga borboletear de nervosismo. porém, soava certo e park jimin sabia mais do que ninguém que sentir amor, independentemente da identidade de gênero, é sempre o certo e a melhor coisa para se sentir.

para o garoto de cabelos escuros e avental, detrás da vitrine e com vasos de cerâmica nos braços, era mais um dia de trabalho que teria de enfrentar. porém, gostava do que fazia e esboçava um sorriso largo em seu rosto transmitindo isso.

kim taehyung trabalhava na “sigmul gage”, ajudando senhor han com seus afazeres e morava sozinho noutro lado da cidade. não tinha um irmão mais velho mandão e muito menos uma troca de afetos de qualidade, sua única família era seu amigo hoseok e o senhor han.

seus pais nunca tinham sido presentes, quando atingiu sua maioridade, saiu da casa de seus antigos responsáveis e passou a morar só. mês após mês, recebia dinheiro de seus pais para ajudá-lo a se manter mas com o tempo, conseguiu um emprego como ajudante na loja de plantas do senhor gentil, como carinhosamente o apelidara. quase todos os dias, ele acordava cedo e se dirigia para a “sigmul gage”: situada num bairro rural de daegu, afastado do urbanismo caótico em que vivia.

a loja de plantas de kim taehyung, vminOnde histórias criam vida. Descubra agora