Utopia

Promete? Prometo.

Talvez eu esteja fadado ao fracasso. Apenas devo aceitar... acho que foi um erro tentar ser um representante aqui. Christian parece ter mais vontade disso do que eu.

Ele deve ser o tipo de pessoa que desconta suas frustrações nas outras pessoas quando se sente magoado... eu me sinto culpado por ter causado isso. E eu não quero continuar com essa ideia.

A sala estava uma bagunça, como o normal antes das aulas se iniciarem. Eu havia acabado de chegar e estava na minha carteira, continuando sem nenhuma dupla ao lado. Ana estava tirando um cochilo e Melany pintando as unhas, como de costume.

— Aí pessoal. Foco em mim. — Christian diz, literalmente meio segundo após chegar.

Todos pararam o que estavam fazendo e voltaram olhar sobre ele. Logo em seguida, o professor Abel chegava na sala.

— Antes de tudo começar, eu só queria dizer que o representante da sala agora sou eu. — Ele exibiu um sorrisinho ao terminar a frase, como se estivesse satisfeito.

— Mas pera aí, não era o Nicolas? — Ana acordou no mesmo segundo e virou seu olhar para mim.

— Não estou entendendo nada. — Eu ouvi pessoas dizendo.

Muitas pessoas começaram a se questionar sobre o assunto a respeito da declaração que Christian havia feito.

— O Christian? Fala sério. — Pessoas cochichavam entre si.

— Estava bom demais pra ser verdade.

— Ele nunca desiste.

Cochichos e mais cochichos. Eu dei uma olhada para o outro lado da sala e lá estava o Heitor, com uma expressão estranha no rosto. Ele se virou para mim logo em seguida e fez uma cara de quem não estava entendendo nada.

— É mesmo? O que houve com o Nicolas? — O professor Abel questionou.

— Desistiu. Certo, Nicolas? — Christian olhou pra minha direção. Senti um olhar de desprezo vindo dele, e isso me deu calafrios.

— Sim... é verdade. — Eu respondi de forma breve. Desviando o olhar logo em seguida.

Heitor continuava olhando na minha direção. Eu decidi encarar de volta por alguns segundos. Ele olhava como se quisesse dizer alguma coisa.

— É uma pena, você parecia ser muito apto pra isso. Mas tudo bem. Boa sorte ao Christian! — O professor finalizou.

Christian voltou ao seu lugar, no fundo da sala e começou a conversar com seu amigo.

— Eu não acredito que você fez isso. — Ana disparou, com um olhar triste no rosto.

— Logo o Christian? — Melany continuou. — Aquele garoto se acha.

— Desculpe, desculpem. Talvez eu só não consiga mesmo ser um representante bom agora. Mas no futuro eu vou me esforçar.

Elas não responderam mais nada e apenas se viraram para frente. Independentemente de qualquer coisa que fôssemos aprender naquele dia, eu já não estava mais com cabeça pra isso.

Não conseguia mais tirar da cabeça que todos estavam decepcionados comigo. Só que eu não consigo agir de outra maneira...

As horas se passaram e foi o primeiro dia que eu fiquei realmente quieto no meu canto desde que entrei nesse colégio. A hora da saída se aproximou e eu me aliviei por poder ir pra casa.

— Nicolas, você ficou sabendo da festa de introdução que vai ter nesse sábado? — Melany me perguntou, ao guardar seu material na mochila.

— Ah... eu ouvi comentários sobre isso. Eu não sei se vou.