Capítulo único

47 3 0
                                    

Da esquina, já era possível ouvir o som que vinha da casa de dois andares no meio do quarteirão. Carros de diversos modelos ocupavam as vagas na rua, e alguns olhos mais atentos podiam perceber as luzes coloridas que piscavam dentro da sala de estar. Dentro do imóvel, adolescentes amontoados dançavam e riam – acredita-se que algumas meninas foram vistas chorando, em algum momento –, o som de Cobra Starship estourando nos alto-falantes.
Os copos de plástico vermelhos de 500ml forravam o chão, completando o cenário caótico. Parecia ser um esquenta para o Coachella, Burning Man, Tomorrowland, ou qualquer outro semelhante, mas era só a festa de despedida de Jung JaeHyun.

SunHee não sabia bem para onde ir quando chegou. Conhecia a casa melhor que a palma de sua mão, e mal conseguir reconhecer o lugar, tamanha a quantidade de gente apinhada ali. Correu os olhos pelo lugar, procurando o melhor amigo, mas desistiu depois de desviar da terceira cotovelada, e decidiu que procuraria por ele mais tarde. Sua prioridade, agora, era cumprimentar o homenageado da noite.

JaeHyun era a estrela da escola. Bonito, gentil, carismático, inteligente, bom atleta, paixão (não tão) secreta de mais da metade das garotas da região: o kit completo. Depois de alguns anos exemplares como capitão dos times de basquete e decatlo acadêmico, o rapaz estava finalmente se formando, e com duas aprovações em universidades da Ivy League, contava os dias para ir morar com a mãe nos Estados Unidos. Os amigos, é claro, não podiam deixar que ele fosse embora sem uma grande celebração, e era por esse motivo que May estava ali.

— Excuse me, sir. Can I have an autograph, please? I'm a huge fan, it's such an honor to meet you, sir.
JaeHyun, ainda de costas, gargalhou ao ouvir da voz da garota por cima da música alta. Tentou se desvencilhar do grupo com quem dançava na pista de dança improvisada na sala de estar, e virou-se para cumprimentá-la.

— Como você é hilária, Hee — respondeu sarcástico, dando um abraço na menina.

— Você está há alguns dias de se tornar uma quase celebridade internacional, eu preciso treinar para quando você se esquecer de nós, pobres mortais.

O rapaz encolheu os ombros levemente, deixando a cabeça cair de lado. Olhava a menina pesaroso, mas com um sorriso no rosto. Estalou os lábios e voltou a rir, bagunçando os cabelos dela.

— Não tem como esquecer a família, Hee — argumentou, antes de sentir uma mão começar a puxá-lo para fora da casa. — Tem bebida e salgadinhos na cozinha. Jeno está no quarto, emburrado. Talvez você consiga tirar ele de lá.

SunHee riu, balançando a cabeça. JaeHyun era mesmo inacessível de vez em quando. Procurou as escadas e foi em direção ao quarto do amigo, se perguntando por que ele não teria aparecido na despedida do próprio irmão.

— Toc! Toc!

Jeno ouviu as onomatopeias vindas do outro lado da porta. Pelo tom da voz, podia visualizar o sorriso brincalhão da amiga, o que só o deixou mais irritado. Tirou os fones de ouvido, murmurando um "já volto" no microfone, colocou o controle do vídeo game de volta na mesa, e foi destrancar a porta.

— Oi, Jeninho! — SunHee cumprimentou, animada, quase cantarolando.

— Entra, Hee.

A garota fechou o rosto, franzindo as sobrancelhas.

— Que mal humor é esse garoto? Credo. Aqui, come um takoyaki para ver se ajuda — disse, já enfiando um bolinho na boca do garoto.

A contragosto, Jeno mastigou o salgado e voltou a se sentar na cadeira gamer que tanto amava. Indicou a cama para que a garota se sentasse, e assim ela o fez. Passando os olhos pelo quarto, SunHee notou a caixa de pizza largada pela metade e o copo de plástico vazio em cima da mesa do computador; pelo aspecto da comida, Jeno estava trancado naquele quarto há boas horas.

— E aí? Vai me contar por que está com essa cara de quem chupou limão? — Fez mais uma tentativa de conversar, mas o garoto não parecia muito amigável naquele dia. SunHee respirou fundo, curvando os ombros, frustrada. — O que foi, Neno? É a despedida do seu irmão, tem uma festa rolando lá embaixo.

— Vou ter tempo para me despedir dele depois — Jeno respondeu sem tirar os olhos do jogo que tinha reiniciado.

— Minha santa misericórdia, garoto! — SunHee jogou as mãos ao alto e se levantando da cama. — Fica aí com essa sua amargura, eu vou voltar para a festa.

A menina saiu do quarto, batendo a porta (de leve, mas com força suficiente para mostrar que estava brava). Jeno passou uma mão pelo rosto, nervoso. Mordeu a bochecha, tentando manter a calma, mas sabia que passaria o resto da noite inquieto. Estava tão distraído repassando na cabeça o que havia acabado de acontecer que tomou um susto quando ouviu RenJun pelos fones.

— Cara, vai atrás dela.

— Eu?! Por quê?

— Não, imbecil, o Jisung — Jeno podia ver RenJun rolando os olhos. Ouviu o restante do grupo abafar uma risada, exceto por Jaemin, que riu alto. — Você foi um babaca com a Hee. Precisa ir falar com ela.

— Eu não fui babaca. Ela foi babaca. Ela enfiou um takoyaki na minha boca! — O garoto já estava começando a exaltar-se.

Você é um idiota, Lee Jeno!Onde histórias criam vida. Descubra agora