[pensamentos e cordas]

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O silêncio de destacava no quarto em que ambos estavam, não se tratava de um silêncio desconfortável como o do final de uma briga ou um término de namoro, era o silêncio amigável, não precisavam conversar para notarem a presença um outro ali. Jasper notava cada movimento de Viniccius concentrado em seu jogo, enquanto Viniccius percebia a atenção de Jasper sobre suas costas, observando o que o mesmo fazia. Não estavam enjoados de fazer o que faziam, mas os dois pensavam na mesma coisa; queriam interagir de alguma forma, talvez fazer o outro sorrir contando alguma piada idiota ou sentir o calor de um abraço sem jeito que fizeram ficar confortável. Quem sabe se eles desligassem a tv e apagassem as luzes para verem as estrelas na janela, ou irem para a rua sentir as gotas de chuva gelada cair em seus rostos. Os pequenos minutos que gastavam juntos já os criaria uma enorme conexão, mas, queriam algo mais, mais que um toque ou uma dança na chuva, queriam agregar na vida um do outro, como ensinar um jogo novo ou como pintar o cabelo sozinho no meio da madrugada. Contar sardas era algo recorrente entre eles, a ruiva possuía uma grande quantidade espalhada pelo seu corpo e Viniccius perderia todo o tempo do mundo para saber quantas manchinhas se encontravam ali; obviamente não era isso que iria fazer agora, talvez o tivesse feito a quinze minutos quando não conseguiu passar pelo puzzle do jogo, mas só de sentir o calor do abraço pelo seu pescoço já havia o ensinado a passar, era como uma mensagem de JP "termina logo pra poder ficar comigo", pelo menos era isso que tinha pensado.

— Você toca guitarra? - era a voz de Jasper, parecia ecoar em um galpão vazio que era preenchido de poeira em grande parte das paredes, a iluminação piscava e o vento provavelmente bateria a porta os trancando ali.

Ao a encarar, viu que a garota olhava para a guitarra preta pendurada na parece ao lado de um armário com alguns jogos e plantas. Seus olhos pareciam brilhar vendo o instrumento, o asiático sabia que ela tinha gosto pelo objeto mas a desapontaria quando contasse que não sabe tocar, teria que ficar bons minutos pensando em uma desculpa para o porquê daquela guitarra estar ali sem que ele tivesse ideia de como a usar.

— Nunca aprendi a tocar. - o som era nítido, estava nervoso com sua presença, engolia a saliva seca em sua boca como sinal de desconforto esperando que a mais nova não o notasse. Se estivesse com o instrumento em mãos, a corda teria se partido no momento que encostasse em seu dedo rígido, não sabia do que tinha medo, mas certamente sentia algo que não o trazia segurança naquele momento. — Me levaram em alguns professores mas eu sempre acabava desistindo porquê os outros aprendiam mais rápido que eu.

Era um desabafo? Acredita-se que não. Viniccius não era o tipo de garoto que falava de seus sentimentos do nada, talvez estivesse procurando uma maneira de contornar o fato de que tinha algo em seu quarto que não sabia usar, diferente dos jogos que já havia terminado todos ou das plantas que cuidava todos os dias.

Quando encarou Jasper, pode observar sua expressão; era angelical e o passava paz, não sentia mais nervosismo ou queria se justificar, estava seguro ali. — Se quiser eu posso te ensinar. - e como estava seguro. Eram namorados, compartilhavam suas experiências, não teria porque ter medo dela de qualquer forma, não por agora. A voz da garota saia como uma melodia calma, acalmando qualquer nervo embolado que tivesse, acabou por não perceber, mas suas bochechas coraram no segundo que a olhou. O fato é que ele estava apaixonado e percebia todos os sinais, mas aos poucos, como as bochechas vermelhas depois de ouvir uma frase tão comum e considerada normal ou até depois de ficar minutos fazendo cafuné no cabelo tingido para fazer Jasper dormir em seu colo. Ambos não notaram, mas o silêncio havia voltado, ficaram se encarando tendo mil pensamentos que poderiam ter se terminado com apenas um "sim" ou outras palavras de impacto que o mais velho dissesse. A de cabelo vermelho se levantou para alcançar a guitarra, sabia que não teria problema tocar naquela hora da noite, estavam sozinhos e os pais do dono do quarto demorariam a chegar; riu pensando que iria ensinar seu namorado a tocar guitarra enquanto seus responsáveis não estavam ao invés de transar como o resto dos adolescentes fariam, mas isso era normal para eles, talvez nem pensassem nisso.

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