I Parte

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Maic estava suando aos baldes debaixo do "monte de merda" (era assim que Maic chamava os carros velhos que consertava diariamente) quando Nildon chegou. Bateram um curto papo, Maic tinha muito trabalho pela frente e Nildon tinha tarefas a cumprir.

- Até mais, amigo – disse Nildon, montou e saiu pedalando sua bicicleta cargueira, sem saber que nunca mais veria seu amigo Maic. - Até mais.

- Até – disse Maic, acenando um tchau (um adeus involuntário).

Maic voltou ao trabalho no "monte de merda". Ele sempre respondia a quem perguntava que trabalhava na empresa "BigFossa", uma empresa que tira merda das fossas quando estavam cheias, comparando ao serviço de só mexer com carros velhos.

A oficina em que Maic trabalhava ficava numa avenida bem movimentado. Era uma rua chamada 13 de outubro, na Cidade de Castanhola – Pará. Ele nunca soube o porquê da droga da rua se chamar assim (devia ser em homenagem a alguma besteira do país, pensava) e nem se importava com isso. Mas o local onde Maic fica, onde mexe nas "merdas do dia", era na calçada em frente à oficina do Marllon, de onde ele podia ver muito bem quem transitava, isso era uma vantagem as vezes.

O caminhão em que estava mexendo (a merda a ser sugada para dentro do bigfossa) tinha um problema grave na parte hidráulica, e Maic tinha que ficar em baixo para poder consertar. Deitava de costa em papelões imundos, pois seu chefe (o grande filho da puta, era assim que Maic o chamava mentalmente quando pronunciava seu nome) nunca podia comprar nada para melhorar a vida de seu único empregado. Óleo pingava de vez em quando e - vira e mexe - atingia seu rosto e escorria pro seus olhos. Óleo no olho, ele quase riu disso, mas estava muito cansado. O sol a pino não dava trégua. Parou um pouco para tomar um copo de água.

- Delícia – disse quando o copo de água desceu goela abaixo.

Não havia tempo a perder, voltou logo que pôde. Se custasse um minuto sequer a mais, quem pagaria por sua morosidade era ele mesmo. – Quem mais seria, nessa porra?, pensou ele . Deitou-se e mandou ver no serviço.

Uma gata muito gostosa passou na rua. Do tipo de mulher que chama atenção de todos onde passa (a moça era uma estudante chamada Geanna Santiaggus, depois conto como sei disso – me cobrem, ok?). Maic pôde sentir o cheiro lascivo da gata. Hummmmm, pensou ele em voz alta. Ah se eu tivesse uma chance, ah se eu tivesse, pensou, pois coragem eu tenho; só me falta a oportunidade.

Certa vez teve a oportunidade. Certa vez a oportunidade esperou por ele por alguns minutos, mas o que ele fez, ham? Ele fugiu. Verdade. Maic era um cara guerreiro, muito trabalhador e um grande amigo de verdade. Mas era muito tímido e isso o atrapalhava, pois lhe causa medo em horas que não deveriam. Houve o erro. Houve a oportunidade. Houve a fuga, não podemos deixar de comentar isso, também. Mas o mais importante de tudo: houve o aprendizado.Uma gota de óleo pingou em seu olho esquerdo e escorreu para o direito.

- Caralhooo!!! - esbravejou e tentou levantar. Acabou atingindo sua testa no caminhão. - Olha que bacana: cego e com um baita galo na cabeça. Era só o que me faltava mesmo. Porraaa!!!Tentou ver se a gostosa tinha visto o estardalhaço que tinha feito. Talvez tivesse mesmo visto, talvez tivesse rido, mas já tinha ido embora. Graças a Deus, pensou Maic. Teria morrido de vergonha.

Lavou os olhos como pôde, não via nada com óleo por todo o rosto. Terminado a limpeza facial (fingiu estar num salão de beleza sendo hidrato com óleos próprios para isso), retornou a remoção das "fezes".

Deitou-se no papelão que, além de imundo, agora estava todo sujo de óleo. E prometeu a si mesmo mais concentração para terminar aquele tarefa.

Aperta, aperta. Solta, solta. Tira, limpa e põe de volta. O suor escorreu pelo seu rosto cansado. Era um serviço para poucos, e talvez só para ele mesmo.

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⏰ Última atualização: Mar 16, 2022 ⏰

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