O quarto de Chan era pequeno, mas tinha aquele tipo de aconchego que só se encontra em lugares onde você sabe que é bem-vinda. As luzes neon deixavam tudo com um brilho cálido, suavizando as sombras enquanto o filme passava na tela da televisão. Eu estava deitada ao lado dele, abraçada ao seu corpo quente e familiar, sentindo o movimento lento de sua respiração enquanto ele mantinha um braço firme em volta de mim.
Na tela, um grupo de adolescentes corria aterrorizado por um corredor mal iluminado, e eu não conseguia decidir se era mais ridículo o roteiro ou os cortes dramáticos das cenas.
— Você acha que alguém realmente tropeçaria assim na vida real? — Perguntei, apontando para a personagem principal, que tinha acabado de cair pela terceira vez em menos de cinco minutos.
— Com certeza. — Chan respondeu com uma risada curta. — Mas só porque ela está usando salto. Quem usa salto numa floresta?
Eu ri, apertando os braços ao redor dele.
— Se ela fosse inteligente, usaria esse salto como arma para se defender.— Mas acho que a intenção é uma cena de morte dramática. — Ele riu, sua voz baixa e rouca no silêncio do quarto.
Era tão fácil estar com ele assim, como se o resto do mundo desaparecesse. Minhas mãos descansavam em seu peito, sentindo o ritmo constante de seu coração. Isso sempre me acalmava, como se o som silencioso dissesse que tudo ia ficar bem.
— Sabe o que é pior? — Continuei, desviando os olhos para o filme. — Eles sempre tomam as piores decisões. Tipo, "Vamos nos separar!" Quem faz isso?
— Pessoas que querem garantir que o filme dure mais uma hora. — Chan respondeu, sorrindo para mim antes de abaixar o rosto para beijar o topo da minha cabeça.
Ficamos assim por um tempo, confortáveis no som do filme e nas nossas piadas sem compromisso. O cheiro de sua loção pós-banho ainda estava forte, misturado com o leve aroma amadeirado de seu perfume. Era um cheiro que eu sempre associava a ele, algo que fazia meu peito se aquecer.
Então, meu celular tocou. Era minha mãe. Olhei para o celular e hesitei por um instante. Chan me lançou um olhar curioso enquanto eu deslizava o dedo pela tela para atender.
— Oi, mãe. — Falei em português. Minha voz saiu mais suave do que eu pretendia, talvez por causa do ambiente aconchegante.
— Querida! Estou ligando só para saber como você está. Já faz uns dias que não nos falamos.
Olhei para Chan, que apenas sorriu e apontou para a tela, indicando que eu poderia continuar enquanto ele voltava sua atenção ao filme.
— Estou bem, mãe. — Respondi, tentando soar casual. — Só ocupada com algumas coisas, mas tudo tranquilo. E a senhora?
Enquanto minha mãe falava sobre os eventos da semana, eu sentia o olhar de Chan em mim de tempos em tempos, mesmo que ele estivesse fingindo prestar atenção no filme. Ele se inclinou levemente para trás, colocando um braço atrás da cabeça, mas manteve o outro ao meu redor.
— Você está comendo direito? Descansando? — A preocupação da minha mãe era constante, como sempre.
— Sim, mãe, estou. — Respondi, um sorriso pequeno escapando. — Estou comendo bem, prometo. — Reassegurei, tentando não soar culpada por ter comido batatas fritas no jantar da noite passada.
Depois de mais alguns minutos de conversa, finalmente me despedi e desliguei.
— Não sei se é o efeito de estar apaixonado, mas ouvir você falando em português parece uma melodia. — Chan perguntou, ainda com aquele sorriso calmo no rosto.

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𝑬𝑭𝑭𝑶𝑹𝑻𝑳𝑬𝑺𝑺𝒀, 𝘣𝘢𝘯𝘨𝘤𝘩𝘢𝘯 [REESCREVENDO]
Romance━━━ ❝Sentindo-me vivo. No dia em que as pétalas caírem, eu estarei esperando por você.❞ Atravessar o mundo em busca de um sonho não é fácil, ainda mais quando tudo é posto em prova por causa de um pequeno acidente: o amor. O que fazer quando se é um...