Único

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Você disse que me esperaria, e eu acreditei. Mas, pra ser sincero, não sei porquê o fiz.

Queria poder ter te conhecido em algum outro momento. Em algum outro lugar. Ou, até, em alguma outra vida. 

Queria poder ter te amado sem medo de todas as coisas que atormentam meus pensamentos, dia após dia. Queria ter sido capaz de segurar as suas mãos junto às minhas e dizer que você era o tesouro mais precioso que já vi brilhar na minha frente, e que eu enfrentaria mares e tempestades e terremotos por você, se isso significasse que eu pudesse viver uma vida inteira ao seu lado.

Porém, não sou mais tão capaz de cuspir palavras da boca pra fora, sem ter certeza se um dia serei capaz de cumprir os desejos e promessas que deixo escapar. Eu não podia te fazer juras vazias, ou te dar a mínima esperança, depois de já ter partido o seu terno coração em um milhão de pedaços e te decepcionado por uma expectativa que eu sabia muito bem quem havia criado.

Só que a minha vontade de te ter era tanta, que eu acreditei, que eu quis acreditar. Quis acreditar que esperaria por mim o tempo que fosse, quis acreditar que mesmo que se passassem anos, se eu retornasse dizendo que estava disposto a dar a cara à tapa por nós, você me receberia de braços abertos e me acolheria entre eles da maneira que só você sabia fazer.

Fui tolo. Fui tolo em acreditar, sim. Porém, não por no fundo saber que você não me esperaria - e sim, por saber que você não devia esperar.

Você estava pronto, pronto pra mim.

Estava decidido e destemido, mas eu não estava ali pra você. Eu não podia simplesmente acreditar que você me esperar fosse algo bom para nós dois, por mais tolo e apaixonado que eu estivesse. No fundo, eu sabia que você merecia e que sempre ia merecer alguém melhor do que eu. Alguém que nunca, jamais, teria medo de gritar aos quatro ventos o quanto te amava, ou de simplesmente abrir mão de uma vida infeliz em troca da felicidade ao seu lado. Eu não fui capaz de ser esse alguém.

Então agora, parado dentro do meu carro enquanto observo de longe você com ele, não sei mais muito bem no que acreditar. 

Depois de passar quase uma vida inteira acreditando em uma mentira, que nunca sequer deveria ter sido dita.

Mas eu não vou te culpar. Não vou, porque já cansei de não assumir meus próprios erros. Não vou, porque se eu ficasse infeliz ao ver a sua felicidade, isso significaria que eu não te amo. E o que eu sinto por você, Simon, é uma das únicas certezas que ainda tenho sobre mim.

Hoje saí de casa disposto a tentar. Disposto a fazer tudo o que fosse possível para sentir o seu calor e o cheiro do seu creme para cachos novamente. Porém, acho que vou ter que me contentar com minhas vagas lembranças distorcidas que ainda guardo no fundo da minha memória, daqueles poucos dias que me senti amado e cuidado como nunca mais me senti.

E enquanto dou ré com o meu carro para sair da vaga que ocupei em vão por tanto tempo, tudo o que eu desejo é poder dar ré até o passado também, e nele fazer tudo diferente com você para te poupar de traumas e inseguranças que sei que te deixei. Porém, vendo você sorrir apaixonado novamente, mesmo que não seja pra mim, sei que é e sempre foi forte o bastante e completamente capaz de se curar sem a minha ajuda ou de qualquer outra pessoa. E isso, Simon, sempre será o que eu mais admiro em você.

Então, escrevo minhas palavras em um bilhete e o jogo ao mundo, na esperança que um dia ele caia nas suas mãos - com toda a cortesia e elegância que são exigência de um príncipe. Não para que saiba o que ainda sinto ou que volte correndo aos meus braços, mas sim para que saiba que independente do que eu tenha lhe feito sentir, a culpa nunca foi sua:

O coração do futuro rei da Suécia sempre pertencerá àquele garoto da voz bonita que cantava no coral da escola.

E, pra ser sincero, isso não o assusta mais.

EsperaOnde histórias criam vida. Descubra agora