HARRY
Ser um escultor era tudo que eu sempre quis ser desde pequeno. Foi algo que veio de uma forma natural para mim e simplesmente aconteceu.
Eu não usava os meus brinquedos, eu os empilhava, criava novas maneiras de usá-los e me divertia todos os dias com as possibilidades.
Era isso que me cativa e me chama atenção até hoje na arte. A forma de inovar, se reinventar, usar a sua imaginação e criatividade para construir algo bonito, significativo ou até mesmo... estranho.
Ninguém julga a arte.
Quando era mais novo, minha mãe ficava chocada, impressionada ou até mesmo orgulhosa e sempre me incentivou a continuar. Eu sou grato por ela sempre me apoiar em seguir o meu sonho, isso ajudou demais a minha trajetória profissional e acadêmica.
Quando eu fiz a minha primeira escultura com ferro, aos 15 anos, eu tinha a certeza que queria aquilo para a vida toda. Seria isso, a única dedicação em minha vida, a realização de meus sonhos botando em prática.
Eu estava completamente ansioso para esse ano na faculdade. Além de ser o último aproveitando o máximo possível de todas as atividades e feiras para divulgar minha arte, mas iria focar no meu projeto pessoal que trabalho desde os 19 anos.
A bolsa Mitchell.
A fodida e temível Bolsa Mitchell.
Significava liberdade também.
Eu pensava nela desde que decidi me tornar um artista independente como profissão.
Eu pensava nela praticamente 18 horas por dia. O resto eu estava dormindo, obviamente.
Eu queria e precisava tanto por vários motivos.
Era meu passe livre para fora desse lugar.
Longe do meu padrasto e minha mãe. Nada contra. Eu realmente amava eles, mas eu precisava me sentir livre para seguir meus próprios passos e estar sozinho como nunca estive antes.
Longe de tudo.
Felizmente para mim, eu só tinha um concorrente a altura para ganhar a bolsa.
Um cara que foi transferido somente esse ano e teríamos todas as aulas juntos. Quando soube dessa notícia, comemorei internamente. Eu poderia fazer análises com meus próprios olhos sobre seu trabalho e fazer de tudo para sempre ser aquele com as maiores notas, elogios e prestígios de todos os professores.
Eu estava pronto para isso.
O concorrente em questão assinava como KJ em todas as suas obras, então foi fácil encontrar algumas de suas artes expostas na sua outra faculdade. Eram realmente boas e impressionantes de verdade. O nosso tipo de arte se misturava nisso, mas os materiais usados eram diferentes e as técnicas eram fáceis de distinguir.
Mas eu poderia vencê-lo e eu vou.
Não iria deixar ninguém ficar ao meu caminho.
Ninguém.
Eu precisava ganhar essa bolsa. Mais do que qualquer pessoa.
Ele seria meu inimigo até os últimos segundos finais das etapas da Bolsa Mitchell. Alguém que eu o desprezaria tanto no meu talento e na minha arte excepcional que o faria chorar para sua mãe e ir correndo para o seu antigo lugar.
Seria eu e ele contra todos.
Estava começando a me animar para o começo das aulas agora.
Andei pensando nisso o caminho todo até a sala de Montagens com a professora Jady insuportável Hennings.
Eu sempre chegava atrasado nessa aula e não podia evitar. Abro a porta e sigo para o meu lugar habitual com um pouco de pressa, sabendo que Jady já me viu entrando e iria falar sobre mim a qualquer momento. Fico me segurando para não revirar meus olhos e esperar meu nome ser citado.
"Sr. Styles, que honra nos concedeu a sua presença ilustre na minha aula! Para quem não o conhece, ele é uma das nossas maiores apostas para ganhar a bolsa Mitchell."
Porra.
Essa mulher não cansa de ser tão... puxa saco?
Seria essa a palavra certa?
Detesto pessoas que tenham um comportamento dessa forma. Bajuladores, que ficam ali sempre te elogiando e querendo sua atenção de alguma forma, que nunca te critica de maneira coerente...
Ser enteado do reitor da faculdade tinha mais contras do que prós. Se eu soubesse o quão merda é a vida social de parentes da diretoria acadêmica de uma faculdade, eu teria comentado com Roger para não falar comigo e muito menos pedir para almoçar comigo no refeitório todos os dias que os nossos horários eram iguais.
Eu gostava dele, por isso não havia me importado na primeira vez que aconteceu. E se transformou numa bola de neve, a fofoca, os olhares e as risadinhas de deboche apenas aumentaram ao longo dos anos.
Ainda bem que esse era o último e eu simplesmente não me importava com mais nada e ninguém. Apenas a Bolsa Mitchell.
Não preciso de amigos.
Detesto ser o centro das atenções, mas levanto um pouco a cabeça para olhar as pessoas ao meu redor da classe. E dou um pequeno aceno. Tinha alguns que eu já conhecia e também conversava as vezes, tinha uns novos e tinha...
Não.
Não acredito no que eu estou vendo.
Eu prendo o meu olhar na pessoa em questão. Aquela que ficou nos meus pensamentos mais eróticos assim que eu acordei hoje e se tornou uma pequena obsessão minha algum tempinho atrás.
Ok.
Talvez uma grande obsessão minha.
Nós ficamos assim por alguns segundos. Um encarando o outro. Eu estava fodidamente e completamente obcecado por ela.
"Também temos uma transferência da Califórnia, a prodígio e talentosa KJ, que veio competir também pela bolsa."
KJ era Kendall.
Puta merda.
Não podia acreditar no que estava vendo, ouvindo e entendendo de toda a situação.
KJ era a minha sunflower.
KJ era a minha obsessão.
KJ, agora mais conhecida como Kendall, era a minha maior concorrente ao prêmio da bolsa Mitchell.
Engulo em seco absorvendo toda essa nova informação totalmente chocante e difícil demais para aceitar.
Eu não estava mesmo acreditando o quanto o destino era fodido e o quanto eu não estava tendo sorte alguma no momento.
A única mulher que realmente desejei de verdade.
A única mulher que me chamou a atenção, me tirou do sistema, me deixou completamente a sua mercê várias vezes na noite de ontem.
A única mulher que eu fiquei hipnotizado.
Seria a minha rival.
Continuo a olhando completamente sem disfarçar enquanto ela desvia o olhar do meu e escuta a chata da Jady puxar o saco dela também.
Ela estava linda. Mesmo agora, com seus cabelos amarrados em um rabo de cavalo desleixado, usando uma blusa de rock e uma calça jeans e seus famosos brincos de girassóis. Ela era linda com e sem maquiagem. E agora estava fora dos meus limites.
Começo a ter alguns flashbacks de como foi todo o início, meio e fim da nossa noite. A maneira que seus dedos me tocaram, seus olhares sobre o meu corpo...
Tento abstrair apesar de sentir alguns arrepios.
Não posso mais pensar sobre isso. Porque nesse mesmo instante, ela se tornou impossível para mim.
Foco era foco.
E o meu único a partir de agora era a Bolsa Mitchell.
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sunflower • hendall
RomanceEla era tudo o que eu podia ver e desejar em apenas um olhar direcionado a seus cabelos e brincos de girassóis. A bela morena se transformou em arte, uma ilusão e um sonho ao mesmo tempo. Em segundos, todos os seus movimentos eram como melodia para...