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A tarde está chegando ao fim... são 17:00 horas, vejo no relógio que está a cima do quadro na nossa sala de aula do 9 ano. Agora faltam exatamente 20 minutos para o fim do meu último dia de aula no meu último ano do ensino fundamental.
Olhando para trás, tudo me parece tão surreal... engraçado pensar que passou tão rápido, e ao mesmo tempo parecia não ter fim... pensando bem, foi como pegar no sono, gradativamente, e de repente... E agora, cá estou eu, sentada na carteira que fica em frente ao quadro na primeira fileira (como sempre, pois sou uma aluna muito aplicada) - ao lado da Mariana, minha melhor amiga - tentando prestar atenção na aula do professor José, enquanto minha mente vaga pelo mundo da lua (o que acontece com bastante frequência).
Não que a aula dele seja um porre, pelo contrário!
O professor José é o melhor! É aquele tipo que faz com que todos os alunos queiram ser seus amigos, seja pelo seu jeito de ser, brincalhão e atencioso, sempre nos tratando bem, ou pela sua forma cativante de ensinar. Pois acho que a pessoa pode odiar com todas as suas forças a disciplina de Ciências, porém vai sempre se interessar e amar a partir do momento em que ele abrir a boca, simplesmente por ele fazer seu trabalho com amor.
Ele é uma das poucas pessoas dessa escola, de que sentirei saudades em minha vida. E além do mais, hoje é o último dia de aula, não é como se estivéssemos fazendo uma revisão para uma prova com assuntos super difíceis...
Mas faço o possível para aproveitar cada segundo na presença dessas pessoas, que conviveram comigo ao que para mim foram 9 longos e agridoces anos...
ao mesmo tempo que sonho. Sonho com o futuro que me aguarda, o desconhecido que me aflige, ao mesmo tempo que me dá pequenas faíscas de esperança, esperança de que tudo vai ser melhor... vou para o ensino médio numa escola nova, com pessoas desconhecidas e diferentes, e apesar de todo o medo, lá no fundo sei que será uma ótima oportunidade para recomeçar.
Longe de todas essas pessoas que não fazem a mínima questão de mim - a não ser a Mariana - e principalmente dessas falsianes, sinto que finalmente poderei ser eu mesma, sem me preocupar com o que acham, e quem sabe fazer amigos novos... existem infinitas possibilidades...
"Terra chamando Bela!" essa foi a Mariana, que estalou os dedos na minha frente, me tirando dos meus devaneios. "Isabela do céu, vê se presta atenção em mim!, ao invés de ficar sonhando acordada! O sinal acabou de bater, a aula já acabou, todos já guardaram seus materiais e saíram, inclusive o professor! Somos as únicas aqui, e quando acabo de guardar minhas coisas e me viro para você, te pego aí, ainda sentada!" a Ana falou brava.
"Acho que você deveria ir a um psicólogo, como pode uma pessoa ser tão aérea!" ela finalizou, rindo com vontade, de mim! como se eu fosse uma doida! O que me deu um ímpeto de raiva. Olhei para trás e para os lados e pude constatar que ela estava certa, todos já tinham saído, apenas nós duas estávamos lá dentro. Meu Deus como não pude escutar o sinal bater?! A Ana tem razão, como sempre... eu precisava ser mais atenta, mas ela era a minha melhor amiga, poxa, custava ser mais atenciosa e ter um pouco mais de paciência comigo?!
Olhei para ela e falei: "Eu só estava pensando! Posso saber qual o motivo desse estresse todo?" perguntei enquanto fechava a mochila e íamos andando em direção a saída da escola, pois sempre íamos juntas à pé para casa, somente até um certo ponto do caminho, por causa da distância entre elas. Ao que ela respondeu rindo muito: "Sério amiga, só queria saber o que se passa na sua cabeça! Não tem estresse nenhum, você sabe que esse é o meu jeito. Eu só ia te perguntar se você quer ir se arrumar na minha casa para a nossa confraternização de sala."
"Claro que vou! Mas tenho que passar em casa primeiro pra pegar as minhas coisas e avisar a minha mãe que vamos direto de lá." respondi.
"Ebaaa, então vamos logo! Estou ansiosíssima pra nossa confra na pizzaria!" Apenas sorri em resposta, - eu também estava feliz - enquanto andávamos apressadas e animadas.
Na verdade, fora a Ana, que era um amor, eu achava o pessoal da minha sala meio falso, menos os professores, é claro. Mas sempre fui grata por tudo em todos os momentos compartilhados entre nós e tive uma relação respeitosa e amigável com eles, não é como se nos odiássemos, só não me identificava e reprovava certas atitudes dos meus colegas. O que não me impediu de ficar super animada com a nossa confraternizaçãozinha, afinal estudamos juntos por 9 anos! Eu só queria o bem deles.

Assim que chegamos na porta da casa da Ana, olhei para o Céu, que estava lindo, de um azul intenso e nuvens pesadas, o clima no final do ano em Caraúbas - a nossa cidade, que fica no interior do Rio Grande do Norte, - é meio imprevisível. Só espero que não chova...

Ano novo e novo amorOnde histórias criam vida. Descubra agora