nictofobia

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  O breu exercia uma força esmagadora sobre os ossos fragilizados, tentando se esconder no canto de encontro entre duas das paredes geladas.

A loucura acariciava seus cabelos emaranhados, não parecendo estar prestes a decidir o futuro como com pétalas judiadas de uma flor murcha qualquer; enquanto o pavor dançava em seus olhos, e eles se fecharam, com medo de explodirem com a música alta.

A presença demoníaca estava sorrindo, caçoando de sua situação patética. Ela lhe assombrava havia noites, porém sua consciência assustada não conseguia saber quando ela tinha surgido pelos cantos de seu quarto.

Queria muito acreditar que era coisa apenas de sua cabeça, mas o frio agudo na espinha era diferente, pior. Nenhum outro monstrinho que deveria ser como aquele tinha lhe causado isso. Tamanho mal-estar.

Seria fácil replicar as batidas agoniadas de seu coração apenas as ouvindo de dentro de si; este órgão também parecia querer fugir, escalar sua garganta e ir para longe pela boca.

A petrificação era absoluta, e sabia que em breve seu cérebro também desligaria, porém não queria ficar inconsciente e vulnerável à dúvida. Àquela coisa.

Apertou os dedos dos pés no lençol, juntando um último fio de coragem que pudesse mover seu espírito congelado; abriu uma fresta mínima entre as pálpebras, espiando relutante o que poderia ser seu último segundo de vida.

Ou o último instante antes de sua sanidade se estilhaçar por entre seus dedos, saindo como pequenos cacos levados pela correnteza das lágrimas de dor e desconforto juntadas com unhas cravadas em sua pele dos braços.

Antes de não haver nada diante de seus olhos, com os cílios semicerrados pôde ver uma figura parecida com algo quase mais que uma silhueta turva; se perdendo no resto que lhe restava a cada instante que a visão se acostumava novamente com a penumbra.

O suspiro alto como um sussurro, com algum mínimo alívio, foi roubado de si; assim como o sangue que lhe dava cor ao rosto e o brilho de vida de seus olhos.

O sentia atrás de si.

.: escuroOnde histórias criam vida. Descubra agora