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Leônidas ouvia o choro constante do bebê, torcendo para que Matias não acordasse e gerasse ainda mais confusão naquela casa. Clarinha, a bebê que Heloísa cuidava há algumas semanas, estava doente desde a noite anterior, e pelo visto aquela seria mais uma noite sem que as duas conseguissem dormir. E também sem que ele conseguisse dormir, uma vez que o desespero da criança fazia com que ele ficasse preocupado.

Na madrugada anterior Leônidas só havia dormido depois das cinco horas da manhã, debatendo-se se deveria ou não oferecer ajuda à Heloísa. A verdade é que, desde a revelação sobre o passado da mulher que amava, Leônidas não sabia como abordá-la. Tinha medo de parecer invasivo com um assunto tão sério, especialmente sobre Clarinha.

É claro que se oferecia para cuidar da menina vez ou outra, mesmo que Heloísa fosse relutante. Ele também estava apegado à uma criança tão doce e alegre. Clarinha enchia o velho engenho de alegria e Leônidas gostava de passar tempo com ela, especialmente em dias que Matias estava agitado ou impaciente. Clarinha ajudava Leônidas a centralizar as ideias.

Quando a menina chorou de forma mais aguda, Leônidas levantou-se. A julgar pela aparência cansada de Heloísa naquele dia, ela havia dormido menos do que ele. Certamente estava exausta e precisando de ajuda. Vestiu suas roupas e rumou para o quarto no final do corredor, que sabia ser de Heloísa.

Bateu na porta, ouvindo a voz de Heloísa pedindo para que entrasse logo em seguida. Abriu a porta com delicadeza, a observando com Clarinha nos braços. Heloísa vestia suas roupas de dormir, mas parecia preocupada e cansada embalando a bebê de um lado para outro.

- Matias acordou? – ela perguntou, olhando para Leônidas. – Porque se acordou é melhor você fazer ele dormir. Eu não respondo por mim se ele aparecer aqui perturbando o meu juízo.

- O doutor tá dormindo. – Leônidas sorriu. – Vim ver a menina.

- Está com febre de novo. – Heloísa suspirou. – O doutor Elias já esteve aqui mais cedo, receitou alguns remédios, mas ela segue enjoadinha.

- Posso? – ele fez um gesto com a cabeça, apontando para Clarinha.

Heloísa fez uma careta, mas entregou a menina para Leônidas. Ele a acomodou nos braços, falando baixinho com o bebê.

- Clarinha, eu vim contar mais uma aventura do meu cavalo, o Barbada. – ele disse. – Você lembra dele?

Clarinha não demonstrou reação e não parou de chorar no primeiro momento, mas Leônidas manteve sua narrativa com voz calma, e aos poucos o choro ficou mais baixo, menos sofrido. O homem continuou contando uma história sobre cavalos de corrida que em nada se assemelhavam à seu velho Barbada, mas Clarinha jamais lembraria daquela história de qualquer maneira.

- Ela dormiu. – ele sorriu para Heloísa cerca de vinte minutos depois.

- Graças a Deus. – Heloísa suspirou, enrolando uma manta no corpo. – Eu já não sabia mais o que fazer.

Leônidas encostou os lábios na testa do bebê.

- Não está com febre. – disse. – Acho que você poderá descansar por algumas horas.

- Duvido muito. – Heloísa sentou-se na própria cama. – Não consegui pregar o olho ontem. Parece que algo pode acontecer a qualquer momento.

- Eu posso ficar com ela enquanto você descansa. – Leônidas disse. – Se alguma coisa acontecer eu a chamo.

- É melhor não. – ela desconversou. – Clarinha pode estranhar se acordar em algum outro lugar.

Leônidas achou melhor não insistir.

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