Olá pessoal, mais um capítulo da jornada da nossa mocinha fofa.
Era ainda nutrindo esse sentimento angustiante, chamado saudade quando recebi a Madre em meu quarto pela última vez.
— Becca, está pronta? — Embora a Madre tentasse esconder sua tristeza com um sorriso encorajador e gentil, eu sabia que a despedida, mesmo que breve, também era dura para ela.
— Sim, Madre.
— Hoje é quinta, então domingo você vem, não é, Becca? — Brianna perguntou, ansiosa.
— Brianna, pare de perturbar a Rebecca.
— Mas, Madre...
— Ainda não sei, Bri, se não vier nesse, virei no próximo.
— Mas, Becca...
— Fique quieta, Brianna! — O tom agora autoritário fez com que a jovem se encolhesse em seu canto — Já está na hora do almoço. Vá ajudar na cozinha.
Orientar uma dúzia de freiras, algumas funcionárias e cuidar de quase cinquenta crianças perdidas, exigia uma mão de ferro, mesmo que, na verdade, o coração da Madre fosse suave como manteiga.
— Adeus, Becca — com um longo e sentido abraço, nós duas nos despedimos.
— Até logo, Bri.
Cabisbaixa e como se carregasse todos os problemas do mundo em meu peito, deixei-me ser guiada através do longo corredor. A minha tristeza era evidente e por mais que tentasse, não conseguia esconder. Para mim a vida era feita de encontros e desencontros, e muitas vezes com separações dolorosas.
— Que cabeça a minha, querida! — A Madre interrompeu os seus passos; poderíamos ter nos chocado se eu fosse um pouco mais desatenta — Já é hora do almoço, você ainda não deve ter almoçado, não é? Posso pedir ao motorista que espere um pouco mais.
— Não precisa. Eu não quero causar uma má impressão no primeiro dia e não estou com fome realmente. E, depois, posso comer alguma coisa por lá mesmo.
— Tem certeza?
Após acenar que sim, seguimos até o portão. Na verdade, eu sentia-me muito ansiosa, nervosa demais para que qualquer coisa passasse por minha garganta, que não fossem os nós formados ali.
No meio-fio, em frente ao portão, havia um carro preto esperando por mim. O motorista era um senhor magro e calvo. Apesar da postura séria, o sorriso franco que ele deu, fez com que eu relaxasse um pouco.
— Se já estiver tudo pronto, Madre, podemos partir. Ainda tenho que buscar o Sr. Hunter no escritório — o motorista disse, se desculpando.
— Rebecca está pronta, sim, senhor. Só mais um minuto.
Somos fortes até o momento em que nossas fraquezas nos lembram de que somos humanos.
— Boa sorte, querida. Saiba que sempre estaremos aqui para o que precisar.
— Obrigada, Madre — abraça-a fortemente e deixamos que o coração falasse por nós.
E com o último olhar para o lugar que havia sido o meu lar, entrou no carro.
Passei alguns momentos tristes aqui, com algumas órfãs me perseguindo; senti dolorosamente a falta dos meus pais que nunca conheci, mas também fui feliz. Tive na madre a figura carinhosa de uma mãe, conheci Brianna, a quem tenho como uma irmã. O orfanato havia sido o meu lar. Estava com medo do que o futuro reservava, mas a próxima parada de trem poderia ser incrível, se assim eu desejasse.
— Chegamos senhorita — disse o motorista, olhando-a através do espelho.
Estive tão perdida nos meus pensamentos, bem acomodada no carro confortável, que nem vi o tempo passar.
— Obrigada... Senhor?
— Pode me chamar de Bill, senhorita.
— Então me chame de Becca.
— Combinado, Becca — ele disse, sorrindo.
Havíamos conversado um pouco quando deixamos o orfanato. Ele era muito brincalhão e simpático. Falou das peripécias dos netos, que era um dos poucos funcionários antigos da casa e que estava prestes a se aposentar também.
— Nossa! Essa casa é linda, parece um palácio.
Enquanto o portão subia, eu observava a residência imponente, do tipo que só admirei em revistas. Um imenso quintal surge e ao seu lado esquerdo um jardim de rosas brancas, meticulosamente bem cuidadas. Podia sentir o perfume infiltrando em meu nariz conforme seguiam um aroma doce e agradável. No centro do jardim, um lindo gazebo estilo georgiano dava um clima lúdico e romântico. A casa não era um castelo como os dos contos juvenis, mas chegava próximo a isso. Pensar em viver aqui era mais do que sonhei a vida toda.
E quando alcancei os degraus que levavam à porta principal, o meu coração batia muito mais rápido que o normal; sentia que sairia por minha boca a qualquer instante e, por alguns segundos, tudo o que eu pude fazer foi admirar a maciça porta branca e antiga, toda trabalhada em arabescos enquanto exigia de mim mesma que me mantivesse calma. As pessoas por trás daquela porta não eram ruins. A Madre passou boa parte da manhã me afirmando isso. Eu só estava com receio do desconhecido.
— Venha por aqui, Becca, os empregados devem entrar pela área de serviço — assenti e apertei com mais força a alça da minha mala, seguindo o motorista.
Rodeamos a casa e passamos próximo à enorme piscina quadrada.
— Pode entrar. Siga por esse corredor — disse Bill ao abrir a porta — E você chegará à cozinha, logo a governanta mostrará o seu quarto.
— Obrigada, Bill.
A cozinha era tão bonita como o exterior da casa. A pia em frente à janela era enorme, que deixaria a cozinheira do orfanato com alguma inveja. Havia tantos eletrodomésticos aqui, que eu só vi em catálogos, e uma mesa quadrada de mármore branco. Atraída pela cortina que balançava suavemente pela brisa do fim de tarde, aproximei-me mais da janela para observar a parte visível do jardim enquanto aguardava.
— Agora você vai se ferrar, sua fedelha! Tome isso!
Splash!
Eu nem tive tempo de reagir ou saber de onde havia surgido o bombardeio. Choque e surpresa imediatamente tomaram conta do meu rosto quando um balão de água estourou em minhas costas, molhando o vestido branco quase impecável.
— Oh, meu Deus! — A voz rouca e apreensiva do jovem veio em minha direção ao mesmo tempo em que ele.
Quando me virei lentamente em direção ao meu agressor, foi como se uma onda gigantesca tivesse me atingido. Diante dos meus olhos, até então atordoados e carregados de cólera, estava o rapaz, que, pela primeira vez, fez o meu coração paralisar no peito. Não apenas porque sem dúvida era um jovem muito atraente e bonito; mas pela forma que os olhos dele se conectaram com os meus: firmes e de uma forma intensa.
Não conseguia desvendar se os cabelos caindo em sua testa eram loiros ou castanhos claros, devido à umidade. Abaixo das sobrancelhas arqueadas, havia um claro sinal de deboche. Incríveis olhos azuis, tão cristalinos como o da piscina que havia admirado há pouco. Esses olhos claros faziam-me perguntar se o mar teria o mesmo tom profundo e de mistério que eles transmitiam.
O nariz imponente, de certa forma, atenuava ainda mais o rosto quadrado. Os meus olhos continuaram a estudá-lo, minuciosamente: desde a boca carnuda, e que naquele momento estava levemente torta, nitidamente segurando um sorriso, ao corpo magro, mas de braços fortes e ombros largos. O tipo que faria qualquer garota, mesmo eu, desejar se perder dentro deles.
— Já terminou a análise? — provocou-me, sorrindo.
— O quê? — perguntei, nervosa.
Havia sido pega fazendo exatamente o que ele acusou: estava analisando-o como um bolo em uma vitrine.
— Não seja tímida, eu vi que você estava me devorando com os olhos — disse ele antes de se apoiar na mesa e lançar a mim um olhar sedutor.
— Eu não estava...
Eu era uma mentirosa. Mentirosos não vão para o céu. Era o que todas as freiras frequentemente diziam a mim. Mas eu também sabia que o caminho até o paraíso era regado a espinhos. Um deles estava à minha frente.
— Toma isso, marujo!
Outro morteiro em forma de balão de água surgiu em minha direção, dessa vez acertando precisamente o meu peito.
— Nossa!
Encarei a menina assustada que, atônita, correu para trás do jovem sorrindo ainda mais largamente.
— Vocês são malucos! — soltei, tentando controlar a nova onda de fúria.
Provavelmente a Madre, todas as freiras, nem mesmo Brianna, conseguiriam reconhecer a doce Rebecca de todos os dias, com a jovem enfurecida encarando os dois causadores de confusão, que eu demonstrava agora.
— O que está acontecendo aqui? — disse uma mulher ao entrar na cozinha.
Seus olhos assombrados vagavam de um para o outro. Imediatamente, um olhar destorcido cobriu o seu rosto enrugado.
— Michael e Caroline! — falou a senhora extremamente irritada — Quantas vezes eu já disse que eu não quero vocês na minha cozinha?
Eu encarei o jovem que ela havia chamado de Michael e o assisti imitá-la sem que percebesse, revirando os olhos e balançando a cabeça, enquanto a menina gargalhava sem parar.
— Olhem só isso: a cozinha está toda alagada e a pobre moça toda molhada. Ela irá pensar que vivem como animais!
Michael continuava imitando-a, enquanto a menina chorava de rir.
— Acha isso engraçado, Caroline? — A senhora deu mais evidência à sua cara invocada — Você também está toda molhada! Quer ficar doente como sua mãe?
— Não, senhora — a menina respondeu tristemente, cessando imediatamente o riso.
— Não seja maldosa, Sra. Dickens. Limpamos tudo depois, como sempre fizemos — disse Michael, agora com raiva.
— Venha, Caroline, vamos tomar um banho quente e vestir uma roupa seca. — disse a governanta, com um olhar severo para a menina.
Ao me encarar a Sra. Dickson suavizou o olhar. Talvez ela não fosse tão ruim como aparentava ser. Talvez o grande problema seja ele, Michael. Nos poucos minutos que estive com ele, ganhei uma pequena parcela do que aquele sorriso atraente e olhar astucioso poderiam fazer.
— Rebecca, não é? Eu já venho mostrar seu quarto. Ou melhor, Michael, faça isso. Ela também precisa trocar de roupa ou será mais uma das vítimas das suas inconsequências.
— E eu? — o charme lançado à governanta não teve efeito, não sobre ela — Não tem medo de que eu caia morto aqui?
— Você já está bem grandinho! — disse ela, levando a menina consigo.
Assim que a senhora e a menina saíram, os olhos ardis voltaram a cair sobre mim, na verdade, sobre o meu corpo, que o vestido agora quase nada tinha a esconder.
— Então, você é a Rebecca, a nova babá? Pensei que fosse mais velha.
— E eu que você fosse mais novo — sussurrei, abraçando a mim mesma.
Havia pensado que ele fosse um menino mirrado, um completo adolescente com espinhas na cara, mas, pelo contrário: apesar da idade, Michael já era bem desenvolvido e mostrava que ficaria ainda mais bonito conforme fosse amadurecendo.
— O quê?
— Nada. Podemos ir? Estou com um pouco de frio.
Michael me olhou de cima a baixo. O vestido tinha ficado transparente e colado ao meu corpo miúdo, revelando parte dos seios sem sutiã. Eu não sabia se ele se perguntava se os bicos dos meus seios ficando duros eram por sua avaliação descarada ou estavam empinados por causa do frio.
Pois era por causa do frio!
Convenci a mim mesma, tentando me proteger com o braço enquanto puxava a barra do vestido que havia encolhido um pouco, revelando muito mais das minhas pernas e que ele fazia questão de observar.
— Muito melhor do que o concurso da camiseta molhada — Michael disse, devorando-me com os olhos, mordendo os lábios descaradamente — Senhorita, sabe como mexer com um homem.
Ele não é um homem, embora, bom, estivesse quase lá.
— Não é minha culpa o que aconteceu... — após repreendê-lo, encaro o chão, onde, certamente pudesse, enfiaria a cara.
Enquanto eu sentia as minhas bochechas queimarem, Michael fazia o som rouco de sua risada repercutir pela cozinha.
— Não tenha vergonha, querida, você tem um corpo que levaria qualquer homem à loucura. Não há nada de ruim nisso.
Não sou inocente. Sei que tipos de desejo uma mulher despertava em um homem. As freiras ensinavam o necessário, e o que era tabu para as jovens senhoras, os livros que eu e Brianna liamos à noite, esclareciam.
Podia ser virgem ainda, mas não era tola ou burra.
— Só não quero que pense que...
— Relaxe, Rebecca — Michael tocou o meu rosto. O meu corpo tremeu, e não tinha ideia se era o frio ou efeito do toque dele em minha pele — Venha, eu vou mostrar seu quarto.
Foi quando os dedos abandonaram a minha pele que eu soube que o frio não teve nenhuma relação à reação do meu corpo.
Saímos da cozinha e passamos por um imenso corredor, algumas portas, até chegar ao centro da sala. Ao fundo dela, uma escada em forma de Y que levava ao andar superior surgiu.
— Na ala esquerda é onde fica o quarto dos meus pais e alguns quartos de hóspedes — disse ele ao nos dirigirmos para o lado direito no fim da escada — Desse lado o meu quarto, o da Caroline e o seu, é claro.
— Como assim, o meu? Pensei que ficaria com os outros empregados.
— Não. Com minha mãe doente e meu pai trabalhando, às vezes viajando, e como passo muito tempo na faculdade, Caroline precisa de sua presença constantemente. Às vezes ela tem pesadelos à noite. Além do mais, a antiga babá era como um membro da família, e devido às circunstâncias, resolveram deixar como está.
Caminhamos em silêncio pelo corredor que levava aos quartos. Eu absorvia as últimas palavras de Michael e não tinha noção do quão perigoso era estar tão próximo a ele assim.
— Venha — Michael disse, indicado o quarto — Esse é o quarto de Carol.
Ele abriu a porta, mostrando-me o quarto infantil mais lindo que já havia visto.
— Ao lado há um quarto de hóspede — ele se virou e saiu — Esse é seu quarto, em frente ao da Carol, e ao lado, o meu.
Michael foi se aproximou de mim e posicionou as mãos na parede, deixando-me presa entre seus braços esticados.
— Então, se precisar de um ombro amigo ou alguém para conversar à noite, jogar gamão... é só abrir a minha porta. Eu nunca tranco — Michael sussurrou sedutor, os lábios a poucos centímetros do meu rosto hipnotizado. Ele não tinha apenas um olhar e sorriso capazes de me fazer esquecer do próprio nome. Ele possuía uma voz sexy e hipnotizante que me faria dizer sim para qualquer pedido que me fizesse. Como se ele fosse a sereia e eu o simples marinheiro naufragando no mar turbulento que eram seus olhos.
E como se não fosse o bastante, o ar cálido saindo dos lábios dele infiltravam-se dentro de mim, fazendo o meu corpo aquecer.
Michael significava perigo. O próprio demônio em pele de cordeiro. E se havia algo que eu havia aprendido muito bem, é que com o diabo não se brinca. Enquanto eu fosse capaz, fugiria dos seus encantos, mesmo que minasse todas as minhas energias.
Eu apenas não sabia até quando teria forças para resistir.
— Não será preciso, obrigada. — abaixei, dando um rápido sorriso para ele.
Escorregando pela parede, consegui a proeza de fugir dos braços dele, fechando a porta em seguida na sua cara. Não sem antes notar o olhar sexy e debochado que Michael emitia.
Que Deus me ajudasse!
Não seria nada fácil fugir de um demônio como ele...Eitaaa. Que esse Michael já chegou abalando nossa mocinha.
Votem e comentem, por favor 🥺
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Encontrando o amor
RomanceApós deixar o orfanato onde cresceu, Rebecca vai trabalhar como babá na casa dos poderosos Hunter. Apaixonar-se por Michael Hunter o filho dos seus patrões, foi tão simples como respirar. Logo os dois vivem uma paixão intensa e avassaladora. Int...