Capítulo 4 - Lothan

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O distrito deve estar bem cheio, por ser do lote duzentos deduziu Maximus, enquanto afastava delicadamente meus cabelos para observar o couro cabeludo. Passava sobre a pele uma pomada fria e com um cheiro forte que não consegui distinguir, mas que também esfriava minhas narinas se eu inspirasse com vontade.

Refleti sobre meus anos robóticos no distrito, no dia a dia e nas pessoas que vi. Não reparava nelas, mas sabia que não eram muitas para tantos lotes. Eu estava quase com trinta e três, idade para seguir para a zona de industrialização. Talvez lá houvesse rostos mais velhos, idosos; fora isso, pessoas marcadas pela idade só existiam em meus registros mentais.

Na verdade, não há muita gente — respondi, enquanto observava uma pequena aranha descer sobre uma grande folha diante de mim. Aracnídeo fascinante que nomeei Cessyl em minha mente. — Nunca analisei nada antes do meu primeiro choque. Numa manhã, me senti em queda livre e acordei com o indutor reprimindo meu cérebro.

Essas pessoas que faziam falta naquele lugar estão por aqui, Adam — disse Kevin, sentando-se no banco ao meu lado. Ele trouxera uma xícara de chá e uma tangerina de um compartimento, um cômodo construído, acoplado à estufa. — Mas, com certeza, não são criaturas apáticas como antes. Também não são como você. Algumas criações de Neon são o que tinha de pior no velho mundo.

Adam refletia sobre a conversa de momentos antes, sentado na cama do quarto o qual lhe acomodaram. Dividiria o cômodo com um beliche, uma escrivaninha, um guarda-roupa e um espelho grande ao lado da porta do banheiro com uma outra pessoa que não estava ali; pelo banjo acomodado ao canto do cômodo era alguém que gostava de música.

Ainda segurava a tangerina que recebera de Kevin como um presente valioso, observando cada detalhe. Nunca tivera tão próximo de algo que não era processado ou industrializado. Cheirou-a, sentiu a textura da casca ao descascar desajeitadamente puxando com as unhas pequenas e colocou um gomo na boca. De início, achou aquela meia lua em sua língua seca e sem sabor. Então, resolveu mordê-la, e o suco doce com um toque azedo invadiu-lhe o paladar. Era bom, muito bom. Ele deixou o corpo cair no colchão e permaneceu jogando mais gomos doces na boca.

— Code disse que escaneou o seu tamanho. — Uma voz conhecida chegou-lhe aos ouvidos, e ele levantou-se de uma vez batendo a testa na borda de madeira do beliche. Era Batista, segurando uma grande sacola com roupas. — Tem vários estilos aqui, para te ajudar a encontrar a própria identidade.

— Oh, muito gentil da parte dela — agradeceu Adam, massageando o local onde batera.— Ela disse... Que eu ajudaria na reconstrução das coisas distorcidas pelo meu antigo chefe. O que devo fazer?

Batista deu uma suave e sonora risada, e balançou a cabeça negativamente. Era engraçado ver tanta prontidão no outro, uma necessidade de fazer alguma coisa mesmo com os olhos alertas pedindo uma pausa.

— Descanse, tome um banho, coloque roupas limpas — respondeu ele, deixou a sacola de roupas ao lado dos pés de Adam e seguiu até o guarda-roupa. Tinha passos tão leves que quase não fazia barulho sobre o piso de madeira. — O tempo está do nosso lado.

 — O tempo está do nosso lado

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⏰ Última atualização: Mar 24, 2022 ⏰

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