CAPÍTULO 01: MUITO SUSPEITO

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      Foram incontáveis drinques até que os três garotos houvessem perdido totalmente a noção da realidade. Eram três da manhã de uma segunda-feira; uma festa na casa de Adrian cheia de adolescentes, que começou quando o dia anterior ainda estava claro (e, é lógico, quando seus pais não estavam por perto). As carteiras da sala de aula e os malditos cálculos de álgebra os esperavam dali a algumas horas. Nenhum deles, entretanto, parecia se importar, afinal, Lucas, Rafael e Diego estavam muito perto de acabar com a dúvida cruel que há tempos rodeava o influente amigo.

      Adrian era mesmo gay?

      Eles nunca haviam o visto em público com uma garota, o que era, no mínimo, estranho. Um rapaz rodeado de meninas loucas para transar, tão elogiado pela beleza fora do comum, pelo porte físico invejável mesmo com tão pouca idade ou ainda estranhado pelo jeito casca grossa de ser já deveria, na opinião dos amigos (e de toda a escola), ter provado sua masculinidade. Mas naquele dia, Adrian pareceu estar prestes a mostrar que fazia jus à sua popularidade.

      — É aquela gostosa ali. — Diego apontou com o dedo mindinho. Segurava um copo com batida de morango quase vazio. Devia ser o seu quinto, isso sem contar outras vinte latinhas de cerveja. O sorriso frouxo e a falta de firmeza nas pernas denunciavam a sua extroversão atípica. O famoso quietinho que surpreende com o incentivo certo.

      — Eu daria tudo pra passar horas esfregando a minha cara naqueles peitões. Puta que o pariu! Por que só o Adrian pode se dar bem? — resmungou Rafael, cujo os ombros serviam de apoio para Diego.

      — Seu lesado — Lucas agarrou a gola da camiseta de Rafael e o puxou bruscamente para perto. Diego quase caiu no processo —, você sabe o porquê. Hoje a gente descobre se esse babaca joga mesmo no outro time — completou alternando o olhar entre os amigos e as dezenas de adolescentes a sua frente. Virou toda a sua vodka em um só gole.

      — Ela já sabe o que fazer? — Rafael perguntou quando sua voz foi abafada pela nova música que começara a tocar.

      — É claro que sabe. Eu já dei as instruções a ela. Se liga: ela vai se oferecendo aos poucos, acariciando certos lugares e tal, enquanto a gente observa como ele reage. Se ele não aceitar ir ficar com ela, fica provado que a praia dele é outra.

      — É, com certeza um plano infalível — Diego comentou com certo deboche. — Mas, Lucas — continuou —, como isso virou uma prioridade assim de repente? Tipo, do nada a gente encanou com essa história que nem sentido faz. Aliás, a gente não, né? Você que começou com essa merda toda.

      — Cê tá me zoando, né, Diego?! Porra, cara! Eu não quero gay do meu lado, não. E outra: se ele for mesmo, daqui a pouco vai tá querendo dar ou comer a gente. Cê vai aguentar a pressão?

      — Que papo é esse, pô? Eu hein. Me tire desse bolo aí. — Diego levantou as mãos em forma de protesto, como se estivesse se afastando de um vírus desconhecido e mortal.

      Talvez, para ele, fosse mesmo.

      — De boa, mas cadê o Adrian? — Rafael finalmente lançou a dúvida. — Ainda não falei com ele hoje.

      — Bem ali tomando todas. — Lucas apontou para a escada um pouco distante deles, que dava nos quartos. — E a nossa amiguinha já vai começar a festa. Fica na visão.

      Metros a frente, Adrian parecia estar aproveitando bem a madrugada. Era a primeira vez que ficara sozinho (na teoria) e responsável por cuidar da casa. Diana e Bernardo, seus pais, viram no filho alguém suficientemente capaz de administrar a propriedade sem que trouxesse o caos porta a dentro.

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