A sós

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Shouta chegava cansado de mais uma patrulha noturna, abrindo a porta lentamente acompanhado a um longo e pesado suspiro desejando apenas um bom banho quente e os cafunés de seu marido para pegar no sono e começar o dia seguinte com muito mais vigor para aturar o barulho dos seus alunos pela manhã.

---- Hizashi? -- perguntava cauteloso por ouvir apenas silêncio no recinto. Caminhou pelo pequeno corredor dando de encontro com um loiro de cabelos longos e presos sentado no sofá da sala com um notebook em seu colo digitando rapidamente até erguer os olhos verdes que Aizawa tanto gostava, abrindo um largo sorriso em sua direção.

---- Bem-vindo de volta querido. -- seu tom de voz era suave e brando, um timbre usado apenas quando estavam a sós. Colocou o eletrodo ao seu lado no acolchoado, levantando-se indo em direção ao de cabelos negros onde suas mãos se emaranhavam nos fios e seus antebraços descansavam no ombro do mais baixo. Shota apreciando aquele carinho pousava suas palmas na cintura fina do companheiro, puxando-o mais perto que podia, cedendo a sua grande vontade de beijá-lo, realizando seu desejo com bastante vigor que logo fora retribuído.

---- Muito cansativa a patrulha? -- perguntou Yamada fazendo círculos aleatórios no seu couro cabeludo, usando o indicador para este ato que era recebido de muito bom grado por Shota.

---- É, igual a todos os dias. -- suspirou novamente, só que agora com um sutil sorriso nos lábios, que o loiro apenas percebeu por estar bastante próximo a este. 

---- Vá tomar banho, eu vou esquentar seu jantar. -- Hizashi soltava os fios embaraçados passando as palmas macias no peitoral alheio, e foi liberado a ir apenas quando Aizawa  roubou-lhe um selinho. Outro, e mais outro, e um último outro, retirando longas risadas do mais alto no processo. Finalmente indo para a cozinha fazer o que havia dito enquanto Shota ia em direção ao banheiro retirando seu óculos e seu lenço o pendurando no cabideiro do quarto do casal. 

Após uns bons e longos minutos embaixo do chuveiro Aizawa finalmente sai do banho, vestindo uma calça de moletom surrada junto a uma blusa de manga (dobrada até os cotovelos) preta igualmente surrada, usando pantufas de gatinho que Hizashi o dera de aniversário que ele nunca admitiria ter adorado. Marchou até a cozinha deparando-se com seu marido na frente do fogão esquentando o que parecia ser uma espécie de sopa murmurando uma melodia doce e lenta, e se assustou quando sentiu braços musculosos abraçarem sua cintura com certa possessividade e um queixo apoiar-se em seu ombro.

---- O cheiro está muito bom. O que preparou? -- questionou o de cabelos pretos deixando um beijo casto no pescoço de Hizashi, era naquele local que começava as pequeninas e discretas sardas que iam até o início dos braços do loiro, e mesmo que tal odiasse, Aizawa fazia questão de enfatizar o quanto amava os miúdos pontos de luz que havia no corpo de seu amado.

---- Hiyajiru, sei que gosta quando eu faço ela. --- respondeu Yamada entre risadas por conta da cosquinha que sentia com os beijinhos doces que recebia na região dos ombros. Ele desligou o fogo, pegando uma tigela em um dos armários de cima, pegou uma concha em umas das gavetas e colocou aos poucos a sopa no recipiente, sinalizando sempre a Shota para saber a quantidade. Logo eles estavam na mesa, Aizawa comendo com tanta vontade por finalmente estar se deliciando com a comida de seu marido enquanto Hizashi ficava apenas admirando-o com algumas risadas silenciosas, aproveitando a companhia um do outro.

 Shota não era do tipo que admitia ou falava o que sentia em voz alta, mas ele nem precisava de qualquer modo. Misteriosamente, apenas de Yamada o olhar nos olhos, com aqueles lindos e brilhantes olhos verdes, decifrava-o por inteiro, como um livro aberto, e isso o fazia lembrar da escola, de quando se declarou para o loiro, do primeiro beijo deles, do pedido de namoro, do pedido de casamento... Meu Deus, essas memórias o inundavam velozmente que não pôde deixar de abrir um grande sorriso, despertando a curiosidade do outro.

---- O que está te deixando tão sorridente? -- provocou o de olhos verdes, curioso.

---- Estava lembrando do começo de tudo. O começo de nós dois. --- levou timidamente a destra até as mãos ossudas de dedos compridos, entralaçando-as, usando o polegar para fazer um carinho.

---- Ha! Lembro bem de quando se declarou. Achei que meu coração ia sair saltitando de tanta felicidade. -- Yamada abriu um sorriso, mas não um sorriso qualquer, é aquele sorriso que tira o fôlego de Shota, aquele sorrisinho de canto, tão charmoso, tão tímido, que o moreno não resiste em beijar aqueles lábios mais uma vez, e de novo e de novo que deixa Hizashi tonto e risonho.

E estavam na cozinha novamente, deste vez lavando a louça e guardando a sopa na geladeira. O loiro agora enxugava os utensílios que Aizawa enxaguava cantando uma música suave e bem baixinho que Shota reconheceu que música era aquela apenas quando prestou atenção na letra. A música que tocou na valsa do casamento deles, que Hizashi demorou meses escrevendo e reescrevendo para a ocasião especial, era a música deles. O de barba por fazer parou e pegou a mão do amado que segurava o pano de prato, e com sua palma livre descansava na cintura fina, começando uma valsa cantando da parte que Yamada havia parado. O loiro abriu um sorriso amplo, pousando sua outra mão no ombro largo deste, entoando junto ao marido, descansando as testas em união. E eles rodavam, dançavam, saíam da cozinha, rodavam e rodavam, dançavam, riam, e no meio do emaranhado de pernas compridas, os dois caíam um em cima do outro no sofá em gargalhadas altas e felizes.

Os olhos se topavam. Tantos sentimentos estavam envolvidos ali; cumplicidade, carinho, amor. Tantas emoções que não tinham necessidade de ser expressadas em palavras, as íris de cada um expressavam isso. Então, um roçar de lábios acanhado para sentir o gosto, logo mais, um beijo frenético e profundo; tão intenso que transmitia tudo que não conseguiam dizer, ou melhor, que não precisavam ser ditas.

---- Eu te amo. -- disse Hizashi em um sussurro, como se estivesse com medo de estragar a linda bolhazinha climática que estavam envolvidos.

---- Eu também te amo. -- disse por fim Aizawa, se aconchegando no peito do loiro. O moreno podia perder tudo, mas contanto que Yamada estivesse ali, ele ainda teria um lugar para chamar de lar.

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