Cap. 1 - Prova A

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Não sei onde estou nem quem sou, e já dou graças a Deus por me lembrar de como se pensa ou fala. Não sei o meu nome nem para onde vou mas pressinto que estou no mar pois a caixa dura e fria de aço onde vou parece-me estar a abanar muito. Nova coisa a saber sobre mim: ENJOUO A MARESIA! Estou a começar a sentir o meu estômago andar à volta mas, por mais estranho que soe, não me sinto muito inseguro nem sinto que algo vá correr mal, pelo menos na próxima meia hora. Não devia haver luz mas de certa maneira está apenas um bocadinho escuro. Ou eu estou a soar muito dos pés ou quase que juro que eles estão húmidos... ou melhor, encharcados! OK, já percebi que não é suor, é água! A caixa vai-se inundar dentro de poucos minutos! Eu vou, é óbvio que vou morrer, a menos que arranje uma ... O que é aquilo?! Algo está escrito na parede, algo que não estava antes! Diz:

"PROVA A:

Água"

Mas que raio é que se está a passar? É que já estranho eu estar sem memória e estar fechada numa caixa que está à deriva, e agora do nada aparece magicamente uma frase sem sentido algum! Ainda nem pus os pés no chão e já me estão a tentar matar! Eu sei que é estranho eu estar dentro de uma caixa de mais ou menos um metro cúbico de metal e estar a flutuar mas é verdade! Isto é de loucos, parece impossível! Volto a olhar para a mensagem e junto a ela, do meu lado direito, pendurado num ganchinho, estavam uns óculos (daqueles largos de mergulho) e um tubo para respirar dentro de água. Parece que estão a gozar comigo, só pode! Como é que eu vou respirar dentro de uma caixa fechada se ela vai ficar cheia de água e sem espaço para oxigénio! A água não pára de entrar e... espera, se a água entra também pode sair! É isso,por onde a água entra eu posso enfiar o tubo e respirar até morrer à fome! Sei que posso morrer mas demora mais tempo do que ser sufocada por água. Pode ser que me dêem alguma coisa por ter passado a prova e me expliquem tudo, se é que isto tem explicação!

Assim o fiz. Enfiei o tubo pelo sitio de onde vinha toda aquela água. Fazia muita pressão mas mesmo assim consegui fazê-lo. Graças a Deus que estava perto da costa, pelo menos o suficiente para o tubo atingir a superfície!

Passado mais ou menos uma hora sem comer ou beber água (que não fosse salgada, que acreditem que engoli muitas vezes!) a caixa finalmente bateu na areia e parou. Antes que eu conseguisse pensar em como é que iria sair do raio da caixa, as suas paredes se abrissem para os lados fazendo a planificação de um cubo.

Doía-me tudo! É que eu não só estive uma hora acordada sem me conseguir mexer dentro da caixa como devo ter estado muito mais antes de acordar! Nem sei é como é que a caixa não foi ao fundo, visto que era de metal, mas agora o que interessa é que estou vivinha da silva. Estou também com um grande aperto no estômago, é que eu não devo comer há mais de cinco horas!

Saio do mar a correr até chegar a terra, onde me atiro para o chão e me deito como que um cadáver. Sabe tão bem sentir a areia fofa e quente por baixo de mim e finalmente poder esticar as pernas!

Agora que olho para os meus pés cobertos por pequenos grãozinhos é que reparo que tenho vestido um fato preto de licra mas muito mais resistente e confortável, uma coisa do género elástico para vestir mas à prova de água, é muito difícil de explicar. Só as mãos e os pés é que não estão completamente tapados, mas estão enrolados numas fitas finas mas que protegem e deixam sentir as coisas. É quase como se eu tivesse as mãos e os pés sem nada a tapá-los mas ao mesmo tempo têm uma fina película a envolvê-los.

Penso que o sitio a que vim parar (sem querer ou de propósito) é uma ilha relativamente pequena mas só consigo dar-lhe uma volta completa a correr em mais ou menos dois dias e meio. Como é que eu posso ter a certeza disso se não se vê o lado de lá? Estou ansiosa por descobrir o lá há! Daqui só se vê árvores e mais árvores, algo do género de uma floresta tropical com um lago a um quilómetro da costa e uma zona com árvores mais campestres, é um sitio variado parece-me!

De repente, do chão da praia onde me encontrava, saiu disparado um cubo (do comprimento do meu antebraço) de cartão que parecia estar cheio. Abri-o. De lá de dentro, tirei uma sacola de couro castanha com 10 bananas e 5 pães (saiu-me o jackpot!). Também trazia 3 pequenas garrafas de água e 5 bifes ainda não cozinhados (mas o que raio é isto? primeiro põem-me numa caixa cheia de água sem maneira de sair e depois dão-me fruta! onde é que isto já se viu!).

Estava prestes a desdobrar a caixa para a guardar quando reparei que tinha uma coisa escrita:

"Prova A superada com sucesso, não temos muitos como tu.

Como recompensa devolvemos-te uma memória."

Olhei com mais atenção e vi um mini tubo de vidro com um líquido azulado lá dentro. Estava rotulado com a palavra "Memória". Abri a cápsula e bebi-o todo de uma vez. Um sabor muito ácido invadiu a minha língua pondo-a a arder. Adormeci de imediato, estendida no chão daquela linda praia.

Kill Or Be Killed - Trust No One #Wattys2016Onde histórias criam vida. Descubra agora