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Selenia Visenzo
3 anos antes...

—Você está traficando? — A mulher que me deu a
vida me olha com horror. Seus olhos azuis brilhavam com as lágrima e a decepção estampada neles, isso fez o meu estômago revirar o café e os ovos que comi pela manhã.

    —Mãe, são só alguns golpes e vendas, e eu juro que faço isso por um bom motivo. — Evito falar que o motivo de eu clonar cartões e aplicar golpes é para pagar os custos do tratamento contra o câncer que ela estava passando a quase um ano. Me recusei a falar a verdade sobre a minha demissão e que não tinha mais dinheiro para bancar as contas de casa e que fiz essas coisas por pura sobrevivência.

     — Minha filha...— Ela começa a chorar e eu a acompanho também — Não quero que você faça isso com as pessoas, nós vamos dar um jeito nisso tudo.

      — Esse é o jeito mãe, não posso deixar você sem os medicamentos e o tratamento. Eu faria de tudo por você e não sou uma criminosa, sim, eu vendo algumas drogas para uns universitários e aplico golpes. Entretanto olha a nossa situação...

      Minha voz sai em um tom mais melancólico do que queria. Os últimos seis meses foram os piores das nossas vidas, nada se compara ao sentimento de impotência quando o médico deu o diagnóstico de câncer para a minha mãe. Em algumas consultas foi constatado que a metástase do câncer havia se espalhado pelo peito e cabeça, em um estágio avançado e incurável. Mas não importava o diagnóstico daqueles desgraçados e o tempo que deram de vida a ela, eu iria lutar para que ela ficasse viva.

      — E se você for presa? — Ela fala fungando e limpando as lágrimas no seu rosto.

      —Tomo bastante cuidado quando vou entregar a mercadoria e uso nomes falsos para ninguém me encontrar. — Era uma tática meia boca para evitar chamar atenção mas estava funcionando. A meta era vender para cobrir o tratamento do câncer, com apenas alguns clientes e sem chamar atenção.

      —Sel. — ela me chama pelo apelido carinhoso— Eu vou morrer em alguns meses, você precisa entender que..

      —Não!— Levanto do sofar e a encaro— Nos vamos dar um jeito, sempre damos um jeito nas coisas e a senhora vai ficar bem.

      A morte não é uma possibilidade, eu não aceitava que fosse. Nada disso importava, pois eu ia lutar para que ela ficasse comigo, eu iria até o inferno pela minha mãe, e se algum dia ela fosse embora eu iria junto com ela.

      — Temos que encarar a realidade.— Ela se levanta do sofá e vem na minha direção e me envolve em um abraço apertado— Sabe Sel, quando descobri que estava grávida de você eu pensei que a minha vida tinha acabado, odiei passar pelos enjoos, pelas dores no corpo, por você me chutando a madrugada inteira.

      Ela sorri e parece se lembrar de algo mas logo a risada cessa e parece voltar a realidade. Então continua a falar.

      —Mas quando você nasceu e te peguei nos meus braços eu juro que senti como se a minha vida finalmente tivesse tomando um sentido, um rumo. Selenia, você foi a melhor coisa que eu já fiz na minha vida...talvez eu não tenha sido uma mãe perfeita porém eu tentei...— As lágrimas voltam a correr pelo seu rosto pálido. — Me desculpa filha.

      Eu não estava entendendo por que ela me pedia desculpas, não tinha motivos para ela se desculpar. Samanta me criou sozinha, sempre batalhando para não faltar nada em casa e que eu tivesse uma educação decente. Minha mãe nunca quis falar sobre o meu pai e eu não sentia falta de algo que nunca tive então não ligava muito para o assunto, pois já tinha ela e era tudo o que eu precisava.

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