Fazer dezoito anos não é bem como as pessoas falam, mas é bem parecido com o que a minha mãe falava, como "o começo da fase adulta e suas novas responsabilidades", ou "é nessa fase que as responsabilidades de verdade começam a aparecer, com a faculdade e o emprego". Ela também comentou sobre as contas para pagar, mas eu só não prestei tanta atenção, só que elas nem esperaram o dia passar e já estavam de baixo da porta.
Ter esperado os "tão esperados" dezoito não é comigo, já tive sim uma fase de querer ser "dona do meu próprio nariz", mas o tempo passou e os acontecimentos foram passando rápido, as datas acabaram se tornando apenas datas. A magia foi se perdendo pelo caminho, o coelhinho da páscoa começou a ter formas e rostos novos, assim como o Papai Noel no final do ano, no fim eu sempre encontrava a minha mãe.
Sei que os aniversários são especiais, sei que mesmo não gostando de datas comemorativas eu não consigo me desvincular dessa, já que é uma vez por ano e me faz pensar em todo o tempo que se passou: como eu cresci, como eu via o meu redor e como essa visão mudou com o amadurecimento, como o meu pensamento se transformou com o passar dos anos e como meu ideal do futuro se modificou a cada dia, mês, fase e ano.
E agora pensando no futuro eu não o vejo mais, a instabilidade do que eu quero tomou conta de mim e o que eu posso fazer é me concentrar no que esta aqui e o que posso fazer para realizar o que os outros pedem, tanto na faculdade quanto no novo emprego. É cada vez mais difícil parar para imaginar o futuro.
O meu futuro não tem mais a forma que tinha quando eu era pequena, ele não é mais feito de cavalos, castelos e nem cor-de-rosa, e principalmente de príncipes encantados ou em espaçonaves e viagens espaciais.
A parte de mim que se perdia nas possibilidades esta indo embora com todos os tipos de ficção que eu pensava quando era menor e por mais que eu não queira que isso aconteça eu entendo que pelo menos isso acontecerá no meu futuro, é uma das partes mais tenebrosas dessa fase, pensar nos antigos objetivos ou sonhos e ter que ou desistir ou ter um plano bem pensado do que é possível ser feito para conseguir o que se quer.
Enquanto penso em tudo isso vejo a luz do Sol entrando pela cortina e vejo que já faz meia hora que estou enrolando na cama, esperando me sentir diferente, porque mesmo que eu não esperei muito por isso eu pensei que eu sentiria algo novo e diferente, talvez uma esperança de encontrar o que eu realmente quero ou de que vai dar tudo certo. Eu sei que minha mãe já me diz isso, quase todos os dias, mas eu pensei que isso vindo de mim seria melhor.
Ouço o barulho da porta se abrindo e penso em fechar os olhos rapidamente e fingir que estava dormindo, como fazia quando era adolescente e minha mãe abria a porta de madrugada para ver se já estava dormindo, então eu tinha que esconder o celular de baixo do travesseiro e fingir que estava dormindo, mas eu já percebi que ela sabia que eu estava acordada, provavelmente conversando com meus amigos, e ela vinha apenas para dar um aviso, e eu obedecia, sabendo o quanto já era tarde.
- Olha! A aniversariante do dia já esta acordada - Minha mãe sorri para mim da porta.
Ela vem e dessa vez não abre a janela como sempre faz, pelo contrário, hoje ela deita na cama comigo, assim como todo ano nessa data.
- Vai tomar café comigo? - Ela pergunta passando a mão em meu cabelo.
- Sim - Respondo enquanto me ajeito em seu colo - Você vai sair às 08:00?
- Sim, eu não consegui fazer meu chefe me liberar hoje - Ela suspira e eu sorrio, todo ano é assim, acho que essa é uma das certezas que tenho na vida, Ricardo, o chefe da minha mãe, nunca vai deixar ela ficar, um dia se quer, sem trabalhar.
- Tudo bem mãe, Caroline vai vir aqui para me dar uma carona para pegarmos os vestidos, e na hora do almoço eu vou ficar aqui com você.
- Caroline parece estar mais animada que você - Sorri e imagino quando Caroline não esta animada - Então eu espero que essa festa te anime mais e que ela e o Victor te animem mais ainda.
- Pode deixar, eles sempre conseguem fazer isso.
Descemos para tomar o café e minha mãe logo sai, quase se atrasando por minha culpa.
Enquanto vou para meu quarto como a me divagar por minhas memórias, fazendo delas um filme dentro da minha cabeça, passando por diversos momentos da minha infância, desde machucados, bichinhos de estimação, passeios com a família, parentes distantes que não lembro direito, avôs e avós em casa nos domingos, e o começo da escola, mas eu sempre paro quando chego à terceira série, eu me lembro de muitos momentos da primeira e da segunda, de vários amigos e coleguinhas de classe, só que é muito difícil eu lembrar da terceira série, a única coisa que lembro é que foi nesse ano que conheci a Caroline.
Percebo que já passei muito tempo pensando no passado, mas é isso o que acontece quando se completa mais um ano, querendo ou não você precisa se lembrar do passado, para lembrar-nos dos erros que não queremos cometer no futuro e das boas ações que queremos praticar de novo ou dos sonhos que queríamos realizar, e que só agora poderá dar certo.
Escuto uma buzina na entrada enquanto pego as chaves e suspiro ao ver mais uma carta na porta. Chutando ela eu abro o portão e saio sorrindo só de ver a animação de Caroline.
- Vamos! - Ela grita enquanto abre a porta para mim e aumenta o som.
Hoje eu vejo que ficar lembrando dos momentos que passei e ficar pensando neles foi o que eu fiz em casa, agora o que eu posso fazer é pensar no agora, no presente, sem mais passado e nem futuro.
[N/A]: Hey, oi para que leu esse primeiro capítulo espero que gostem e que continuem lendo para saber mais sobre a vida complicada da Clarice e sobre seus amigos e família :)
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Era Dreieck
Teen FictionPassar pelos dezoito é como todo mundo fala? Ou pior? Ou até mesmo melhor? A maioria tem essa dúvida, e com Clarice essas perguntas ainda não pode ser respondidas, já que após essa data de aniversário tão importante as coisas caminham para lugares m...