- Ainda bem que já tínhamos encomendado esses vestidos semana passada, porque essa semana já começou corrida — Caroline continua falando sem parar enquanto ora dirige ora olha para mim — Você viu quanta coisa a Ana passou? Eu te mostrei meu caderno?
- Sim — Tento prender o sorriso imaginando a cara que Caroline faria se eu mostrasse os meus cadernos.
- Certo — Ela diz olhando fixamente para o sinal vermelho e quase instantaneamente ele passa para o verde, quem disse que essa menina não tem poderes?
Chegando à loja em que tínhamos encomendado os vestidos, a tia de Caroline sorri e nos leva até o provador. Cláudia, a tia de Caroline vinha com dois vestidos, pude notar que os dois eram curtos, porém um deles era vermelho, o que presumi ser de Caroline, pois além de combinar com seu estilo ainda combinava com a sua personalidade extravagante. Já o outro era totalmente preto com uma renda que subia até o pescoço, o que torcia para ser o meu.
- Caroline aqui esta o seu — Ela disse entregando o vestido vermelho para Caroline — E esse é o seu Clarice, e feliz aniversário! — Ela me abraça e sussurra em meu ouvido — Tenho certeza que seu pai estaria orgulhoso de você.
Entrei no provador e logo que consegui fazer o vestido entrar vi o quanto ele era curto e modelava totalmente as curvas do meu corpo e foi naquela hora que percebi o que completar essa idade significava, além das responsabilidades fisicamente eu me sentia uma mulher.
- Clarice! Já se trocou? Estamos esperando! — Ela disse puxando a cortina do meu provador.
Todas sorriram ao me ver e me senti envergonhada por ver todos me olhando, até porque sabia que não era tudo isso que as expressões mostravam.
Enquanto todos voltavam aos seus afazeres me virei para olhar mais uma vez e Caroline sorri para o meu reflexo e logo sinto seus braços cercando meu pescoço.
- Quem diria que aquela menina assustada no primeiro dia da terceira série se tornaria essa gostosa! — Ela ri de si mesma — Dessa vez a noite será sua, apenas sua.
Troco-me e saímos para passar no shopping e tomar um café no Starbucks.
*
Nos sentamos em um dos bancos do balcão enquanto esperávamos os nossos Frappuccinos.
- Ca, porque não chamamos o Victor?
- Mas eu chamei, só que ele disse: não é porque sou gay que tenho curiosidade de ir à uma loja experimentar vestido — Caroline imitou Victor certinho me fazendo quase cair do banco.
- Mas não lembra daquele estagiário da sua tia? Victor não tentou pegar o telefone dele?
- Exatamente, você acha mesmo que ele estava interessado em nos ajudar com as roupas? Ele queria mesmo é conseguir pegar aquele gato.
Ri me lembrando da cena em que enquanto Ricardo tentava arrumar as roupas em seus devidos lugares Victor ia em seu encalço, como um cachorrinho.
- E você não lembra da cara quando ele viu você passando o seu número para o Ricardo?
- Lembro sim, mas a melhor parte foi quando ele disse que não gostava do meu tipo, e por mais que ele jogasse no time do Victor ele não iria ficar com uma "criança" — Para dar ênfase Caroline gesticulou as aspas — E eu lembro como Victor surtou quando contamos o que tinha acontecido.
Victor era com certeza o meu amigo mais engraçado e o companheiro para todas as horas, principalmente nas horas mais constrangedoras da minha vida, como na vez em que a cidade recebeu uma das melhores festas do mundo e eu acabei caindo na frente de muitos, e Victor me "ajudou" caindo em cima de mim e gritando: Montinho! Com certeza a dor que senti depois que muitas pessoas cairam em cima de mim não foi pior do que a vergonha que senti na hora, mas pelo menos as pessoas se lembraram desse momento como o "grande montinho da festa" ao invés do "maior tombo da festa".
- E você tem alguma ideia de quais pessoas vão para festa hoje?
- Sim! É a Blackmoon, a festa mais esperada do ano, virão milhares de pessoas da região e de fora também — Caroline levanta os braços e os agita de tanta felicidade, o que acaba me motivando a pensar que o aniversário de dezoito poderia ser melhor do que eu imaginava.
- Tudo bem, espero que a noite seja mesmo tudo isso ou melhor, até porque enquanto ela não chega eu vou ter que ouvir as broncas do Sr. Cézar e logo depois ter a prova semestral.
- Não sei como você aguenta seu chefe, além de ser um mala é maluco por acreditar em seres vindos do espaço, e sei que você vai conseguir uma nota muito boa nessa prova, afim você é gênio e estudou muito para isso.
- Obrigada, espero que seja assim mesmo — Me despeço sorrindo e aceno quando o carro da partida.
Já dentro de casa procuro o painel do corredor onde guardamos as melhores lembranças que temos de meu pai e diante de uma parte branca noto que a foto com a minha família reunida sumiu, mas não me preocupo sabendo que minha mãe poderia ter mexido na foto hoje de manhã ao acordar.
Levo um susto ao ouvir o som da campainha e imediatamente a porta se abre e revela minha mãe corada e cansada com várias sacolas do supermercado, corro para ajuda-la aproveitando a oportunidade para perguntar se ela havia mexido no painel.
- Mãe, antes você ter ido na minha cama hoje de manhã, você mexeu no nosso painel?
Ela me olha confusa revelando que não sabia sobre a foto.
- Qual foto? — Ela disse se aproximando do painel.
- A que estamos junto, eu, você e o papai.
- Sim, sim. Eu peguei ela de manhã — Ela disse e rapidamente foi para a cozinha sem dizer mais nada.
Como conhecia a minha mãe sabia que ela estava mentindo, mas não sabia o porque, porque que ela encobriria o fato de ter sumido uma foto nossa? E com essa pergunta subo para meu quarto em direção ao chuveiro, temendo o porque dessa mentira.
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Era Dreieck
Teen FictionPassar pelos dezoito é como todo mundo fala? Ou pior? Ou até mesmo melhor? A maioria tem essa dúvida, e com Clarice essas perguntas ainda não pode ser respondidas, já que após essa data de aniversário tão importante as coisas caminham para lugares m...