crime

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Heloísa apertou Clarinha nos braços enquanto a menina dormia, inalando profundamente seus delicados cabelos. A menina não havia passado mais do que dois dias fora do engenho, mas Heloísa já estava profundamente apegada. Sabia que aquela não era a sua filha, mas era impossível não se preocupar com ela, especialmente quando a casa de Inácio ainda permanecia com o teto estragado.

Em algum momento sabia que Clarinha iria embora definitivamente, mas não queria pensar nisso agora. Queria era aproveitar o tempo que tinham juntas. E era por isso que estava cogitando não ir ao jantar de Olívia e Rafael. Ao mesmo tempo, sentia que, de alguma forma, sua presença era necessária. Sentia uma ligação enorme com Olívia, e além disso, Dorinha estava triste com o novo casal e precisaria de seu apoio.

Isso significava que teria que levar Clarinha, e não pretendia sair à noite com a menina. O tempo ainda estava quente, mas era apenas um bebê e com certeza não havia passado a melhor das noites sendo retirada do engenho e levada sabe-se Deus para onde pelo irmão. O melhor seria que Clarinha ficasse em casa, mas todos iriam à feijoada e Heloísa precisava decidir o que fazer.

- Atrapalho? – uma batida suave na porta fez Heloísa erguer os olhos.

- Oi, Leônidas. – ela fez uma careta, sem entender o que ele fazia ali.

- Vim ver como está a menina. – ele sorriu, aproximando-se devagar.

Heloísa viu quando ele depositou uma rosa em sua mesa de cabeceira, lançando um olhar sugestivo e um sorriso para ela.

- Está um pouco cansada. – Heloísa suspirou. – Mas logo terei que acordar e arrumar a Clarinha pra sair.

- Vão à feijoada? – ele ergueu a sobrancelha.

- Por que? – Heloísa automaticamente puxou mais Clarinha contra o próprio corpo.

Leônidas sorriu com a reação dela.

- Estou mais triste agora pelo doutor Matias não querer sair de casa. – ele deu de ombros.

- Você não vai? – ela ficou surpresa. – Achei que o doido estava calmo.

- E está, mas não quer ir. – Leônidas passou a mão pelos cabelos da bebê. – Então vamos ficar.

Heloísa olhou para Leônidas, que encarava Clarinha com olhos carinhosos. Ele era bom com as pessoas. Era bom com Clarinha também.

- Seria um abuso muito grande pedir que tome conta da Clarinha? – perguntou, em dúvida. – Dorinha não está tranquila com o namoro de Olívia e Rafael e sinto que devo ir, mas Clarinha está tão cansada.

- Abuso nenhum, minha rosa. – Leônidas abriu um sorriso tranquilo. – Eu fico de olho na menina desde que você me faça uma promessa.

- Que promessa? – Heloísa ergueu a sobrancelha. – Leônidas, Leônidas.

- Não é nada demais, minha rosa. – ele respondeu. – Só quero que prometa que vai se divertir.

Heloísa revirou os olhos, mas foi vencida por um sorriso. Leônidas saiu do quarto dela e Heloísa começou os preparativos. Clarinha já estava adormecida, mas Heloísa deixou tudo preparado para caso ela acordasse com fome. Também separou o necessário para que fosse trocada em caso de necessidade. Arrumou-se e, quando estava pronta, foi à procura de Leônidas.

Ele estava no quarto de Matias, e lia uma história em voz alta. Heloísa parou perto da porta, fechando os olhos e ouvindo a voz tranquila de Leônidas. Ele era mesmo um grande encantador. Era capaz de entreter Matias, Clarinha, e Heloísa suspeitava que se permitisse, até ela mesma cairia naqueles encantos. Mas o que estava pensando? Era uma bobagem, é claro.

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