Capítulo Extra - Bob.

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A fachada do estúdio de tatuagem era de vidro

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A fachada do estúdio de tatuagem era de vidro.

Acho que eu começo falando sobre isso porque dado o tempo que eu passava ali dentro todos os dias, a bendita da parede de vidro me fez desenvolver a mania idiota de observar as pessoas; coisa que eu não fazia antes.

Me distraía entre uma tatuagem e outra e era ótimo para me fazer rir mentalmente das coisas que criava, porque eu conseguia ser absurdo em minha própria criatividade.

Claro, havia aqueles que passavam uma única vez em frente Exodus e eu nunca me lembraria de nenhum deles nem que minha vida dependesse disso, mas também havia os recorrentes. Aqueles que por um motivo ou por outro cruzavam quase todos os dias em frente à minha fachada de vidro e que ─ esses sim ─ despertavam minha criatividade.

Eu inventava nomes e histórias para eles. Como não sabia absolutamente nada sobre nenhum e nunca transformaria meu hobby idiota de pessoa eventualmente desocupada num crime envolvendo ser stalker e eventualmente um psicopata (sim, eu assisti You), eu me divertia dando vidas aos rostos que sempre estavam ─ mesmo que por apenas alguns segundos ao dia ─ por ali.

Por exemplo, a Nona. Nona era uma senhorinha de seus setenta anos, dos olhos azuis, cabelos brancos e mania de falar usando as mãos para entonar cada palavra, que passava por ali com seu poodle branco e tão velhinho quanto ela, em suas lentas caminhadas matinais. Eu a chamava de Nona porque para mim ela era uma italiana, nascida na região da Toscana e possivelmente casada com um mafioso que hoje em dia se escondia de seus inimigos em Busan. Na minha cabeça, a senhorinha falava quatro línguas diferentes e era versada na arte da sedução... Ou ao menos foi, quando jovem.

O nome dela de verdade ou qualquer informação além de a senhorinha ter um poodle e fazer caminhadas pela manhã? Sem chance, eu nunca saberia. Ela abominava tatuagens e isso eu sabia pela forma como a mulher fazia careta quando me via do lado de fora fumando, mas esse era o máximo que eu podia afirmar verdadeiramente. Bem, ela sempre seria a Nona. Estava ótimo para mim.

Também havia o Xiao, um chinês de seus trinta e poucos anos que corria de um lado para o outro carregando sempre um suporte de quatro cafés do Starbucks em uma mão, o celular na outra e falando com alguém ─ possivelmente seu chefe ─ nos fones de ouvido. Bem, a história dele para mim era óbvia, certo? Estagiário. Xiao, o estagiário fodido que teoricamente deveria assumir funções muito mais importantes para que ele pudesse aprender o serviço, mas que na realidade vivia seus dias entre buscar cafés e lanchinhos para os superiores que nunca lembrariam o nome dele.

Pobre Xiao. Eu tinha chances de errar seu nome e eventualmente de errar sua posição na empresa, mas duvidava muito que a minha versão da vida dele fosse diferente da realidade. O cara era uma bomba de nervos, estava sempre olhando para o relógio e vez ou outra parava no meio da rua para fechar os olhos, respirar fundo e aparentemente contar até dez. Nesses momentos eu mandava forças mentais para o cara.

ANTAGONISMO • jjk + pjm [concluída]Onde histórias criam vida. Descubra agora