Se encolhendo entre os bancos da arquibancada do ginásio alugado justamente para o evento que acontecia, Camila tinha uma maquiagem borrada no rosto causada pelas lágrimas que escorreram por toda a tarde durante uma crise. A mulher observa à sua volta e percebe o quanto o lugar estava lotado: haviam pessoas por todo o canto e isso, de certa forma, àquele momento, assustava a menina, que percebia os olhares indiscretos para seu rosto inchado e borrado; certamente não era dos melhores.
Camila tenta se distrair, afinal, provavelmente era algo da sua mente: volta sua atenção para o jogo de futebol que acontecia no local e que estava prestes a acabar. AAEEFI, a Atlética Gavião, contra a AADFI, a Atlética Serpente; as duas atléticas mais importantes da região e ferrenhas rivais travavam mais uma batalha árdua. A Gavião lutava em casa e, faltando apenas dois minutos para o fim dos 180 dos jogos da final, a partida continuava empatada e sem gols, o que levaria tudo aquilo para os pênaltis.
A bola passa de jogador para jogador e o psicológico dos Gaviões estava abalado; haviam perdido todos os jogos travados contra a Serpente em outras modalidades: perderam no basquete, no vôlei, atletismo, natação e até mesmo no xadrez. Não poderiam perder o troféu mais importante dos torneios estudantis, mas àquele momento tudo parecia perdido: o time adversário parecia no auge de sua forma física, correndo com a bola no pé e mantendo a posse de bola intacta.
Com uma tentativa fracassada de lançamento das Serpentes, o lateral, camisa de número 6 dos Gaviões, intercepta a bola e, com um único passe quebra as linhas de defesa dos adversários: um passe magistral enviado diretamente para o centroavante, capitão e camisa 10 dos Gaviões, Paulo Henrique, o PH. O homem, forte e imponente, põe-se à frente do zagueiro, o dribla e, de frente com o goleiro, chuta a bola em seu canto direito, marcando o gol que sacramenta a vitória da Atlética Gavião e fazendo a arquibancada ir à loucura.
Vuvuzelas são ouvidas e pandeiros são tocados: o juiz não precisaria apitar o fim da partida – ela já acabou naquele mesmo momento. A torcida comemora alegremente a vitória da Atlética e as líderes de torcida balançavam, frenéticas e eufóricas, os pompons verdes e pretos, a cor que simbolizava o imponente Gavião.
PH, com um grande sorriso no rosto, comemora enquanto é carregado pelo seu time, gritando o hino da Atlética que poderia ser ouvido até mesmo de outro bairro e contemplando os olhares admirados da torcida, que estavam mais do que satisfeitos com a atuação do capitão; seu sorriso se desfaz lentamente ao ver, na arquibancada, o rosto de Camila cheio de lágrimas. Os dois se encaram e, com um olhar indiferente, Camila se levanta e vai em direção da saída.
—Me solta!
Paulo parece preocupado.
—Me põe no chão, caralho!
Sua voz era abafada pelo hino da Gavião, que ecoava no estádio.
—Me solta, filho da puta! Caralho!
Com o pedido escutado e logo finalmente colocado ao chão, o homem barbudo nem tem intenção de discutir com ninguém, como usualmente faria. O rapaz corre desesperado para fora do campo, ignorando os vários torcedores que tentavam toca-lo e indo na direção da saída. À procura de Camila, o rapaz salta pela grade e corre até a próxima rua, mas nem sinal da garota.
—Espera aí, você é o PH, não é?
Um homem bêbado é a único coisa que Paulo tem em seu campo de visão. Fedendo à álcool, o homem dá a mão para que o jogador a aperte, mas é ignorado.
—Viu uma mulher loira passando por aqui?
O bêbado sequer responde. Continua com a mão estendida e mostra, sem perceber, à Paulo, o quanto não tinha condições de manter um diálogo. PH se distancia e, em poucos segundos, volta para o estádio.
—Me dá um autógrafo! — O bêbado finalmente abre a boca, mas Paulo já está longe.
(...)
Aos berros, o hino da Atlética Gavião é cantado no vestiário: os jogadores, nus e suados, parecem eufóricos com a emocionante vitória. O time, após tanto sofrimento durante uma temporada de jogos abaixo do ideal, era dado como uma geração perdida e as derrotas para a Atlética Serpente em outras modalidades confirmavam isso. O fato de que conseguiram o troféu mais importante e puseram um fim à uma série de fracassos diante da maior rival era algo a se comemorar. Tudo isso graças ao único pilar da equipe, capitão e dono da camisa mais importante do time, Paulo Henrique, que não estava na comemoração.
O homem, solitário e olhando diretamente para a parede enquanto deixa a água cair por seu corpo nu, pensa no que vira mais cedo após o jogo: a expressão de uma Camila arrasada invadia sua mente; a voz da mulher ecoava na sua cabeça e parecia soar mais alto que os berros dos jogadores que ali estavam. Paulo estava arrasado e com medo do que poderia ter sido aquilo, mas não queria demonstrar isso pra ninguém, talvez nem para si mesmo.
—Qual é, cara?! — Uma voz ao lado de PH se manifesta: era o André. — Você joga para um caralho, motiva seu time, é um verdadeiro capitão fazendo todo mundo levantar a cabeça e não desistir, faz o gol no minuto final e depois do jogo fica isolado no vestiário? — O homem gesticula.
PH se abaixa e enfia-se debaixo do chuveiro mais uma vez, lavando o rosto e deixando algumas lágrimas irem disfarçadamente com a água quente direto para o ralo.
—Você fez a jogada toda, cara. — PH sorri. — Vai ficar marcado como o lateral-esquerdo que deu o passe magistral para o título. Mérito nenhum meu.
—Até parece que a vida de defensor é fácil assim. — Solta uma risada. — Todo mundo viu seu drible no zagueiro, não vão ver o passe quebra-linhas do lateral. — O rapaz repõe a postura. — Vamos comemorar isso, certo? Inferno depois daqui, cê cola, capitão?
O Inferno era uma das casas noturnas mais badaladas da cidade, sempre repleta de bebidas, drogas e o melhor: o aval da polícia local. Uma verdadeira noitada financiada por um ex-estudante da faculdade que abria o bar exclusivamente aos sábados e mantinha a tradição de, nas vitórias da Atlética Gavião, ter uma rodada de cerveja por conta da casa.
—Eu...
PH recua e penteia, com as mãos, o seu cabelo para trás, indicando um possível “não”, mas logo empurrado pelo elenco que chega ao banheiro do vestiário gritando o seu nome e jogando-o para o ar em comemoração. A mente de PH no momento era um grande turbilhão de pensamentos e o rapaz apenas se deixa levar. Nu, molhado e com uma expressão séria no rosto, PH é jogado para o ar e ovacionado: “Capitão! Capitão!”.
Ao fim de toda a comemoração, finalmente o capitão era posto ao chão; todos o observavam enquanto ele levantava-se na frente de seus companheiros de time. Seus 1,96 de altura possibilitava o homem à um papo direto com o elenco, que esperava ansioso pelo movimento do rapaz, o que o faz estampar um sorriso sincero no rosto ao pensar na situação vista de fora: mais de 20 homens pelados e à frente de um único homem maior, também nu.
—Vamos, rapazes! —O homem estende a mão para o alto. — Hoje é dia de beber pra caralho! — Com um grito estrondoso, Paulo Henrique convoca seus companheiros. — Hoje caminhamos para o Inferno!
—OS REIS DO INFERNO!
Com um grito, o elenco se dispersa. André segue com PH para o estacionamento, mas percebe no rosto do homem que algo o incomodava: à esse momento, entrando no seu Mitsubishi Eclipse 1995, estaria animado, explosivo e querendo aproveitar todo o resto da noite. Hoje, ele entra cabisbaixo em seu carro, não grita emocionado com o ronco do motor e nem arranca com o Eclipse até os 100km/h.
—Tá tudo bem, cara?
André era o melhor amigo de PH e sabia o que acontecia com ele por baixo da casca grossa sentimental que ele mostrava para os outros. O rapaz sempre foi mais ligado às artes e ao teatro: ele ter entrado no time de futebol foi influência de PH, que via nele algo especial além de sua canhota mágica.
—Eu sei lá...
Paulo Henrique não conseguiria amolecer nem mesmo ao lado de André. Conhece o homem desde os seus 6 anos de idade e, até hoje, foram poucas as vezes em que houveram momentos como esse. PH acelera seu carro, mas André não consegue decifrar se é pela adrenalina, pelo sentimento em sua cabeça ou por não querer falar com ele.
—Como não sabe, mano?
—Não sei, pô. Tá tudo bem. —Pausa e engole em seco. — A gente venceu, eu tô bem demais.
Instantes se passam, mas André não está satisfeito com a resposta.
—Para o carro, irmão.
PH ignora.
—Para o carro, mano. Sua energia de merda tá passando pra mim.
PH Ignora novamente.
—PARA O CARRO, PORRA!
PH ignora mais uma vez, mas nessa oportunidade, André não deixa por isso: o homem puxa o freio de mão, fazendo o carro derrapar pela pista por alguns segundos e quase causando um acidente com os vários carros que vinham atrás do esportivo. Em meio de xingamentos de outros motoristas, Paulo Henrique solta o cinto e salta do carro sem falar uma palavra sequer: parecia irado. O barbudo vai até o banco de passageiros e, com a sua mão esquerda, tira o homem de dentro de seu carro e, com a mão direita, desfere um soco em seu rosto.
—Sabe o que tu é? Um filho da puta do caralho! — PH grita gesticulando com o homem agora ao chão. — Da pior espécie, merda!
—Cara, eu só quero te ajudar... — André tenta se explicar.
—Quer o caralho, porra! Não fode! — Pausa e engole os xingamentos que iria proferir. — Você quer é me foder, seu filho da puta!
As brigas não eram comuns, mas essa em específico explica bem quem é o verdadeiro Paulo Henrique: impaciente, impulsivo, agressivo e tóxico, muito por sua condição, o TEI, que o deixava emputecido à todo instante se não fossem as pílulas que ele toma todo dia ao acordar.
—Espera, cara...
PH chutava André, estirado ao chão. Ele havia tomado suas pílulas naquele dia, mas todas as questões afetavam Paulo àquele momento: sua incerteza com o que realmente tinha acontecido mais cedo com Camila, a raiva que passara com André e o susto com o carro: tudo se misturava na sua cabeça e a única reação que seu cérebro tinha era continuar descontando as emoções em seu amigo ao chão.
—Filho da puta! Filho da puta! — Paulo repetia isso enquanto já nem tinha mais forças para chutar. — Filho da puta!
Um homem empurra PH, que se desequilibra e bate em seu carro parado, batendo com a cabeça. O barbudo olha para o homem que é logo acompanhado por outros três que chegam correndo.
—PH?
Paulo solta um sorriso ao ser reconhecido e logo se levanta, mostrando o dedo do meio para os quatro homens que ali estavam.
—Vão tomar no cu!
O jovem caminha rapidamente para o lado do motorista e, mesmo sem forças, entra no carro. Com um pé afundado no acelerador, uma música no rádio e ódio no coração, PH parte com o esportivo vermelho diretamente para o Inferno.
Paulo era definitivamente o cara que chamava atenção em todos os locais em que passava. Talvez a aparência era o principal fator pra isso, afinal, seus cabelos lisos e sempre bem cortados, seu rosto com seu maxilar definido, sua barba cheia e imponente e seus olhos quase que abissais eram como mel. As abelhas? As várias pessoas que o encaravam no momento em que o homem sai de seu carro esportivo. Talvez na altura? Seus 1,96 não o deixavam passar despercebido em qualquer lugar que ele estivesse, e isso era mais que claro àquele momento, o homem se destaca em meio à multidão. Ou talvez no comportamento? Ele passava um ar misterioso, quase sombrio: era o ideal para os interessados; se excitavam e chegavam a molhar as roupas íntimas com até mesmo os mais singelos olhares do rapaz.
—Boa noite, capitão!
No Inferno era sempre a mesma coisa em dia de vitória: as bandeiras verdes e pretas eram hasteadas por todo canto e todos os estudantes das Atléticas da faculdade de Ilhéus eram convocados para a casa noturna: festas não eram novidades e, muito menos, o assédio das garotas para com o capitão do time de futebol.
—Boa noite.
Sem mais. O homem não dava intimidade à quem não lhe interessa, talvez por isso ele seja tão desejado: capitão do time, uma média invejável no boletim e podre de rico; mas nada disso chegava aos pés do que mais era atraente nele: a dúvida que ele deixava sempre no ar.
A festa rolava ao som de um ritmo eufórico e luzes que circulavam todo o local: era mais que o suficiente para fazer PH perder a paciência. O homem ignora os chamados e sobe as escadas até o segundo andar da construção, onde acontecia tudo o que as pessoas da cidade de Ilhéus não poderiam saber. É lá onde se escolhe o seu destino, que quase sempre é o próprio Inferno: primeira porta à direita, maconha; primeira porta à esquerda, cocaína; segunda porta à direita, LSD. Seguindo em frente, um outro corredor com mais quartos: quartos especiais. Apenas clientes VIPs podem acessá-los, e PH é um deles.
—Aproveite a estadia, PH! — Uma voz diz, logo atrás do capitão. — Quarto 204.
Era o dono do Inferno, Andreas. O homem, de seus 40 e poucos anos, sustentava um bigode bem cuidado ao rosto e seus trajes sociais contrastavam com o restante das roupas vistas na festa.
—Obrigado, Andreas.
—Não tem porque. — Andreas encara PH por alguns instantes. — Não está feliz por ter ganhado?
—Estou sim... — PH engole em seco. — Só um pouco chateado com algumas coisas.
—Não precisa ficar chateado, você sabe, né?
—Sei sim...
Para Andreas, nada era mais importante do que a vitória da Atlética nos jogos: foi ele quem começou com a hegemonia da Gavião; sua obsessão em conseguir vitórias pelo time era tanta que chegou a repetir semestres algumas vezes apenas para prolongar sua estadia na equipe.
—Toma uma cerveja, vai te fazer bem.
Andreas era formado em engenharia, mas nunca chegou à exercer a profissão. Foi um dos sortudos que surfou na onda do Bitcoin ainda no início e hoje tem posse de centenas de moedas em sua carteira virtual. Vive delas e dos lucros que o Inferno, casa noturna mais popular da região, geram.
—Obrigado. Te vejo depois.
PH se distancia e segue em direção do quarto, abrindo a porta e revelando uma mulher de longos cabelos ruivos que o esperava deitada na cama: Helena. Com o corpo já nu, a mulher ostentava o tipo ideal de PH: sem pelos, peitos pequenos, bunda grande, coxas grossas e cintura definida.
—Você vem?
PH desliga as luzes e deixa apenas os LEDs coloridos acesos, caminha para dentro do quarto, encarando brevemente a vista pela janela e fechando-a logo em seguida. O rapaz volta o olhar em direção da mulher, tira o cinto e desabotoa os botões de sua camisa lentamente, sentando-se na cama ao lado da ruiva.
—Você vem. — O homem revela sua voz.
Levantando-se da cama e dando um toque macio nos lábios do rapaz com seu dedo, Helena se põe em frente de PH, revelando a diferença de altura entre os dois: a garota era quase da mesma altura que ele, mesmo sentado.
A ruiva empurra o homem sobre a cama e um prazer explosivo percorre e se espalha por todo o seu corpo: a sensação é ainda mais intensa ao se aproveitar da largura do peitoral do homem, espalmando duas mãos sobre ele, apoiando-se e sustentando o peso do próprio corpo enquanto ergue o quadril e abre as pernas ao máximo, envolvendo Paulo com um impacto bruto.
Senta no membro do rapaz, que geme intensamente com a entrada do mesmo no buraco apertado da garota; quase como um reflexo, a ruiva se curva para trás e aperta as coxas do homem para se apoiar, mas logo é relembrada e punida com um tapa no rosto: o estalo ecoa pelo quarto e o gemido do homem parece em sintonia com o som.
—Eu não deixei você me tocar.
Ela entende o recado e estende suas mãos para o alto, revelando seus seios rosados e cruzando os pulsos, dispondo-se às ordens do homem, que a observa atentamente.
—Sim, mestre.
Com essas duas palavras, PH troca a posição em que estavam rapidamente, deitando a ruiva sobre a cama e puxando seu quadril para cima, deixando-a rendida e de quatro para ele. A visão era uma das mais lindas que ele tinha conhecimento.
—Quem é a minha puta?
A voz do homem faz com que a garota estremeça. Poucas coisas faziam ela se sentir tão rendida quanto estava no momento. A sua olhada para trás e a encarada no rosto de Paulo já entregava a resposta, mas ainda assim, ela queria falar.
—Sou eu, só sua.
Paulo se curva e beija a polpa da bunda da garota: sua pele arrepiada denunciava para o homem o quanto estava excitada com tudo aquilo, e isso enchia ainda mais Paulo Henrique de vontade. Tudo é interrompido subitamente com uma ligação no celular do rapaz; na tela, “Seu Edmundo” era o responsável pela chamada.
Paulo pede desculpas e sai da cama, deixando a bunda espetacular de Helena de lado. Ele não faria isso em uma situação normal, mas receber as ligações do senhor de 65 anos o deixava mais do que preocupado.
—Boa noite, Edmundo.
—Cadê minha filha? — O homem estava visivelmente alterado.
—Desculpa?
—Onde está a minha filha? — Fala pausadamente.
—Não saí com ela hoje, Ed.
—Ela disse que iria sair contigo. — Pausa. — É a única possibilidade. Ela perdeu todos os amigos pra manter a relação de merda que vocês têm.
—Não saí com ela hoje. —Insiste, já emputecido.
—Olha, seu vagabundo do inferno, você é um namorado de merda! — O velho se engasga, tosse e retoma. — Fica longe da minha filha, verme psicopata!
—Você tá gagá, velho.
—Trate de trazer a Camila pra casa, seu merdinha!
PH desliga a chamada e logo tenta fazer uma ligação pra Camila: número bloqueado, nada que não seja do conhecimento de Paulo. Bloqueado do chip, WhatsApp, Instagram e de todas as outras redes sociais possíveis. O homem logo põe seu celular em modo avião: não queria receber mais uma vez os esporros de seu “sogro”.
—Desculpa, não vai rolar pra mim hoje.
O homem fita a ruiva deitada na cama enquanto pensa sobre onde Camila poderia ter se metido desta vez. Ele sabe bem que é do feitio da garota ficar horas perdida, sabe dos problemas da garota com as drogas, com a bebida e com a não aceitação do término do relacionamento entre os dois.
—Sem problemas... A Camila mais uma vez?
—Sim.
—Ela está bem ao menos?
—Não sei.
—Vocês separaram?
—Sim.
—Então ela não tá bem, você sabe como é minha irmã...
PH não tem mais vontade alguma de manter uma conversa com a ruiva. Com um “boa noite”, já saindo do quarto, ele se despede e segue pelo corredor, onde encontra com Andreas, que o para pra um papo.
—Dez minutos?
O homem era invasivo mas, ainda assim, não faz PH esboçar reação: já estava mais que acostumado.
—Não fizemos nada.
—Com uma gostosa dessas? Duvido. — Andreas dá um trago em seu cigarro. — Se eu pudesse contratar uma menina assim para ser garota de programa por aqui, eu estaria rico.
PH empurra Andreas sobre a parede, apertando o pescoço do homem com o antebraço e fazendo-o soltar toda a fumaça entalada no pulmão.
—A Heloísa não é puta.
—Fica de boa, de boa. — Andreas solta um sorriso amarelo. — Foi brincadeira.
PH solta o braço e segue seu caminho, mesmo com o olhar enfurecido de Andreas. O único motivo para que o dono do bar não expulsasse o capitão naquele mesmo momento era o fato dele ser o filho do prefeito, o governante que fazia com que o Inferno passasse livremente pelos serviços de regulamentação e vistoria da cidade.
—Ei, garoto.
Andreas chama a atenção de Paulo Henrique.
—Qual foi?
—Desculpa, pô. Não foi intenção.
—Relaxa.
—Te pago um drinque, beleza?
—Precisa não, valeu.
PH segue e desce as escadas: conseguiu sair mais puto do que quando havia chegado. A preocupação com Camila, a “amizade de merda” com André, o sexo interrompido com Heloísa, as baboseiras ditas por Edmundo e por Andreas: nada descia bem para Paulo, que, pela primeira vez em anos de vitória, quer ir embora antes das meia-noite do Inferno. O homem já estava na porta de saída quando percebe a movimentação estranha que se instaurava na casa noturna junto ao som do público espantado.
De repente, todas as luzes estavam acesas, a música havia parado e o público agora olhava aterrorizado para a pista de dança ao centro do local. Paulo Henrique caminha, curiosamente, até onde os olhares estavam fixados, empurrando e se esgueirando entre as pessoas para conseguir acesso o quanto antes. Quanto mais ele se aproximava, mais ele não queria acreditar: ao centro da pista de dança, banhada de sangue e com um olhar morto e desolado, o corpo de Camila.
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Misantropia
Mystère / ThrillerSexo, bebidas, drogas e sangue: Uma terrível e inesperada morte aterroriza uma cidade e alguns alunos de uma faculdade, anteriormente conhecida como 'a melhor da região', são os principais suspeitos do crime. Em uma história que alterna entre passad...