Poema 2: Uma negra não

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Quatro meses depois da compra do enxoval

O casal já residia no bairro da madalena, Recife capital

Carlos já tinha emprego antes da mudança, não vinha mal

Tinha sido recentemente até promovido, no trabalho era genial


Uns dias antes de nascer o bebê, Melba teve uma vontade

Era tão chato ficar em casa, pedir grana a Carlos na verdade

Época de convulsão social, as mulheres lutavam por liberdade

No mercado de trabalho, a casa ainda era a prioridade


Tinha olhado no Jornal, separando três firmas com bastante critério

Formada há uns dois anos, em magistério

Duas vagas para secretária e uma para professora do infantil

Marcou as entrevistas e foi com a fé, no final o de professora a serviu


Quando Carlos soube ficou indignado, foi um bate boca arretado

Mas Melba com seu jeito suave da lábia como guia, já tinha arquitetado

Colocando suavemente o casamento em Xeque, libertou o espírito antes encarcerado

Carlos não teve oque fazer, era aceitar ou se escafeder, engoliu a raiva assombrado


Melba começou a trabalhar, era um orgulho meio azedo

Todo dia de semana acordava sempre muito cedo

Preparar o café do marido, arrumar a casa, tudo levava muito tempo

Tinha que contratar uma babá, uma cuidadora, após nascer o mancebo


Depois da missa do domingo, Melba teve com Carlos

Falou o que precisava com medo, falando pelos cotovelos

Carlos de primeira achou um custo desnecessário

Não era ele que tinha todo esse cuidado ordinário


Antes de chegar em casa a bolsa de água estourou

Era a hora do mancebo nascer, foram direto para o hospital

Melba ainda ligou para a cuidadora, marcou a hora e local

Tudo aconteceu muito rápido, Carlinhos veio ao mundo patriarcal


 No quarto do hospital o casal esperava

Aguardando a cuidadora que não chegava

A porta do quarto abre, só deu pra ver a mão

Carlos com raiva falou: Uma negra não!   

O Homem EngessadoOnde histórias criam vida. Descubra agora