Êxtase

6. Monstros

Estou caída no chão, a luz repentina do sol faz meus olhos doerem. Meu coração está acelerado, meu corpo inteiro dói, principalmente minha cabeça, tento me mexer.

— Parada! — ordena o capitão da Guarnição que estava no comando, Kitz Weilman.

Não entendo o porquê dele pedir isso, mas obedeço, meus olhos começam a se acostumar com a luz.

— Eren? — chamo baixinho.

— Estou aqui — ele assegura, passando a mão nas minhas costas.

— Você está vendo alguma coisa? — pergunto apreensiva.

— Você não está enxergando? — dispara preocupado.

— Antes estava muito escuro, meu olhos ainda não se acostumaram com a claridade do dia — contextualizo.

— Oh Selene... — lamúria Juniper.

Ela estava atrás de mim?

— Estão tramando alguma coisa — escuto uma voz masculina dizer, não muito afastado da gente. — Querem nos matar, eu ouvi isso! — acusa.

— Pare de falar merda — xingou a loira.

Volto a ver normalmente, e meu deus, é muita informação pra digerir. Que porra tá acontecendo? Ao que parece, eu e Eren estamos prestes a ser executados.

Soldados em posição de ataque, formam uma meia lua à nossa volta. Keith está no meio deles, nos olhando com total aversão.

Atrás, Juniper está sendo segurada por Armin, Marco e Clover, ela se debate, tentando se soltar. Mikasa está ajoelhada ao lado de Eren, mas encara fixamente Kitz.

— O que vocês são? — indaga o capitão.

— Soldados do 103° esquadrão de recrutas, senhor — respondo.

Isso não era óbvio?

— Não brinque comigo, garota — repreende.

— Vocês são monstros! — exclama um soldado à minha direita.

Monstros?

Olho pra trás e busco os olhos castanhos de Marco, ele sempre tem as respostas para as minhas perguntas.

— Apenas responda as perguntas dele — aconselha, enquanto faz força pra segurar minha amiga. — Diga a verdade.

— Mas ela não sabe — protesta Armin.

— Eren — chamo em súplica.

Os dois me deixaram ainda mais confusa.

— Eu também não estou entendendo — resmunga. — Ninguém me diz nada.

Escuto um barulho de metal, tem a porra de um canhão apontado pra gente.

— Se nos atacarem — diz Kitz, quando vê que eu percebi o armamento. — Não iremos exitar em matar vocês! Então eu pergunto novamente. O que vocês são?

— Soldados! — afirmo em uníssono com Eren.

— Mentirosos.

— O que está acontecendo? — pergunto desesperada.

— Não se faça garota — enojou-se. — Todos viram vocês saindo de dentro daquele titã.

Eu e Eren trocamos olhares, dividimos o mesmo sentimento: ódio e confusão. Como poderiam falar isso?

— É verdade — lamenta Mikasa. — Vimos vocês saindo de dentro de um titã.

Meu mundo caiu...

“Duas opções.”

Diz uma voz em minha cabeça.

“Na primeira, você pega o DMT de Juniper, ela já o deixou frouxo na cintura para que você possa fazer isso, caso necessário, e então, pule para fora da muralha.

Na segunda, por falta de adrenalina, você vai sentir uma dor insuportável na cabeça e desmaiar.

As duas opções resultaram na mesma coisa.”

Que voz é essa? Ela não pertence a mim, não parece nem ser humana para falar a verdade. À minha volta, todos discutem e eu só consigo pensar no que me foi dito mentalmente.

“Pense rápido.”

Primeira ou segunda opção?

Estou tão cansada, não quero pensar no que seria esse resultado final irreversível, morte ou vitória, tanto faz.

Juniper consegue se soltar e começa a falar, Mikasa está de pé e brande as espadas, Clover faz o mesmo. Armin fala com o lado esquerdo dos soldados e Marco com o direito, Eren sacode meu corpo. Estou inexpressiva a alguns segundos, não escuto nada do que está acontecendo ao meu redor.

“Opção 2.”

“Boa escolha.”

Pisco meus olhos e volto a realidade.

— Se encostarem um dedo nela — ameaça Juniper. — Eu não vou responder por mim.

— Como ousa ameaçar um superior, cadete?! — troveja Kitz.

— Estou com ela — apoia Mikasa. — Quem quiser o Eren ou Selene, eu convido que dê um passo à frente.

— Pois há uma coisa em comum entre nós 3 — adiciona Clover. — A nossa especialidade em cortar carne.

— Atacar a distância é fácil, não se garantem no combate físico? — provoca a loira, assim que alguns soldados dão um passo para trás.

— June, isso não tá ajudando — argumenta Marco. — A imagem que eles tem, já não é boa e vocês só estão piorando...

— Tentem falar coisas boas — aconselha Armin nervoso — Não ameaças.

— Somos humanos! — grita Eren, como se aquilo fosse o suficiente para provar sua inocência.

— Que conseguem entrar em titãs e controlar eles como bem quiserem — ironiza Kitz.

— Não — digo, os olhares são direcionados a mim. — Realmente não fazíamos ideia, que conseguimos fazer isso...

Tento levantar, minhas pernas ficam bambas, mas antes de desabar no chão, Marco me segura.

— Peguei você.

— Não tente se levantar — avisa Eren. — Eu já tentei.

Meu coração retoma um ritmo normal, por algum motivo, o toque de meu irmão me deixou mais calma.

— Marco... eu não sei o que aconteceu. Eu não sou um monstro... eu juro...

— Eu sei, eu sei — ele me assegura docemente.

Minha adrenalina está baixa.

“Aguente.”

Começo a sentir uma dor imensa na cabeça, urro em agonia e todos se assustam.

— Selene?! — exclama meu irmão, desesperado.

— Ajudem ela! — implora Armin, que se ajoelhou ao meu lado.

Nada que a voz me dissesse me prepararia para esse sentimento, é realmente indescritível.

— Covardes — xinga Eren.

Sinto um líquido ferver em minha cabeça.

— Acalme-se — Juniper pede, assustada. — Por favor...

— Ajudem ela — repete Armin, gritando.

A dor é tão excruciante, que minha visão começa a ficar turva e as vozes distantes, mas continuo berrando.

— Aguente firme — cochicha Marco, os olhos cheios de lágrimas.

Kitz grita alguma coisa e no mesmo instante, duas explosões acontecem...

Minha visão fica preta e me pergunto instantâneamente, por que não escolhi a primeira opção!?