A ANSIEDADE ME ASSOMBRA A algum tempo. Anos, na verdade, mas acabei descobrindo recentemente. Primeiro veio a depressão profunda, lá em 2016. Por três anos fui sugado para um limiar obscuro e desconhecido. A vida, tão imprevisível, havia me nocauteado e me jogado lá. Fiquei perdido e demorei para me encontrar. Esse foi o período em que fui mais produtivo na escrita.
Escrevi dois livros em seis meses, e olhando em retrospecto, aquela era a maneira que eu havia encontrado de tentar fugir do mundo real, das obrigações que involuntariamente eu havia recebido. Sonho era e sempre foi mais importante que qualquer outra coisa. Essa foi a ilusão em que me esbaldei por meses. Queria a todo custo ser alguém conhecido, ganhar dinheiro fácil, não precisar trabalhar. Eu sentia que estava em dívida com o meu eu de quinze anos, e queria a todo custo burlar o sistema.
Acabei me autodestruindo, me sufocando em minhas próprias utopias. Negando a realidade em que eu me encontrava, fui colecionando traumas e mágoas. Os medos me dominaram facilmente, e acabei estacionando por tempo indeterminado.
Aceitei Jesus em 2018, o que foi decisivo. Eu tinha que me livrar do antigo eu para viver uma vida totalmente nova. Não foi tão fácil quanto achei que seria. Meu período de deserto durou três meses. Dependente dos benefícios de se viver na casa da mãe, ao a mesma ir embora, me senti totalmente desamparado e sem meio de sobrevivência. Ali, naquele momento, se iniciou uma das minhas maiores provações e o início do meu maior tormento: a ansiedade.
Lembro-me de sempre estar sentindo fome, uma fome visceral, sem tamanho. Estava vazio de racionalidade, ainda atrelado às correntes da arrogância. Não era soberba, Deus sabia das minhas intenções, mas eu estava me aproveitando da bondade alheia. Desde a minha conversão, em outubro de 2018, até março do ano seguinte, minha mente limitante me colocava no papel de vítima. A culpa era da sociedade, das regras impostas pelo capitalismo, da falta de dinheiro. O problema era externo, e nunca interno. O meu interior era podre. Me tornei uma pessoa indesejável e mesquinha. Falava coisas desnecessárias, sempre se achando no direito de me impor, de julgar, de apontar o dedo.
Sentia uma raiva extrema da vida. O tempo havia passado, e eu tinha a obrigação agir como um adulto.
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SOU VULNERÁVEL, COMO QUALQUER outro ser humano. Sou forte, pois aprendi a ser assim desde os meus onze anos, quando me tornei um alvo fácil: um pré-adolescente magro como um palito, com orelhas enormes. Chorava escondido, mas nunca na frente dos outros. Nunca falei sobre o bullying para os professores, guardei para mim todo o ataque gratuito. Nem minha mãe soube. O que eu era senão um campo de batalha ambulante, um sobrevivente lutando contra todos os medos e inseguranças?
Ousado, fui mais longe do que eu poderia ir. Cresci como ser humano, como pessoa. Eu tinha um defeito que me limitava, então fui privado das experiências que um adolescente normal fisicamente teve.
Aos quinze beijei uma garota em sala de aula, aos vinte e poucos perdi a virgindade. Aos doze senti a crueldade humana nos risos escarnecedores, aos dezoito descobri que aquilo não era nada perto do que viria pela frente. Com medo de ser ridicularizado, pedi a conta do meu primeiro emprego após um mês de experiência. Aos dezenove anos não sabia o que fazer com a vida que eu tinha. Me sentia um completo inútil.
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ENCONTREI MINHA ZONA DE CONFORTO na depressão. Nada mais valia a pena. Existia, somente. Passava dias enfurnado, dentro da minha concha, sem reação alguma. Fazia outras coisas, mas não encontrava um sentido para aquilo, porque eu sempre tinha que voltar para a minha realidade. Céus, como foi difícil.
Eu quem dificultava, quem atrasava o processo. Tentei canal no YouTube, um Instagram de autor recheado de posts sobre meus livros, uma página no Facebook para divulgar o meu trabalho. Como escritor, e não o de carteira assinada. Ser assalariado para quê? Eu era inteligente, não era justo para com todo o caminho que eu trilhara até ali.
As brigas eram constantes. Eu e minha avó não nos dávamos bem. Sempre a contestava. Se pensei em algum momento em suicídio? Claro que sim. Eu era um injustiçado, culpava minha mãe biológica por ter me dado a vida, culpava meu pai por ter me abandonado, e novamente culpava minha mãe por ter morrido de câncer no útero aos vinte e quatro anos; culpava Deus por ainda me manter vivo, por ter me deixado sobreviver quando ainda bebê com terríveis ataques epilépticos. Seria melhor se eu tivesse morrido nessa ou naquela circunstância, não seria um fardo para ninguém, muito menos para minha avó.
Nutria o ódio pela vida, pelas pessoas, pela sociedade.
Confesso, eu era na verdade uma pessoa amarga. Magoei muita gente durante todo o meu percurso até aqui. Ansiedade ou não, eu tinha um problema.
Eu havia me tornado um ansioso.
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Sobre Ansiedade: Desabafos de um Ansioso
Random"Este livro é um desabafo. Sofro com ansiedade. Mas ainda há esperança." Atualmente, a ansiedade tem sido a vilã da vida de muita gente. Eu sou um dos desafortunados, infelizmente. Mas sobrevivi a cada uma das crises, e me dispus a falar um pouco so...