II

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*Sem revisão.

Hoje não tem nada para levar ao Fórum.
Fiz meu trabalho no escritório e estava esperando o expediente acabar.
Talvez quando eu sair, se eu passar lá na porta da sorveteria eu vejo a menina.
Pensei nela durante todo o dia.
Se eu a encontrar vou falar com ela para não deixar o celular no bolso da mochila daquele jeito.
Isso é isca para os assaltantes.
Ainda mais ficar distraída daquele jeito.
Sorrio sozinho.
Confiro novamente as horas no relógio de pulso.

--Se quiser, pode ir embora, Léo. --levanto a cabeça ao ouvir a voz do Marcos. --Não vou precisar mais de você por hoje. --diz me olhando por cima do óculos.

--Tem certeza? Não tem problema eu sair um pouco mais cedo?

--Claro que não, Leonardo. Vai logo pra casa. Está de carro?

--Não. Hoje o carro está com a Bela.

--Vou falar com Luís para te dar um carro.

--Não. Não faça isso, Marcos. Estou juntando dinheiro para dar entrada.

--Você é muito diferente dos seus irmãos. Acho que você herdou a razão da Júlia e a persistência do Luís. --ele ri. --Não fica andando de ônibus tarde da noite. Pode ser perigoso. Vai de táxi ou pede carona a sua irmã.

--Pode deixar. Eu vou de táxi.

--Tudo bem. Até amanhã.

Saio do escritório e vou até a sorveteria. Fico um tempo parado na porta, mas não vejo a menina do telefone celular.

Hoje eu não tive sorte.
Talvez amanhã eu a encontre.

Desanimado, caminho pela calçada indo em direção ao ponto de ônibus.
Nesse momento meu celular toca.
É minha mãe.

--Filho? Está no escritório?

--Não, mãe. Já saí.

--Onde você está, Léo? Estamos de carro e viemos te dar uma carona.

--Estou perto do fórum.

--Espera aí. Estou indo te buscar.

Paro na calçada e espero minha mãe.
Com menos de cinco minutos vejo o carro parando perto de mim.
Minha mãe está no volante e meu pai ao seu lado.
Os dois sorriem ao me ver.

--Vocês estavam passeando? --pergunto ao entrar no carro.

--Sim. Seu pai quis ir ao shopping comprar algumas coisas pra ele. Aí passamos para te buscar.

--Obrigado.

Volto pra casa na companhia dos meus pais, sem conseguir ver a menina do celular.

No dia seguinte também não tinha nada para levar ao Fórum.
Apenas fui ao banco no início da tarde.

Acho que não vou mais conseguir ver a menina.
Penso desanimado.
Será que o Marcos acharia ruim se eu pedisse para sair trinta minutos antes do meu horário?
É a única alternativa.

Vou até a sala dele.

--Entra, Léo. --diz assim que me vê.

--Eu estou precisando sair hoje, meia hora mais cedo. Amanhã eu pago esses minutos.

--Não precisa disso, menino. Pode ir. Eu acho que às vezes você se esquece que também é dono desse escritório. --comenta rindo.

--Eu não. O Cadu que vai ficar com a parte que cabe ao meu pai.

--E por que você também não pode ficar? Hoje quem está trabalhando aqui é você. Quem conhece melhor esse escritório é você e não o Cadu.

--Pode ser. Mas eu ainda não decidi que carreira seguir.

--Você vai longe, Léo. Você é um garoto brilhante e humilde. Tenho certeza que vai alcançar todos os seus objetivos.

Na verdade, meu único objetivo no momento é encontrar a menina do celular.
O Marcos me libera e eu corro para a porta da sorveteria.
Sinto um frio na barriga ao vê-la de longe.

De novo, ela está tomando sorvete.
E dessa vez sentada na mesinha dentro da sorveteria.

Penso várias frases para dizer a ela.
Porém, todas fogem quando me aproximo e ela sorri ao me ver.

--Oi.

--Oi. --ela acena com uma mão.

--É..

--Obrigada por aquele dia... com o celular.

--Ahh. Por nada.

--Aceita sorvete? --estende o potinho e ajeita o óculos no rosto.

--Não. Obrigado.

Quando termino de falar, me arrependo.
Essa era a oportunidade de sentar ao lado dela.

--É... é de quê?

Ela me olha sem entender e mexe novamente no óculos.
Acredito que deve ser um tique nervoso, involuntário.
Sorrio.

--O sabor do sorvete?

Ela ri e relaxa na cadeira.
Tenho que confessar, a menina tem um sorriso lindo.

--É de framboesa.

Eu não esperava que fosse esse sabor.
É peculiar.
Ela olha no relógio e fica de pé.

--Eu tenho que ir. Obrigada mais uma vez. --diz e olha em volta procurando alguém.

--Por nada. Amanhã você estará aqui?

Ela me olha com espanto.

--Não. Só depois de amanhã. Tchau.

Ela me dá as costas e antes que se distancie mais, eu a chamo.
Não posso perder essa oportunidade.

--Moça? Qual o seu nome?

--Rafaela. --diz se virando e sorrindo. --E o seu?

--Leonardo.

Ela acena rápido com a mão e depois volta a ficar séria, cruzando os braços.

Um carro com vidros escuros se aproxima e ela entra, sem olhar para trás.

Fico olhando o veículo se afastar.
Não posso reclamar.
Pelo menos, agora eu sei que ela é a Rafaela e gosta de sorvete de framboesa. E que posso vê-la depois de amanhã.
Vou para o ponto de ônibus sorrindo.

Ele apareceu.
Leonardo.
Meu salvador.
Se não fosse por ele, hoje eu estaria sem o meu celular e com meu pai totalmente estressado na minha cola.
Papai não pode nem sonhar que fui assaltada na rua do cursinho de inglês.
Ele é capaz de me proibir de andar sozinha.
Na verdade eu nem ando sozinha.
Ele sempre me leva e busca em todos os lugares.
Quando não é ele, é a Alice.
Tenho que tirar habilitação logo.
Penso.

À noite, na minha cama, procuro nas redes sociais o Leonardo.
Parece loucura, porque a única coisa que sei dele é o nome.
Digito o nome e seleciono a minha cidade.
--Droga!
Há no mínimo mil Leonardo na internet. Como diz mamãe "é como encontrar uma agulha no palheiro".
Desisto.
A única solução é esperar até depois de amanhã para ver o meu herói.
Sorrio abraçada com o celular.

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⏰ Última atualização: Apr 25, 2022 ⏰

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