*Sem revisão.
Hoje não tem nada para levar ao Fórum.
Fiz meu trabalho no escritório e estava esperando o expediente acabar.
Talvez quando eu sair, se eu passar lá na porta da sorveteria eu vejo a menina.
Pensei nela durante todo o dia.
Se eu a encontrar vou falar com ela para não deixar o celular no bolso da mochila daquele jeito.
Isso é isca para os assaltantes.
Ainda mais ficar distraída daquele jeito.
Sorrio sozinho.
Confiro novamente as horas no relógio de pulso.--Se quiser, pode ir embora, Léo. --levanto a cabeça ao ouvir a voz do Marcos. --Não vou precisar mais de você por hoje. --diz me olhando por cima do óculos.
--Tem certeza? Não tem problema eu sair um pouco mais cedo?
--Claro que não, Leonardo. Vai logo pra casa. Está de carro?
--Não. Hoje o carro está com a Bela.
--Vou falar com Luís para te dar um carro.
--Não. Não faça isso, Marcos. Estou juntando dinheiro para dar entrada.
--Você é muito diferente dos seus irmãos. Acho que você herdou a razão da Júlia e a persistência do Luís. --ele ri. --Não fica andando de ônibus tarde da noite. Pode ser perigoso. Vai de táxi ou pede carona a sua irmã.
--Pode deixar. Eu vou de táxi.
--Tudo bem. Até amanhã.
Saio do escritório e vou até a sorveteria. Fico um tempo parado na porta, mas não vejo a menina do telefone celular.
Hoje eu não tive sorte.
Talvez amanhã eu a encontre.Desanimado, caminho pela calçada indo em direção ao ponto de ônibus.
Nesse momento meu celular toca.
É minha mãe.--Filho? Está no escritório?
--Não, mãe. Já saí.
--Onde você está, Léo? Estamos de carro e viemos te dar uma carona.
--Estou perto do fórum.
--Espera aí. Estou indo te buscar.
Paro na calçada e espero minha mãe.
Com menos de cinco minutos vejo o carro parando perto de mim.
Minha mãe está no volante e meu pai ao seu lado.
Os dois sorriem ao me ver.--Vocês estavam passeando? --pergunto ao entrar no carro.
--Sim. Seu pai quis ir ao shopping comprar algumas coisas pra ele. Aí passamos para te buscar.
--Obrigado.
Volto pra casa na companhia dos meus pais, sem conseguir ver a menina do celular.
No dia seguinte também não tinha nada para levar ao Fórum.
Apenas fui ao banco no início da tarde.Acho que não vou mais conseguir ver a menina.
Penso desanimado.
Será que o Marcos acharia ruim se eu pedisse para sair trinta minutos antes do meu horário?
É a única alternativa.Vou até a sala dele.
--Entra, Léo. --diz assim que me vê.
--Eu estou precisando sair hoje, meia hora mais cedo. Amanhã eu pago esses minutos.
--Não precisa disso, menino. Pode ir. Eu acho que às vezes você se esquece que também é dono desse escritório. --comenta rindo.
--Eu não. O Cadu que vai ficar com a parte que cabe ao meu pai.
--E por que você também não pode ficar? Hoje quem está trabalhando aqui é você. Quem conhece melhor esse escritório é você e não o Cadu.
--Pode ser. Mas eu ainda não decidi que carreira seguir.
--Você vai longe, Léo. Você é um garoto brilhante e humilde. Tenho certeza que vai alcançar todos os seus objetivos.
Na verdade, meu único objetivo no momento é encontrar a menina do celular.
O Marcos me libera e eu corro para a porta da sorveteria.
Sinto um frio na barriga ao vê-la de longe.De novo, ela está tomando sorvete.
E dessa vez sentada na mesinha dentro da sorveteria.Penso várias frases para dizer a ela.
Porém, todas fogem quando me aproximo e ela sorri ao me ver.--Oi.
--Oi. --ela acena com uma mão.
--É..
--Obrigada por aquele dia... com o celular.
--Ahh. Por nada.
--Aceita sorvete? --estende o potinho e ajeita o óculos no rosto.
--Não. Obrigado.
Quando termino de falar, me arrependo.
Essa era a oportunidade de sentar ao lado dela.--É... é de quê?
Ela me olha sem entender e mexe novamente no óculos.
Acredito que deve ser um tique nervoso, involuntário.
Sorrio.--O sabor do sorvete?
Ela ri e relaxa na cadeira.
Tenho que confessar, a menina tem um sorriso lindo.--É de framboesa.
Eu não esperava que fosse esse sabor.
É peculiar.
Ela olha no relógio e fica de pé.--Eu tenho que ir. Obrigada mais uma vez. --diz e olha em volta procurando alguém.
--Por nada. Amanhã você estará aqui?
Ela me olha com espanto.
--Não. Só depois de amanhã. Tchau.
Ela me dá as costas e antes que se distancie mais, eu a chamo.
Não posso perder essa oportunidade.--Moça? Qual o seu nome?
--Rafaela. --diz se virando e sorrindo. --E o seu?
--Leonardo.
Ela acena rápido com a mão e depois volta a ficar séria, cruzando os braços.
Um carro com vidros escuros se aproxima e ela entra, sem olhar para trás.
Fico olhando o veículo se afastar.
Não posso reclamar.
Pelo menos, agora eu sei que ela é a Rafaela e gosta de sorvete de framboesa. E que posso vê-la depois de amanhã.
Vou para o ponto de ônibus sorrindo.Ele apareceu.
Leonardo.
Meu salvador.
Se não fosse por ele, hoje eu estaria sem o meu celular e com meu pai totalmente estressado na minha cola.
Papai não pode nem sonhar que fui assaltada na rua do cursinho de inglês.
Ele é capaz de me proibir de andar sozinha.
Na verdade eu nem ando sozinha.
Ele sempre me leva e busca em todos os lugares.
Quando não é ele, é a Alice.
Tenho que tirar habilitação logo.
Penso.À noite, na minha cama, procuro nas redes sociais o Leonardo.
Parece loucura, porque a única coisa que sei dele é o nome.
Digito o nome e seleciono a minha cidade.
--Droga!
Há no mínimo mil Leonardo na internet. Como diz mamãe "é como encontrar uma agulha no palheiro".
Desisto.
A única solução é esperar até depois de amanhã para ver o meu herói.
Sorrio abraçada com o celular.