1 - Prisioneira

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"Se for pra desistir, desista de ser fraco".



Sarah Carolline Vieira de Andrade, detenta da penitenciária Arthur Kill e verdadeira bad Girl, sorriu ironicamente para o guarda que ao longo dos últimos dez minutos lhe perguntava qual era o seu número de interno. Dizer que o comportamento insolente e a expressão divertida de Sarah deixavam o homem gordo e careca agitado seria eufemismo. O cara estava quase espumando pela boca. Era sexta-feira e já fazia cinco minutos que o guarda havia batido o ponto de saída. Mais um motivo para Sarah ser uma babaca folgada.

O guarda passou a mão impaciente pela nuca roliça e seus olhos cansados se estreitaram.

- Escute aqui - disse ele em um tom baixo e ameaçador, que sem dúvida funcionava como uma faca na garganta dos outros detentos - É muito simples. Você me dá o seu número. Eu coloco neste formulário que tenho que preencher para o seu conselheiro aqui na penitenciária e aí posso ir para casa.

Sarah ergueu uma sobrancelha, desafiadora, e ficou olhando para aquele panaca atarracado. Sem se amedrontar, o guarda se recostou na cadeira giratória.

- Você não me dá o seu número e minha mulher fica furiosa. Ela fica furiosa e eu vou ter que explicar que uma delinquentezinha metida me fez ficar esperando. Aí ela vai ficar mais furiosa ainda, berrando que o dinheiro dos nossos impostos é que garante três refeições diárias e macacões para perdedoras como você - ele se sentou mais para a frente - Então, última vez. Número.

Sarah olhou com indiferença para o punho do guarda segurando o cassetete acoplado ao cinto e deu um suspiro longo e entediado. Qualquer outro dia, ela estaria pronta para fazer aquele idiota perder a cabeça, ela seria espancada com um sorriso no rosto. Mas, hoje, ela não estava no clima.

- 081056 - respondeu Sarah friamente, incapaz de resistir em dar uma piscadela no final.

Com uma carranca raivosa, o guarda anotou o número no formulário, aí rodou a cadeira até uma assistente administrativa jovem e loira e lhe entregou o papel. Aquele gordo arrogante era preguiçoso demais para levantar e dar seis passos.

Sarah esperou enquanto a loira digitava o número que praticamente tinha se tornado seu nome adotivo nos últimos dezenove meses. Ela sabia quais acusações apareceriam no monitor: arrombamento de carro, porte de arma, posse de drogas, conduta desordeira e embriaguez, só para citar algumas. Ao contrário do que pensavam, ela não se orgulhava da lista de crimes e delitos que podia encher duas telas inteiras. Mesmo assim, aquilo dava a ela um senso de identidade, algo que procurara desinteressadamente por quase todos os seus 27 anos de vida. Ela ainda estava à procura e, até que encontrasse aquela coisa, a lista era tudo o que ela tinha...

Com um movimento rápido, a hispânica esfregou a mão nos cabelos Loiros. Estava cansada de pensar naquilo. O barulho do papel sendo rasgado numa antiga impressora a trouxe de volta à Terra.

- Bom, Sra. Andrade - o guarda suspirou - Parece que sua estadia conosco vai se estender por mais dezessete meses. Por ser pega com cocaína.

- Não era minha - disse ela secamente.

O guarda a fitou com uma expressão nada sincera de compaixão antes de sorrir.

- Que peninha.

Sarah não respondeu, ciente de que, dali a poucas semanas, entraria com o pedido de liberdade condicional, e pegou logo o formulário. Ladeada por outro guarda de cara fechada, Sarah passou pela mesa e atravessou um corredor longo e estreito em direção a uma porta branca, que ela abriu com um tapa barulhento.

O recinto era claustrofóbico e árido e fedia a confissões. Apesar das muitas horas que ela tinha passado naquele lugar desolador, ainda sentia o pulso acelerar e as mãos suarem. Com as costas eretas e os ombros firmes, ela andou em direção à mesa de madeira barata onde um homem sorria enquanto Sarah se aproximava.

Desejo Proibido - SarietteOnde histórias criam vida. Descubra agora