"Insista, persista e nunca desista".
Na manhã seguinte, Juliette entrou em seu carro, estacionado do lado de fora do seu prédio no SoHo. Os pesadelos sempre a deixavam triste e tensa, pensando em porque diabos tinha aceitado um emprego para dar aulas em uma prisão.
Quando começara a dar essas aulas, havia pouco mais de um mês, os pesadelos foram voltando e os conflitos com sua mãe aumentaram. O relacionamento delas sempre teve altos e baixos, mas, quando Juliette ligou para contar que ia trabalhar em Arthur Kill, a discussão que se seguiu foi a mais terrível que já tiveram. Fátima Freire era uma mulher complicada e teimosa e jamais entenderia a necessidade de Juliette aceitar aquele emprego.
A garota compreendia as preocupações da mãe e de alguns amigos. Apesar de não haver assassinos entre os que estavam lá, os crimes cometidos por eles eram bastante preocupantes: vandalismo, roubo de carro, uso e posse de drogas. Contudo, tinha certeza de que era isso que queria fazer. Porque, lá no fundo, uma promessa feita ao pai ecoava em sua alma. Uma promessa que tinha estado lá desde que seu pai morrera. Estava lá no dia em que ela terminara o ensino médio e no dia da formatura da faculdade de Literatura Inglesa. Dar aulas era o que Juliette queria fazer desde criança, e ela havia amado cada segundo.
Ela tivera a sorte de viajar para Londres e para a China, lecionando em escolas particulares que a fizeram se apaixonar ainda mais pela profissão. Fez amigos, vivenciou outras culturas e construiu relacionamentos enriquecedores que nunca acabariam. Apesar disso, no fundo ela sabia que trabalhar em escolas que lhe pagavam 50 mil por ano não significava cumprir a promessa que tinha feito.
Crianças talentosas e empenhadas não eram exatamente aquelas que ela deveria ajudar.
- Nós temos que retribuir, Juliette - dissera seu pai na noite em que morreu.
Ela havia considerado trabalhar em uma escola no centro histórico da cidade, mas essa opção também não aliviara o sentimento de dever. Trabalhar em um presídio, sim. Precisava ficar perto de seus temores, perto de homens e mulheres que não se importavam muito em burlar a lei, em virar a vida das outras pessoas de cabeça para baixo sem nunca considerar as consequências. Precisava se aproximar para entender o que tornava uma pessoa capaz de tal comportamento. Ela odiava o próprio medo, odiava a raiz dele e sabia que tinha que encará-lo, mesmo estando apavorada.
Sua terapeuta tinha ficado bastante preocupada com a decisão e perguntava constantemente se Juliette estava feliz com a escolha, se achava que aquilo era mesmo o certo a fazer e porquê. Chegara a usar as preocupações de sua mãe para tentar dissuadi-la. Mas aquela era uma escolha de Juliette e de mais ninguém. E uma vez que a decisão foi tomada, não havia volta. O que quer que acontecesse, o que quer que sua mãe dissesse, ela arcaria com as consequências, pois sabia o que aquilo significaria para seu pai.
O prédio da Arthur Kill, em Staten Island, parecia ter saído diretamente de um episódio da série Prison Break. Guardas com cães enormes e raivosos patrulhavam torres de observação altas protegidas por cruéis cercas de arame farpado.
Juliette foi até aos portões do estacionamento e esperou pelo policial que estava de serviço. Depois de pegar a identidade dela, ele desapareceu na sala de controle e logo retornou, direcionando-a para o edifício sombrio onde ela trabalhava. Após estacionar, Juliette deu uma olhada para a esquerda e viu um grupo grande de detentos jogando basquete atrás de uma cerca enorme de metal. Com os macacões verdes amarrados na cintura, seus peitos cobertos de suor brilhavam sob o sol quente do verão. A caminhada do carro até o edifício parecia de quilômetros, ainda mais ao som dos assobios e as cantadas que vinham da quadra de basquete.
Ela apressou o passo e agarrou a maçaneta da porta gigantesca como se fosse uma tábua de salvação. Lá dentro, foi recepcionada por um risinho baixo. Juliette ergueu os olhos e viu Rodolffo Matthaus, o narcisista diretor da penitenciária.
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Desejo Proibido - Sariette
RomanceJuliette Freire Feitosa nasceu em berço de ouro. Filha e neta de senadores, a bela morena de olhos castanhos e curvas perfeitas se formou em Literatura e surpreendeu todos ao decidir dar aulas em uma penitenciária. Mas quando Sarah Carolline Vieira...