3. Arthur

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Estava vagamente consciente da música ao redor, o movimento do carro e as ruas já bem conhecidas, mas não estava focado nisso. Só conseguia pensar no quão Manuela parecia estranha desde que saiu do meu apartamento. Minhas mensagens quase não eram respondidas e quando finalmente tínhamos um assunto, logo ela precisava sair.

Não parecia nem um pouco com ela...

Arthur, can you hear me? — minha mãe perguntou cutucando minha cabeça.

— Sim, estou ouvindo você, mãe — resmunguei afastando sua mão gentilmente.

— Não parece — reclamou. — Onde está com a cabeça?

— Só estava pensando.

— Hm.

— Você não acha que Manu está estranha esses dias?

— Isso porque você quase a carregou da casa dela para que dormisse na nossa? — riu.

Sim, noite passada levantei da cama e sai do quarto pronto para ir até o apartamento de Manuela. Acontece que meu pai e minha mãe se juntaram para me manter em casa.

— Preciso apenas saber o que está acontecendo, mãe.

Ela suspirou ao meu lado.

— Já conversamos sobre isso, querido.

Tivemos uma pequena discussão sobre como o fato de Manuela ser minha amiga há anos não queria dizer que ela tinha que estar sempre ao meu lado.

Suspirei e olhei para a janela do carro, percebendo que já estávamos em frente a escola. Peguei a mão da minha mãe, depositei um beijo ali e abri a porta para sair.

— Boa aula, querido — mamãe soprou um beijo e me afastei do carro.

Meu pai e minha mãe não entendiam. Sempre fomos eu e Manuela contra o mundo, desde nossos seis anos de idade. Nos dias frios eu cuidava para que não ficasse resfriada e nos dias quentes ela cuidava para que eu não me sentisse mal com a temperatura brasileira elevada. Eu aprendi a prender seus cabelos sempre longos e me esforcei para entender tudo de matemática para que pudesse diminuir sua dificuldade com essa disciplina. Manuela aprendeu a ler meu coração sem nem precisar olhar em meus olhos, aprendeu a colar todos os meus pedaços em todas as vezes que fui ferido.

Manuela pegou a toalha pendurada no meu ombro direto, colocou sobre minha cabeça para secar os cabelos ainda pingando por causa do banho. A única coisa que via era seus pés descalços com dedos pequenininhos e gordinhos.

— Príncipe, vai passar — sussurrou.

— Você não sabe disso — resmungo desanimado. — Será que nunca vou encontrar ninguém que me ame para sempre?

Ela parou de secar o cabelo e se sentou ao meu lado na cama, com a toalha sobre as pernas. Tocou meus fios suavemente, arrumando-os.

— I love you, Prince — murmurou em minha língua materna, o que me fez olhá-la. Seu olhar me passou a maior certeza da qual eu precisava. — Vou aprender todas as línguas do mundo para dizer isso a você, se ainda não tiver entendido.

Abri um pequeno sorriso.

— E vai me amar para sempre?

— Vou — sussurrou e abaixou a cabeça. — Não sei por que você acha que é fácil deixar de amar você uma vez que aprendemos a fazê-lo.

Manuela deitou na cama, olhando para o teto.

— Vai ter que prometer — digo deitando também e fazendo-a me olhar. — Precisa prometer que vai ser para sempre. Você não pode deixar de me amar, entendeu?

Quatro segundos para sempreWhere stories live. Discover now